Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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30 de dez. de 2008

ANO NOVO


Realmente não tenho nenhum assunto pra abordar... Taí o fim do ano, e pra mim 2008 decorreu sem maiores assombros, tampouco sem as afamadas e decantadas realizações. Todos se esfalfam, se arvoram, se debatem & descabelam-se atrás de cumprir as tão precisoas realizações, mas chegar ao fim demais um ano vivo é uma tremenda realização. Ter um chinelo pra por sob os pés, uma roupa qualquer pra vestir, algo pra enganar a fome. Ter amigos é maravilhoso.

Ter acesso a internet, imagina isso é um luxo - ter amor seria a glória, porém não posso abusar da sorte exigindo muito.

Enfim tô aqui torcendo muito pra que tudo se realize no ano que vai nascer - seja o que for. Torcendo pra ter paciência, saco, pertinácia - êta palavra esquisita, vem do latim: teimosia. E tal defeito ou qualidade, depende da circunstância e ponto de vista, claro, tenho de sobra.

Desejo pra todos um pouco de teimosia aliada a uma dose generosa de saúde & sorte. Ah! Não falei em dinheiro. Pra quê falar em dinheiro? Justo quando não tenho o desgraçado.

29 de dez. de 2008

Camarão é a mãe!


" Assassinaram o camarão..." Cantava o grupo Os Originais do Samba. E entre os seus integrantes estava o saudoso - esse sim engraçado, trapalhão Mussum. Pois não é que para minha surpresa, desde a aquisição de meu novo celular tenho recebido chamadas de pessoas desconhecidas perguntando por um tal camarão.

- Alô! É o camarão? Perguntam.

- Aqui não tem nenhum crustáceo.Respondo.

- Alô camarão. Insiste um outro. Ea réplica desejada por mim não sai. Afinal não serei gratuitamente ofensivo com alguém a troco de engano. Só respondo:

- Liga pro nordeste. Criação intensiva é lá.

Contudo, mesmo em se tratando de uma turma polida essa dos crustáceos, equinodermos e moluscos todos amigos e parentes desse um tal camarão, são impertinentes. Não abandonam os modos ruins, os vícios da má educação pelos quais os brasileiros sõa famosos mundo afora. Ligam para meu celular e têm a desfaçatez deperguntar:

- Quem fala?

Ora pelotas! Se não sabe para quem ligou por que efetuou a chamada? Se não tem certeza então pergunte demaneira educada:

- Este é o número de cicrano?

Mas, coincidência ou não meu apelido de escola era tubarão. Por conta de eu ser torcedor do Colorado e haver no Grêmio um centro avante meu xará, Alexandre Tubarão. As coincidências param por aí. Entre eu e esse camarão requisitado há um oceano (se permitem o trocadilho) e meio de distância. Afinal o camarão é um crustáceo pertencente à ordem dos decápodes podendo habitar águas doces ou salgadas. Já o Tubarão trata-se de um peixe aparentado das arraias, e, no caso do "Carchanodon Carcharias" (tubarão branco) na ilustração, se encontra no topo da cadeia alimentar oceânica. Embora, frequentemente as orcas não respeitem essa hierarquia, e tenham por mau hábito caça-los.

E pra finalizar essa arenga toda: Camarão é a mãe!

NARIZ DE CÊRA NÃO CHEIRA


"NA BOSTA ALI DA CABRITA"... Assim grunhe a analfabeta Totonha, personagem do conto homônimo. Do livro Contos Negreiros de meu amigo Marcelino Freire. Na bosta ali da cabrita vivem milhares, milhões de brasileiros, amargando dia após dia uma desesperança sem graça nenhuma, senhoras e senhores. Sem nenhuma graça. Senhoras e senhores filhos da puta!

Senhoras e senhores biliardários - podres de ricos. Seria preciso um milhão de reencarnações para que pagassem seus crimes de lesa povo, lesa pátria, lesa humanidade. Essas atrocidades vituperinas cometidas cotidianamente por vocês que de uma hora para outra resolveram dar o calote no sistema financeiro, e, para o horror de um mundo apostador fiel no capitalismo, tiveram de se socorrer nos estados. Dinheiro público para salvar a burguesia gorda. A burguesia esperneante, vociferante, tonitruante contra os "COMUNISTAS". Houve de se socorrer do estado. Ato declaradamente comunista - estado pai de todos. Estado provedor... Nós, enquanto não tivermos poder de fogo não teremos poder de barganha. Nisso, e apenas nisso concordo com Hugo Chávez, o companheiro do Kiko equatorenho e do seu madruga paraguaio, enquanto a Chiquinha brinca de governar a Argentina. Enquanto não tivermos poder de fogo não teremos voz, nem vez. Poderão entrar e levar as riquezas que quiserem. Poderão internacionalir a Amazônia, o Samba, Pelé, o Churrasco, o Acarajé, o Baticum prugurundum e o skindô. E não poderemos fazer nada senão continuar ali. Nariz enfiado na bosta da cabrita... Bééééééééééé!

26 de dez. de 2008


Tudo bem. Passou. O Natal passou. Passamos, melhor dizendo. Não de todo incólumes. Não de todo "passamos bem". Porque gente morre por besteira, gente morre por nada, gente morre. Não seria melhor morrer por uma causa - ao menos não seria louvável viver por uma causa? Não seria lógico haver cooperação mútua entre os "entes humanos"? Não seria lógico haver ajuda entre os da mesma espécie? Que merda de modelo social é esse? Que josta de sociedade é essa classificando os indivíduos e grupos humanos conforme parâmetros subjetivos e loucos? Que raio de mundo de merda é esse constituído no arcaísmo - no primitivo, de classes sociais dominantes, e outras subservientes?

Por muito tempo - e isso desde menino, pensei que o mundo não havia saído jamais da idade média. Haveriam reis, nobres e potentados dos quais todos nós éramos vassalos. Não clientes, mas vassalos sem direito a voz nem voto. Sem direito a nada senão cumprir as tarefas, atingir as cotas de produção, pagar impostos e ceder aos desejos de nossos suseranos. Inclusive à "prima nocte", ocasião na qual evocando não sei que direito o senhor das terras e das vidas de seus servos escolhe dentre nossas filhas núbeis a virgem com a qual irá deitar-se.

25 de dez. de 2008

ENTÃO É NATAL





ENTÃO É NATAL! PÔXA, EU NEM HAVIA PERCEBIDO. SÃO TANTOS OS RECLAMES PUBLICITÁRIOS - TANTA APELAÇÃO AO CONSUMO. SÓ SE FALA EM PAPAI NOEL, NOS PRESENTES E NA CEIA DE NATAL. MAS, TENHO CÁ MINHAS DÚVIDAS SE O ANIVERSARIANTE POUCO CITADO, CUJA VIDA SE PAUTOU POR OBJETIVOS "LIGEIRAMENTE" MAIS IMPORTANTES APROVARIA ESSE DESENFREIO. CREIO QUE NÃO.
DESEJO QUE AS PESSOAS, NESTE E NOUTROS NATAIS, OLHEM MENOS PARA O SUPÉRFLUO E VALORIZEM MAIS A VIDA. IMPORTANDO-SE COM A SITUAÇÃO DO PRÓXIMO.
NÃO SOU RELIGIOSO, PORÉM NÃO SOU CEGO, TAMPOUCO INDIFERENTE A ESTE MUNDO DESVIRTUADO DO SENTIDO REAL DAS COISAS.


















23 de dez. de 2008

Pleonasmos e barafundangas


"- O sol amanheceu bem quente!" Afirmou categórica a repórter do SBT com seu rosto quadrilátero ameaçando obstaculizar parasempre a pequena tela de meu modesto televisor. Em dúvida sobre ater-me ao estrabismo da moçoila ou negacear esboço eqüino de sorriso ensaiado precisamente ás 6hrs36m de uma manhã de quarta-feira. Pasmado descobri uma nova muitíssimo interessante:

O sol, astro rei, uma estrela amarela de dimensões nada incomuns, classificado quanto a idade como um balzaqueano saudável, transigindo o verbo: Amanhece quente. Ou seja, no período noturno, além da impossibilidade do sol amanhecer ele é mais fresquinho.

Esse é só um exemplo do desserviço prestado por inúmeros comunicadores ao maltratarem a língua portuguesa sem dó.

Em protesto, a foto ilustrativa deste opúsculo retrata o sol poente!

22 de dez. de 2008

Herói Nacional - parte I


"Ai! Que preguiça." Exclamava o único e legítimo herói nacional. Nascido preto, mas tornado branco voluntário ao entrar no jorro duma fonte mágica, lá, na beira dos cafundós do Mato Dentro, ou seria Mato Fulano - sei lá. Tudo isso é mesmo saído do imaginário cafuzo popular, bem peneirado na joeira fina da mente poderosa e criativa de um monstro das sabenças litero-músico-folclórico-brasílico-paulistanas. O arlequinal rapsôdo modernista, estudioso incansável das artes e escritor Mário de Andrade. Mário descreveu o nascimento hilário do curumim cafuzo Macunaíma expelido do ventre masculino (pois é isso- nasceu de mãe velha e masculina) da índia Tapanhumas, enquanto ela nem aí ó, tratava duma lida qualquer - moqueava um naco de jacú no fogo, e isso da índia ter se ocupado do moquém é invencionice descarada minha.
Contudo Macunaíma foi ás telas de cinema dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Uma das raras produções nacionais dignas de nota naqueles anos de chumbo - 1969. O diretorJoaquim Pedro, em que pese a dificuldade de se adaptar ao cinema uma obra cuja linguagem é quase experimental, conseguiu a façanha de capturar a aura mítica das personagens de Mário, ajudado claro, por um elenco primoroso com atuação estupenda. Capaz de dar vida à rapsódia burlesca do gênio arlequim da Paulicéia Desvairada.
Escrita por um poeta do quilate de Mário a "rapsódia", como ele costumava chamar seu livro, oscila entre o lírico e o misticismo pagão, com nesgas panfletárias contra a era Vargas - de quem Mário era desafeto simpático (se é que tal coisa seja possível - e em se tratando de Mário provável que sim). Tudo muito bem aproveitado na adaptação do roteiro para os nefandos dias quando Costa e Silva era presidente da República.
O ator riograndense Paulo José encarnou Macunaíma, mocetão, já branqueado pelo jorro da fonte. Grande Otelo que fora a criança cariboca, curumim esperto, malicioso que gostava de bulir nas partes da cunhada Sofará - Joana Fonn. Afeito à preguiça, e aos brinquedos de "se rir" com as cunhãs. Bulia sempre com as mulheres que Jiguê seu irmão, interpretado por Milton Gonçalves, arranjava.

20 de dez. de 2008

Uniformidade X Diversidade




Sem pudor nenhum o sistema sócio-político contaminado pelo ideal positivista do Brasil República negou ás populações marginais (negros, índios, brancos pobres e mestiços) direito a inserção correta e justa de seus papéis na história. E foi além: Não se preocupou, conforme passava o tempo, em corrigir as distorções e retificar os mal contados. Deixou abater sobre toda gente humilde a pecha da preguiça, da pachôrra, do comportamento desajustado em sociedade. Difamou acintosamente a etnia africana, quando de modo inexplicável representantes da intelectualidade contemporânea fizeram coro com autores antigos cuja opinião distorcida não poderia expressar verdade científica, ao concordarem com esses sobre a baixa capacidade intelectual do elemento negro.


Suponho que os maus aparelhados pesquisadores e folcloristas de antanho tomassem por base para essas constatações aberrantes os estudos não menos escabrosos de canalhas pseudo-científicos como o alemão Franz Joseph Gall e o italiano Cesare Lombroso. Entre outras coisas, esses pichelingues da ciência pretendiam avaliar sem erro características psicológicas humanas simplesmente correlacionando as medidas de partes do corpo do investigado.


Anotadas as diferenças assimétricas entre crânio, face e mandíbula, por exemplo, os tais "doutores" estavam aptos a determinar se o indivíduo sob exame tinha propensão para o crime em alto ou baixo grau, e que tipo de personalidade ele apresentava.


Se não fosse trágico seria cômico. Pensar que tais embusteiros taxassem como anormais aqueles em cujas faces e membros não encontrassem a proporção áurea, ou "número de ouro". Uma constante algébrica encontrada nas figuras pintadas por mestres renascentistas. Todos eles, pintores renascentistas e pseudo-cientistas representando então um corpo de jurados da elegância, espécie de juízes da beleza. Estetas tão refinados a ponto de discordarem da natureza no que consideravam falha e imperfeição.


Imaginemos um indivíduo baixo, talvez menos de um metro e sessenta. Compleição física magra, rosto afilado, orelhas desproporcionais, bigodes generosos, cabeça enorme ostentando vasta calva. Esta descrição bem poderia se aplicar a um sujeito proveniente de uma das tantas etnias da África. Entretanto enquanto descrevia o gajo eu pensava em Rui Barbosa "a águia de Haia", patriarca da intelectualidade do Brasil. Certamente tinha lá uma mistura de sangue, mas era reconhecido como branco. Sem dúvida era uma pessoa fisicamente assimétrica, que pela lógica torpe dos antropometristas Lombroso, Franz Gall e seus sucessores, preenchia todos os requisitos para ser classificado como psicologicamente perturbado, intelectualmente débil, e, certamente um facínora.


Deformidades e imperfeições físicas nãopredestinam ninguém a tornar-se mau caráter ou boçal. Que os negros apresentassem, após a abolição, comportamentos não condizentes ao que os brancos esperavam deles é algo justificável. Não pela índole, e sim pela reprodução do modo de vida e do tipo de sociedade em que viviam na África. Passado como Herança cultural aos nascidos no Brasil por seus genitores.


Diagnosticar, seja por que motivo for, indolência, preguiça e outras mazelas nos afro-descendentes a partir da observação de um comportamento anômalo às vistas da sociedade branca torna-se feito, no mínimo, temerário.


Se a princípio os ex-escravos não se mostravam diligentes empreendedores, isso merece uma investigação muito mais aprofundada. Em suma, no tocante à capacidade intelectual dos afro-descendentes em solo brasileiro mostrar-se baixa conforme afirmam alguns dos nossos etnógrafos, sociólogos e historiadores contemporâneos eu discordo veementemente. Para os interessados em se aprofundarem nessa e noutras questões pertinentes ao tema sugiro a leitura das obras do professor e historiador Mário Maestri.

19 de dez. de 2008

Perfil do herói nacional II



Zé Trindade (pseudônimo do baiano Milton da Silva Bitencourt) encarnando seu personagem, se contrapunha totalmente à imagem do sujeito ingênuo, rural, de espírito puro e boa praça de Mazzaropi na sua emblemática interpretação do Jeca Tatu.
Zé Trindade e Grande Otelo incorporavam os malandros urbanos. Rapineiros, loquazes, ladinos. Cheios de artimanhas, ases nas mangas e um discurso apropriado para safarem-se em cada ocasião: perigo, fuga ou desembaraço. De forma menos romântica, mais próxima do capitalismo selvático (já que o tipo surgia justamente no Brasil pré-industrializado de JK) realidade que chegava com a indústria automobilística ao país. Zé Trindade personificava um sujeito ensebado, cafageste e trambiqueiro. Um pilantra de cacife muito baixo, sempre disposto a aplicar pequenos golpes nos otários de plantão - do jogo de chapinha às loterias (o jogo de chapinha consiste em adivinhar sob aposta onde está escondida uma bola de miolo de pão entre três tampas de garrafa dispostas, usualmente a bolinha está na mão do malandro que faz o jogo).
Assistiraos filmes em P&B protagonizados por Zé Trindade, Grande Otelo (parceiro frequente dele), Oscarito, Anquito, Costinha e muitos outros que não sejam debilóides sem graça como Renato Aragão e Dedé Santana - é uma delícia.
E pra quem pensa que as chanchadas eram produções ingênuas: Ouvidos atentos e olhos abertos que o subtexto é uma atração à parte. Vale tudo: Da crítica sutil, ás vezes nem tanto, ao regime e aos costumes de época às maiores demonstrações de sexismo e picardia. Tudo conduzido sem apelação excessiva. Bueno! Esse era um tempo quando haviam ótimos roteiristas,ás pencas. Com verve, imaginação e vocabulário. Assim os "heróis" podiam caprichar no "Chalalá" sem dar vexame. Depois veio a ditadura militar, o AI/5 e a televisão aos poucos emburreceu levando ao desterro nossos ídolos: Um certo Coronel Odorico, Shazan e Sherife, Macunaíma, Zé Trindade, Azambuja (personagem do genial Chico Anísio) e tantos mais que davam a tônica do heroísmo "nacionár!"

17 de dez. de 2008

São Paulo

Preciso mudar-me, já não suporto a vista da minha janela. Daqui vejo todo o centro da cidade. Da cidade que não pára de crescer. Cresce a cada segundo. Cresce enquanto estou dormindo. Cresce a cada pensamento. Cresce enquanto transito no oitavo andar desse edifício. Um edifício quase tão velho quanto à cidade. Mas, hoje, abro a janela e grito. Berro no coração da cidade. Berro porque já não suporto o que quero. E quero mais do que escrever para jornais. Quero o meu rosto em close, por duas horas, num filme de Andy Warhol. Quero dois gramas de pó, diariamente, no meu breakfast. Quero chegar em casa, as seis, cansado da jornada de trabalho na repartição pública, e encontrar Camille Paglia de roupas íntimas a minha espera.
Cláudio Portella é escritor. Nasceu em Fortaleza em 1972. Autor de Bingo!(Porto – Portugal: Editora Palavra em Mutação, 2003) e de Os Melhores Poemas de Patativa do Assaré (São Paulo – SP: Global Editora, 2006). O escritor é publicado em revistas, jornais, suplementos, revistas eletrônicas, sites, blogs e flogs.

16 de dez. de 2008

O perfil do herói nacional - parte I

Talvez o personagem cômico do cinema nacional de comportamento mais aproximado a meu ídolo "Macunaíma" seja um saudoso ator das antigas chanchadas da Atlântida: Zé Trindade. Baixinho, enrolador. Um tipinho e tanto. Vez ou outra sapecava olhando fixo as coxas portentosas de uma vedete como Renata Fronzi: "- O negócio é rosetar!"
Esse era Zé Trindade, um anti-herói. Nem ingênuo como Oscarito, nem galã como Sil Farney, tampouco valente igual a Jece Valadão.
Zé Trindade "caixa baixa" como eu, encrenqueiro, fazia sempre o mesmo personagem que vivia de trambiques. E na base do "conto e quinhentos" ia distribuindo um salame aqui outro acolá entre viúvas ricas e madames desquitadas...

2 de dez. de 2008

Estupidez mexeriqueira

Pessoas provenientes das mais diversas classes sociais agem costumeiramente de modo grosseiro quando desejam saber da vida alheia. Todavia, aquelas menos afeitas à instrução, as desertoras dos bancos escolares, as sem leitura, cujo pensamento sempre considerou perda de tempo entreter-se, às voltas com a "miscelânia de palavras difíceis" escritas em folhas de papel. Essas invariavelmente demandam o uso muito menos frequente de cortesia e polidez. Perguntam sem rodeios a qualquer um:
- No que tu trabalha? Inquirem castigando a língua de Camões enquanto coçam a cabeça ou demonstram outro cacoete qualquer.
- Quanto tu ganha? Tu casou? Nenhum constrangimento tem efeito sobre esses duendes abusados.
Outro dia eu caminhava em direção a minha casa quando fui interceptado por um desses seres sem modos:
- O que tu faz da vida hein? Interpelava a mulherinha tôsca a minha frente. Permaneci alguns segundos calado olhando para ela. Imune a qualquer medida de ridículo ela fez nova carga formulando nova questão:
- Tu não vai mais pra Porto Alegre?
Novamente fiz uma pausa prolongada, controlei meu ímpeto de mandá-la á merda, disse-lhe duas ou três palavras e me despedi. Gente como aquela mulher estúpida acotovela-se nos batentes dos muros nos bairros da periferia e mede a felicidade pelo poder aquisitivo, ou o potencial de adquiri-lo. Possuem uma escala muito peculiar de avaliação onde cada objeto de consumo, obtém pela sua ordem de importância nessa escala, muita vez subjetiva, um número determinado de pontos a favor. Eletrodomésticos, carros, casas, viagens, financiamentos... Tudo conta pontos. E são considerados por essas pessoas pré-requisitos para a felicidade.
Sabedoras da assunção de beltrano ou cicrano a um cargo público via concurso, tratam de espalhar alvíssaras. Se os referidos forem militares recém ingressos no baixo oficialato, ou mesmo sentarem praça como subalternos, as futriqueiras propagarão notícias de bom alvitre decretando aos "felizardos" fama e sucesso. Feito isso, logo tratarão de especular a condição civil dos supracitados. Caso sejam solteiros, não lhes faltaram moçoilas casadoiras pretendentes.
E a vida seguirá seu curso no vai-da-valsa até o fim...

23 de nov. de 2008

Brincadeira de criança??

Dentre as inúmeras brincadeiras, peripécias, jogos e folias alguns apresentadores de programas infantis da televisão brasileira promoviam concursos bizarros. Um desses era incentivar seus preciosos "baixinhos" a rebolar sobre a boca de uma garrafa de cerveja para 600ml posta em pé sobre o centro do palco.
As competições de todos os tipos exploravam certa animosidade (sexismo) existente na infância entre os gêneros. Todas as provas se compunham por rivalizar um time masculino e um feminino. Pedagogicamente incorreta, essa divisão não é nada saudável. Mas pouco se lhes importava - aos apresentadores e produtores - gerar uma espécie de regra maniqueísta. Subliminarmente afirmativa da impossibilidade de co-existência produtiva e cooperação entre meninos e meninas. Tal política de exclusão parecia inocente, porém sinaliza de modo enfático ser o parceiro ideal ou grupo ideal todo aquele com o qual as crianças têm maior identificação. Ou seja, a quaisquer outros a melhor escolha é sempre a de um congênere. Essa era atitude recomendada: descartar, sempre que possível as diferenças. Sem dúvida uma espécie de "apartheid".
Também a sexualização precoce das crianças não é exatamente uma novidade. As meninas principalmente são expostas a uma erotização agressiva por parte da sociedade. Sociedade cujos preceitos morais baseados na moral judaico-cristã corromperam-se e de modo ambíguo acusam os modos imorais desse ou daquele reprovando o afrouxamento do comportamento o qual,de modo contraditório, toleram.
Imitações consideradas "graciosas" da parte das meninas, de performers como "mulher melancia", "mulher maçã", e outras tantas personagens do mambembe nacional estimulam a erotização porque reproduzem o comportamento das referidas "artistas" e suas maneiras apelativas ao sexo.
Tal permissividade sempre foi a tônica na sociedade brasileira. E censurar essa ou aquela manifestação pontual nunca será resposta efetiva para o problema grave da "bandalha generalizada" nos meios de comunicação de massa.
Educação. Oferta de qualidade cultural. Estímulo ao desenvolvimento intelectual das crianças; fomento e incentivo à leitura. Isso sim modifica a tendência a um comportamento reprovável. Volvendo a atenção do indivíduo para questões de real importância na formação de seu caráter.
Portanto essa crise moral decantada há duas ou três gerações decorre , dentre outras coisa da perda do poder paterno, do desmazelo e da falta de disciplina na educação dos filhos. Do excesso de tolerância familiar e social ao que é reprovável e indecente, e tais responsabilidades cabem primeiro às famílias, depois ao sistema de ensino. Principalmente ao público - para onde se destinam amaioria dos alunos, há muitos anos em situação decadente (quanto a método e pedagogia) e falimentar.
Tanto a sociedade quanto as rdes de ensino públicas e privadas precisam repensar urgentemente o teor e os métodos da educação oferecida em casa e nas escolas aos futuros dirigentes deste país. Para que os escândalos tão comuns a nós hoje diminuam em ordem de ocorrência e proporção.
Tenho certeza que para muitos meu discurso parece conservador. É conservador, ou quer ser, mas insisto, apesar de não ter sido abençoado com filhos tudo quanto tenho visto não me agrada nenhum pouco. Quem duvida basta dar uma espiada no programa Super Nani do SBT que vai ao ar todos os sábados á noitinha e conferir exatamente sobre o que estou falando.

22 de nov. de 2008

Hoje acordei frustrado...


Porto Alegre, 22 de Novembro de 2008

Hoje acordei frustrado...
Uma tristeza de descrente pairava sobre minha aura...
Um humor perverso me assolava e se anunciava perigoso, sorrateiro, vigiava minha frustração esperando a brecha para penetrar em meu íntimo e dali infernizar a mim e a todos a minha volta. Ainda sinto o cheiro dele, está por perto, bem perto... Houve um momento em que se apossou de mim, e obteve ajuda, se fortaleceu e num só golpe invadiu também minha companheira... Acho que agora está lá com ela... Não tenho certeza, mas não está comigo... Um amigo me puxou na hora exata, me fez retornar pra lúgubre frustração em que eu me encontro desde o despertar... Vamos a ela então.
Na infância os sonhos dominam o universo do nosso desejo, tudo é novo e desejável, tudo um dia estará ao alcance das mãos, sabemos disso e não nos preocupamos em delinear algum caminho entre nós e o objeto de nosso desejo, sabemos que um dia será possível, não existem sonhos impossíveis para uma criança, uma vez que não vislumbramos obstáculo além da própria infância, que sabemos, não permanecerá conosco muito tempo...
Chegamos à adolescência e os sonhos ganham novas proporções, mais tangíveis agora, porém não menos difíceis... Agora percebemos a distância, o caminho a ser percorrido, e, por mais longo que seja, sabemos que é possível, sabemos que temos a força, a coragem e as pernas que nos carregarão por qualquer caminho que optemos em seguir, existe a frustração natural de saber que não era apenas a infância que nos separava dos nossos sonhos, e existe um receio de que outra surpresa desagradável como essa se apresente mais a frente, e que ao superarmos o novo obstáculo que até então desconhecíamos, outro surja. Mas, se a infância acredita que tudo será solucionado simplesmente com o romper da adolescência, esta, um pouco mais sensata, sabe que precisa construir um caminho para ajudar o adulto a caminhar, e julga que isto será o suficiente, preparar o adulto, dar-lhe ferramentas, experiência (que afinal é o que o transformará em adulto), e ele saberá como alcançar os sonhos...
Enfim, todos os sonhos e esperanças da criança e do adolescente pesam sobre os ombros deste adulto, foi tão demorado chegar aqui, tivemos que adiar tantos planos, agora é a hora da realização, não achamos a quem transferir essa responsabilidade, não há mais tempo para prorrogar nossas realizações, seria impensável transmitir a responsabilidade e os prazeres adjuntos dos nossos sonhos a um velho. Não! Tem que ser agora! Exatamente agora, mas um agora exatamente depois de resolver o agora, pois o que tem estado no futuro desde a infância, lá permanece, o agora é outro, o presente é imediato, não sonha, sequer dorme direito. O presente tem fome, tem frio, tem que se abrigar do tempo e tem que abrigar aos seus, cuidar da fome e do frio destes também, crianças e adolescentes cheios de sonhos que serão realizados quando se tornarem adultos, é preciso manter esses sonhos vivos, e é preciso manter o adulto sonhando com o futuro enquanto cuida do presente... E no presente ele sonha de no futuro solucionar todos os problemas do presente...
Em alguns momentos o adulto consegue dormir, e quando dorme descansa, e descansado se põe a sonhar (as vezes sonha acordado e cansado mesmo, pois é preciso sonhar mesmo insone), e o sonho do adulto, embora muito diferente dos sonhos que o trouxeram até aqui, está muito mais próximo, quase dá pra tocar. Pois o adulto não se permite sonhar com coisas inatingíveis, seus sonhos são palpáveis, bastam alguns pequenos detalhes para alcançá-los, faltam apenas alguns passos, e muito mais que a criança (que teria que esperar acabar a infância) e o adolescente (que teria que construir uma estrada), o adulto se põe a sonhar intensamente, a planejar cada passo, a antever cada possível percalço e se prevenir para cada um deles. Ou seja, agora temos um plano, não mais sonhos, agora sabemos o que fazer, se não temos as ferramentas todas, sabemos onde adquirir, sabemos quem pode nos ajudar, estamos prontos, enfim, nada pode nos deter agora...
O adulto se vê então inundado de fé e esperança, o jogo começa a se desenhar a seu favor, já é possível vislumbrar cada passo, diferente dele mesmo anteriormente, quando criança e adolescente, ele sabe que pode, sabe até como, falta muito pouco, um detalhe...
E como um jogador de Poker ele se vê forçado a apostar toda sua expectativa (e as vezes todas as fichas) nesta jogada. O jogo é dele, após muitas rodadas ele tem uma mão perfeita... Digamos que ele começa com um par de “Ases”, aposta um pouco, surgem as cartas e são um “Ás”,um “3” e um “6”, agora ele tem uma trinca, as outras cartas são mais baixas que as dele e nenhuma repete, ele sabe que tem a melhor mão da mesa, aposta... E surge um “J”, ainda está tranqüilo, a não ser que venha outra carta “3”, “6” ou “J”,ou ainda alguma que ajuda a completar uma seqüência, pode ter certeza de que a mão é dele, o coração está acelerado, as fichas tremem quando ele as lança à mesa, só falta uma carta e é um “K”, ele sabe que ganhou, ele tem a melhor mão da mesa e aposta tudo, eufórico, sem pensar... E perde! Como? Como? Como ele não percebeu que três das cartas na mesa eram do mesmo naipe? Como ele não cogitou a possibilidade de um FLUSH? Como ele pode ser tão burro? Agora perdeu tudo, principalmente o sonho...
Mesmo que ele tivesse vislumbrado a possibilidade de outro jogador ter um FLUSH, ele teria a obrigação de apostar, é assim o jogo, se quer ganhar aposte, e pode ser que perca... No momento em que o adulto vislumbra uma oportunidade única (a oportunidade única costuma acontecer poucas vezes), ele se vê obrigado a apostar, de dentro dele duas vozes o impelem a isto, a criança e o adolescente. O primeiro lhe diz: “Eu sonhei por ti, agora é a tua chance de realizar meu sonho”, o segundo completa: “Eu te trouxe até aqui, não vá amarelar agora que estamos tão perto”, e ouvindo sabiamente suas vozes interiores o adulto se lança ao encontro da sorte (ou seria de encontro à sorte?).
Esse passo inevitável faz ressurgir a ingenuidade da criança, a impulsividade do adolescente e a frustração de três gerações decepcionadas, não sabem nem com quem... Com o mundo talvez...
É a sensação terrível de ter feito tudo certo (tudo?)...
Está bem, falhamos em algum ponto, mas fizemos “quase” tudo certo...
A quem podemos culpar? A nós mesmos?
Se fizemos quase tudo certo?
Ao mundo que não tolera o “quase”?
Não, não há culpados, fizemos o que podíamos ter feito, sempre é possível melhorar, mas NÓS, NESTE MOMENTO, fizemos o que podíamos ter feito, fizemos o melhor de nós, apostamos nossa melhor energia, nossa mais ingênua expectativa, fizemos o que sabíamos fazer enfim, não poderíamos fazer mais que isso...
Tão pouco podemos culpar o mundo e as leis que o regem, ele também está fazendo o melhor que pode, talvez não seja o melhor pra nós, mas certamente é o melhor pra ele, e s nós fazemos parte dele, em última análise também é o melhor pra nós.
As pessoas que nos cercam poderiam ter ajudado mais?
Claro que sim, se não estivessem envolvidas com seus próprios problemas, seus próprios sonhos irrealizados, suas crianças e adolescentes aguardando ansiosos a hora de gritar “APOSTE AGORA”!
E é nisto que se resume a frustração, uma tristeza sem culpa e sem ter a quem culpar, uma certeza de ter agido certo e ter se dado mal...
Uma vontade de não acordar, de seguir dormindo, e de poder sonhar, pois nada é mais necessário do que sonhar outro sonho, um sonho palpável, com caminhos delineados que nos levem até ele... É preciso substituir o sonho morto por um novo, jovem, cheio de vigor.
Vou dormir agora novamente...
Nem bem acordei, mas já vou dormir novamente...
Preciso refazer meus sonhos, arquitetar meus planos, organizar minhas ferramentas... E o mais difícil... Medir as pessoas pra saber com quem contar, pois é preciso não estar sozinho, mas é preciso cuidar de não querer que as pessoas sonhem o sonho que é meu, e de não frustrá-las ao me frustrar...
Agora vou dormir...
Hoje acordei frustrado...

20 de nov. de 2008

Descascando a Pacoba



Seguindo a linha da teratologia midiática, a pauta de um programa televisivo da rede Tevê, Super Pop levou ao ar no dia 18/09 o tema "Atrizes Pornô". Algumas beldades veteranas no "métier" (perdoem o trocadilho fonético) de descascar a pacoba, compareceram ao debate.

Há um adágio popular na região do pampa gaúcho: "- Tirar leite de vaca morta!" Cito o ditado como metáfora, afinal a pobreza do assunto pornografia esgota-se na origem do substantivo. Pessoas atuando nessa área lá estão exclusivamente por dinheiro. Não acredito, e vários depoimentos corroboram isso, haver grande índice de compensação física para as atrizes pornôs.

Indústria crescente no mundo, mesmo em tempos de franca expansão do HIV, a pornografia cumpre a função antiqüíssima de alimentar devaneios. Satisfazendo curiosidades e fantasias de uma legião de vouyers das mais variadas idades e condições sociais. Nos primórdios da pornografia (não levo em conta aqui imagens, esculturas, narrativas, que recheiam a história da humanidade desde sempre), ou seja, da idade média para cá, os ítens disputados pelos apreciadores foram iluminuras inicialmente, depois, com o advento da fotografia, postais em preto e branco mostrando mulheres nuas ou casais praticando sexo. Isso sem falar na literatura libertina produzida continuamente por todas as culturas humanas. Cito como exemplos clássicos Safo, Petrônio, Musset e o conhecidíssimo Sade.

Nos anos quarenta, para aliviar as tensões no front da segunda guerra alguém teve a brilhante idéia de produzir revistas coloridas mostrando casais praticando o coito. Ficaram conhecidas como revistas suecas, uma alusão ao liberalismo sexual dos normandos, ou vickings se preferirem. Elas circularam durante décadas no Brasil. Porém, nos anos sessenta um modesto funcionário público de nome Alcides Caminha, encampando a causa dos punheteiros nacionais iniciou a produção dos libretos desenhados a bico de pena que fizeram a alegria do pessoal. Sob a alcunha (codinome) de Carlos Zéfiro ele produziu centenas desses pequenos livrinhos toscos aos quais se apelidou "catecismos", e que hoje em dia são objeto do desejo de colecionadores. Chegando alguns exemplares raros a valer algo em torno de 500 ou 600 reais.

Com o cinema mudo concomitantemente surgiu o cinema pornô. De início filmes caseiros, produções baratas sem banda sonora em P&B. E, com a evolução do cinema, mesmo sob repressão etc, o pornô evoluiu. Ganhou som e cor... No Brasil oficialmente foi proibido de entrar por um bom tempo. Mantinha-se na clandestinidade enquanto o regime militar tolerava a existência de um cinema erótico nacional "made in boca do lixo" (zona de meretrício do Rio de Janeiro). As chamadas "Pornochanchadas".

Desde tempos ingênuos quando em plena ditadura militar o desobediente Carlos Zéfiro (vento do oeste) produzia de forma rudimentar centenas de catecismos abordando variadíssima gama de fantasias sexuais do imaginário popular, as coisas mudaram radicalmente.

Do famoso filme pornô canadense "Deep Throat" filmado em 6 dias em janeiro de 1972, protagonizado pela feiosa Linda Lovelace, a pornografia abandonou o romantismo amador pra se tornar um negócio bem dirigido e muito rentável. Só para constar: Essa primeira produção que marcou a transição do amadorismo para o modus operandi profissional, custou 24 mil dólares e foi financiada pela máfia.

Daí para cá, num crescente as produções tornaram-se cada vez menos eróticas e mais ginecológicas. Argumentos foram desprezados - descartados na verdade. Os afamados pornô com estória não vendem. O espectador de filmes pornôs, de modo precoce, dispensa preãmbulos. Quer ação ampla, imediata, geral e irrestrita.

Parafilias sexuais como bestialismo, sadomasoquismo, gerentofilia, urofilia, fist fucking, enema etc, etc. Viraram rotina nas produções pornográficas.

Uma das formas de obscurantismo mais agressivas e lucrativas a pornografia ganhou mercados no mundo inteiro. Entretanto, preocupante é saber que além da indústria pornô oficial, pagante de impostos, com firma constituída, existe um underground muito perigoso. Onde todas as sevícias e crimes são cometidos, registrados e oferecidos a consumidores que não passam de pervertidos. Doentes viciados em toda forma de degradação.

A pornografia continua como sempre, sendo um arremedo da satisfação psicológica que não pode oferecer a ninguém. Bem como a falsa representação de uma realidade com a qual nunca conseguiu ao menos flertar.

19 de nov. de 2008

Vícios de linguagem

O emprego do advérbio de lugar "aí" virou praga na locução brasileira. Antes limitado aos narradores futebolísticos, o afamado advérbio de lugar migrou para outros setores do jornalismo rádio televisivo. Um vício de linguagem horroroso!
Diariamente os malventurosos néscios inflados e ridentes, enfunam velas soprando palavrório rumo aos ouvidos desprotegidos dos telespectadores e ouvintes desavisados. Por osmose, tais vícios são incorporados ao falar de toda gente, transformando-se em pandemia incontrolável.
Exemplo claro disso é a locução adverbial "com certeza", cujo uso indistinto como bordão pela apresentadora Leda Nagle disseminou seu emprego Brasil afora. Tal locução adverbial infestou de tal forma a linguagem coloquial, a ponto de qualquer um, em qualquer circunstância imaginável ou não achar um jeito de encaixar no meio de seu discurso um: "com certeza". Fazendo uso desta expressão como substituto de uma simples afirmativa ou negativa - pasmem! Isto em face de um outro grave problema midiático nacional: as perguntas indutivas. Felizmente, podemos contar (nos dedos) alguns entrevistadores preparados. Aparentemente imunes à epidemia de estupidez.

16 de nov. de 2008

Ignorãncia democrática

A 54ª Feira do Livro de Porto Alegre teve um saldo positivo quanto à comercialização. Mesmo com os preços altos das edições, e, a pouca oferta de qualidade editorial, o evento,mais uma vez provou-se lucrativo. Não tanto quanto a edição passada segundo declarações dos organizadores. Mas, em tempos de recessão muito mais não se espera.
A mercancia da cultura é a tônica do modelo neo-liberal ao qual estamos entregues faz tempo. Talvez causasse vergonha irmos à uma feira do livro e sairmos de lá carregados de edições baratas. Ou exemplares suprimidos ás caixas de saldo Porque seguindo uma tradição remontada à idade média o viço das belas edições conta mais. Se tem capa bonita não importa muito o conteúdo.
Não vou me deter comentando todas (apenas algumas) as mazelas do mercado editorial brasileiro. É sabido e decantado serem todos os livreiros que trabalham com usados, sem exceção, aves carniceiras. Há sebos de respeito, como o de meu amigo Moysés Palma ali debaixo dos arcos do viaduto da Borges de Medeiros. Moysés seguindo a tradição cultural semita não pratica a usura. Não escorcha sua clientela. Contudo ele é exceção. O comum é esses livreiros "farejarem" o ar atrás de bibliotecas cujo dono, geralmente um bibliófilo falecido, lega à viúva uma magra pensão. E seus filhos pouco se interessam pela sorte do que para eles é apenas papel velho embolorado. Tendo rastreado a biblioteca em questão o livreiro velhaco aproxima-se da viúva e lhe oferece um preço irrisório para retirar dessa biblioteca coleções e exemplares interessantes para si.
Essa rapinagem é muitíssimo praticada no mundo inteiro... Conheci um velho livreiro, já falecido, felizmente, muito afeito a essa prática. Inescrupuloso, esse homem, cuja lembrança até hoje me causa ira, a custa de uns poucos vinténs arrebatava ás viúvas tudo quanto lhe interessasse do espólio do falecido...
Sem políticas de formação de leitores. Sem políticas de edições populares para oferecer à população livros de qualidade. O que seria fácil, tendo em vista estarem as grandes obras de autores consagrados ingressas já no domínio público a partir de completarem 70 anos desdea data da sua publicação ou gravação. Tal condição permite o acesso livre aos editores para reedição e regravação dessas obras. Nada muito complicado. Porém, das 530 editoras radicadas principalmente nas regiões sul e sudeste do país, desconheço quais desenvolvem projetos visando contemplar a população de baixa renda editando livros a preços acessíveis.
Ranqueado em 63° lugar quanto aos hábitos de leitura (detesto aplicar a palavra consumo quanto à educação e cultura) o Brasil têm acumulado fracassos ao longo dos últimos trinta anos na sua empresa de democratizar e melhorar as condições gerais de ensino, bem como promover a alfabetização real da população. Principalmente suas camadas menos favorecidas. Socialmente vulneráveis como se diz. Sucedem-se as governanças em todos os âmbitos e esferas de poder e ninguém dá mostras de ter aprendido nada com o velho e saudoso mestre Paulo Freire que disse com toda propriedade: "- A ignorância é a maior multinacional do mundo!"

12 de nov. de 2008

SARAVÁ, XALEDEBARADÃ!

Muitas e muitas vezes desejei ser mais realista. Menos piegas. Muito mais objetivo, pragmático. Menos, muito menos esperançoso, ingênuo, trouxa. Mas, otário nasce feito, então... Nada a fazer.
Bueno! Por esses dias ando meio "desasado" como se diz cá por essas bandas. Nada assim tão grave. Uma tristezinha básica. Entretanto, de lá de um cantinho recôndito no peito, quem me espiava tímida? Ela, a tão afamada esperança. Sendo assim o chororô é breve. E vamos indo em frente que esse trem tá lotado de gente, e, é expresso.
(...) Pra quem gosta de música brasileira e não viu o dvd produzido pelo francês Pierre Barrouh que saiu pela Biscoito Fino, vale a pena conferir. Não bastassem as figuras notáveis de Pixinguinh e João da Bahiana lá estão Baden Powell, Paulinho da Viola e Maria Bethania ( estes últimos bem mocinhos na década de sessenta) - a primeira filmagem do documentário foi rodada em fevereiro de 1969, época brava no Brasil. Há os extras do dvd, onde aparece um artista impagável. Trata-se de um compositor do morro do Cantagalo. Adão dos Santos Tiago - de nome artístico Adão Xalebaradã ( Xaledebaradã significa: Princípio, meio e fim em Yorubá). Esse legítimo compositor popular deixou como registro apenas um disco: Escolástica. Pelo selo Ambulante em 2003. Adão Xalebaradã, falecido em janeiro de 2004 no RJ, compôs mais de 500 músicas. E quem quiser ouvir algumas das suas canções tem como recurso buscar na web. A pesquisa do google propicia acesso rápido e relativamene fácil aos trabalhos do artista.
Além dessa revelação promulgada por Pierre e pelo cineasta Walther Salles na emenda de Saravá feita em 1998; o filme todo é uma aula de brasilidade. Sensível. Ora alegre, ora melancólico. Lírico e delicado como só o samba e o compositor popular brasileiro sabem ser.

9 de nov. de 2008

RASIF, O MAR QUE ARREBENTA

UMA VEZ, ENCARVOADO POR TEUS CONTOS NEGREIROS, EU TE DISSE: - Segue teu canto Marcelino. Impregnado de teus Contos Negreiros eu não senti que vertia meu sangue. Era como se cortassem artéria por artéria. Era como se gritassem um brado guerreiro, um brado cavalariano, desesperado, de quem sabe estar pra morrer. E morrer, não pode ser nada além de aquietar-se... Mas, as idéias ficam, morrem os homens. As idéias dão cria. Deliciosas, perniciosas, fermentam bacilos em profusão. Idéias infectam.
Agora tenho às mãos RASIF, teu canto mais recente. Igual sucedeu aos Contos Negreiros já adiantei-me a musicar tuas palavras. Musicar não. Quedar-me solito, quieto a ouvir as melodias manando delas.
Hão de me abrir o peito essas canções. Chegar às gentes, praças, tabacarias, supermercados. Tal cigarra as cantarei até morrer exausto por crer na sinceridade delas. Por crer no amor. Único motivo plausível; o amor ao próximo. Amor e compaixão pela humanidade humana. Rasteira. Desordeira. Pedinte. Mendicante de tudo. Afeita ao préstimo, ao roubo, ao logro, ao embuste, ao golpe, ao faz favor. Humanidade imutável no correr dos séculos de incivilização. Humanidade imune às mensagens do Cristo, de Buda, de Confúcio e Oxalá. Humanidade vizinha de minha taba. Revirando-se no lixo da cultura yanque. Vivendo de resto se lhes atirado a cara diuturnamente por uma imprensa pelega, vendida e vendilhona. Humanidade escorchada, oprimida, nas vilas, filas, fazendas, fábricas, favelas, trapiches. Humanidade escrava de sua própria história obscura. História plena em injustiça. Crueldade. Velhacaria. Corrupção.
Há de rebentar-se esse peito como fôra a quebra de um vagalhão explodindo sobre os molhes da barra portuária. Varrendo terra adentro toda a imundície. Varrendo, sem dó, toda sujidade "clean", produzida pela parte desumana da humanidade. A parte responsável pelo estado de desaforos no qual se encontra o mundo. Marcelino, meu irmão, cantemos juntos essas canções de amor e esperança.

6 de nov. de 2008

Mameluco

É um lamento só. Lamúrias, queixas, dúvidas, dívidas... Haverá algo de bom? Há sim. O sol quando aparece. O amor sobrado dentro do velho peito. Como fôra Aracy (a mãe do dia) morando lá desde sempre. Lumiando os passos do menino. Amor vazando desses corgos arteriais pro chão onde se infiltra e irriga a vida doutros. Amor passarinheiro. Muita vez desperdiçado na sanha aflita e confusa de se obter vitória quando a calma suscita galgar maior conquista. Amor brejeiro, ingênuo, ardente. Recendendo a bergamotas açúcar (os árabes o chamavam sakkar: areia).
Cada povo se especializa conforme seu habitat. Esquimós têm diferentes nomes pra neve. Eu e Aldir Blanc por certo os temos pros pomares. Não copiei Aldir, dez anos atrás ao descrever a delícia madura da bergamotas e o sol de novembro enraizado nelas fazendo-as madurar. A delícia de, molecote, me enlambuzar encarapitado na copa da bergamoteira. Olhando o sol poente, longe, longe, imensa bola de fogo avermelhada tisnando tudo com o rubi de seus raios. Sumindo no horizonte lhano, lá pronde o Jacuí faz uma curva deixando pra trás a última vila da Cachoeira. Guardo esse amor e quero tê-lo quando o sono ou o desespero me procurarem.

Cismas

Não sou bonito. Baixo. Atarracado. Sobrancelhas espessas. Nariz achatado. Tez oliva, querendo amulatar. Não sou bonito, tampouco genial. Não completei os estudos. Aprendi na marra. No esforço da imitação. Não sou bonito mas sou esforçado. Carrego genes antigos. O fator rh positivo, grupo sangüíneo O, atesta isso. E aproveitemos enquanto o trema não cai por terra nessa desditadura da dita cuja última flor do Lácio. Seria isso um abacate? Sei lá. Que se dane.
Os portugueses intercambiaram pomares. Trouxeram mangueiras & bananeiras depois de Cabral fazer bombardear Calicute. Raptaram (na assepção etimológica da palavra) mudas de nêspera em Macau, mau negócio. Comparada ao caju, plantado naquelas bandas pelos portugas a nêspera ou ameixinha amarela, é uma josta. Por enxerto adaptaram-na aqui. Pra lá levaram maniçoba. Da África trouxeram a Noz de Cola, Jaca, Marula. Em troca lhes apresentaram mandioca e amendoim. Até hoje os angolanos acreditam ser o amendoim nativo de lá.
Não sou bonito. Não tenho dinheiro. Muita vez, envergonhado, rasinho, passo dificuldades. Conto com mercê alheia. A meu favor há essa herança de antepassados misturados num caldo genético indescritível. Dos semitas errantes da crescente fértil, de celtas místicos habitantes da antiga Ibéria, dos bantos retintos origem das sendas humanas, dos amerabas de tronco lingüístico jê espalhados nas planícies (planitie glaucu) pampeanas.
A meu favor essa vontade de ser bom moço (talvez concordando com a teoria de Rousseau - o bom selvagem). Não sou bonito. Não tenho viço. Não tenho dinheiro. Minha importância se resume ao fato de respirar, ocasionalmente profundo. Mas, hoje, justo hoje. Insone. Batido pelas tantas bordunadas certeiras dadas pela vida no cocoruto dos caboclos bestas como eu - respiro devagar. Lentamente. Economizando fôlego e paciência pro longo, penoso, hercúleo trabalho de mais uma vez buscar diligência. Peregrinar, estender a mão com a palma pra cima e baixar os olhos. Baixar os olhos como se os olhos de quem me fitasse não fossem olhos de um reles mortal.

31 de out. de 2008

Geladeiras espaciais

O programa espacial chinês - made in Rússia, vai (decola) aparentemente muito bem. Sem tecnologia própria, os chineses deram um jeito de reciclar velhos lançadores Vostok de fabricação russa e de quebra repaginaram a quase hexagenária nave Soyuz, rebatizada Shenzou. A bordo desse monte de sucata recondicionada, mas sem garantia de devolução de grana caso falhe, os "taikonautas", como se denominam astronautas na China subiram aos céus. Sem tecnologia própria os espertos habitantes do "Reino do Meio" importam da Rússia know how defasado em pelo menos três décadas,e, dão a chamada "meia sola" na tralha véia antes de chisparem rumo ao vasto espaço sideral.
Só para se ter uma idéia foguetes lançadores de tipo como o Vostok usado pela China nada são além de imensos depósitos de combustível. Verdadeiras bombas voadoras teleguiadas. Sem tecnologia para a fabricação desses monstros a China exibe com orgulho uma fábrica inteira "novinha" transplantada diretamente da mãe Rússia.
Aliás, no setor aeroespacial a primeira planta fabril instalada na China é de propriedade da Embraer. Antes dela a Avibrás já havia instalado uma linha de montagem para antenas de comunicação via satélite similares ao modelo AN10 fabricadas no Brasil pela empresa paulista.
O contrato firmado entre a Embraer e o governo Chinês prevê a entrega de 20 jatos Embraer modelo 195 para até 120 passageiros. Aproveitando o encejo a indústria brasileira inaugurou uma fábrica na China. A primeira do setor aeroenáutico naquele país.
Não menos admirável e importante foi a iniciativa da indústria Embraco com sede em Santa Catarina. Há treze anos presente na China a Embraco fabrica compressores herméticos para geladeiras. Seja isso: O coração da geladeira onde se deposita o freon. Gás responsável pelo funcionamento do aparelho. A ação de troca de calor que possibilita o resfriamento e a manutenção das baixas temperaturas para conservação dos alimentos. Resta saber se a Embraco, presente há 13 anos no "Reino do Meio" (tradução mais ou menos falcatrua do substantivo China), está presente no mirabolante - e inútil, programa espacial desse dragão superpopuloso. Explico: A tecnologia de resfriamento utilizada nos foguetes da década de 50 e 60 fica muito aquém da empregada nos motores compressores das modernas geladeiras e freezers de alto desempenho e baixo consumo fabricados pela Embraco no Brasil. (Olha a malícia - os compressores fabricados na China são os mesmos do Brasil. Será??)
Qualquer falha nos sistema "refrigeratório" dos velhos Vostok modelo K a gente exporta pra lá um bando de "gabirús" pra abanarem com leques de seda o "rabo do foguete" no momento da decolagem. Pra fixar os gabirús á fuselagem do foguete um item indispensável e infalível: Goma de mascar, o popular chiclete. E um guarda-chuva pra cada um dos cabras poder voltar à terra depois de fazer o serviço. Com direito a uma meia de cana e duas rapaduras por cabeça. Oxente!
(...) Pra fechar: Por ocasião da assinatura do contrato com a Avibras na década de noventa, a China ousou oferecer ao Brasil alguns remodelados "ferros de passar roupa russos travestidos de caças", produzidos sem licença nos fundos de quintal daquele país. Sabiamente declinamos a oferta.

25 de out. de 2008

O irremediável

A maioria das situações, felizmente, não se apresenta irremediável... No entanto, o passado é irremediável. Estivessem certas as teorias de Stephen Hawking a respeito dos atalhos cósmicos, talvez pudéssemos remediar todas as mazelas. Redimir pecados. Apagar os fiascos. Mesmo correndo o risco de extingüir a humanidade. Por nosso ego imenso valeria a pena. Não é verdade? Há coias irremediáveis. A morte. A saudade. Todas as misérias humanas traduzidas no jugo de um ser humano sobre outros. A hierarquia, esse monstro subjetivo, implicando numa escala torpe de valores que atribui maior importância a uns sobre outros, quando sabe-se: São todos iguais. Há coisas que parecem irremediáveis. Minha tristeza por exemplo. E foi-se o tempo quando poderia redimi-la inventando uma guerra como subterfúgio. Promovendo a conquista de terras e gentes apenas para me ocultar.

23 de out. de 2008

Réquiem

Eu mal havia chegado das minhas andanças nessa pequena cidade e me disseram que tu havias partido pra lonjuras distantes. Muito mais distantes. Lugares onde só a lembrança é capaz de alcançar. Tu que foste meu parceiro no fracasso das empresas mundanas, na desolação de não termos cinco mirréis pra comprar um trago ou um naco de fumo pra fechar um palheiro. Tu que dividiste comigo as filosofias arrevezadas, desfiadas por nós à guisa de passar as horas. Tu que partilhaste comigo parcos caraminguás. Tu que me socorrias em meus percalços eletrônicos. Tu partiste pra esse um outro continente desconhecido dos sóbrios. Ignorado por céticos e materialistas. Tu me farás sentir solidão quando sentir vontade de estar junto de ti para prosear logamente como fazíamos. Tu me farás sentir pesar quando por acaso meus olhos fixarem os de tua mãe ou de teus filhos. Meu amigo Gilberto, agora estás em silêncio; espera por mim.

19 de out. de 2008

O QUE HÁ MEU CARO LUPCÍNIO?

Quando a mulher amada sai pela porta pra não voltar,malandro se segura num risinho amarelo, dá tchau, sai correndo.
Não quer dar o braço a torcer. Sente pavor. Sente uma mágoa, pesando feito matacão lá dentro do peito. Exaltado, malandro chora miúdo escondido. Afinal homem não chora. Chora ou não chora?
Quando a mulher amada sai pela porta pra nunca mais voltar o valente se afrouxa. Mata no borrão do peito a esperança. Sustenta nos braços, sob ombros arcados tal Adamastor, o mundo com todas as suas belezas e veleidades. Cruezas, injustiças, misérias também. Quando a mulher amada sai pela porta, o malandro desconfia se vive ou já é defunto. Só não comenta com ninguém, tem medo disso, dessa "morbeza", como diriam Wally Salomão e Macalé, se confirmar.
Quando o amor sai pela porta pra nunca mais voltar, ao menos não dum jeito amoroso, o malandro sabe: Não importa quão belos sejam os sambas compostos graças a comoção. Não importa em quanta cachaça, quanta fumaça, quanta arruaça & trapaça ele se enfie. Não importa nada ele sabe: Vai virar boi de piranha. Rolará sobre cacos de vidro. Se sentirá feito um otário, igual aqueles nos quais dá voltas e aplica salames á granel. Quando a mulher amada não deseja ser amada pelo malandro postiço (porque malandro de verdade não ama, tenteia) o mundo acaba sem samba e sem jazz.

13 de out. de 2008

Garatujas

Escrivinhador. Blogueiro. Cronista. Rabiscador. Pixador... Às vezes me pergunto: - Qual motivação real me leva à escrever, à compor música brasileira? Será vaidade? Certamente esse é um componente importante na receita desse bolo. Mas, será fermento ou farinha? Ou seja: Motivo ou necessidade? Não sei. Um pouco de cada. Vou traduzindo o mundo com minhas palavras. Ouso discorrer sobre tudo como qualquer bom charlatão. Das teorias mais herméticas ao prosaico cotidiano, como diz Walli "Sailormoon" na sua parceria com Jard's Macalé na canção Olho de Lince do álbum Real Grandeza : "-Nada me é estranho/fulano, cicrano, beltrano/seja pedra/seja planta/seja bicho/seja humano//" Sendo assim, meto bedelho em tudo. Mas, o que importa de verdade, de verdade mesmo : " mas essa lua/ mas esse conhaque/ botam a gente comovido como o diabo.//" (POEMA DAS SETE FACES- Carlos Drummond de Andrade)...
Já arrumei minha mala. Dia 15 chego em Porto Alegre, mas no dia 16, ah! no dia dezesseis de outubro às 20 horas na sala Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mário Quintana, meu compadre e parceiro de composição (há 20 anos) lança seu segundo cd: MOKAMBO. Traduzindo: A música brasileira encontra seu digno representante - Otávio Segala. Espero vocês lá.

8 de out. de 2008

ENGODO


Azulejar-se. Cobrir-se de azul até não ser capaz de suportar o peso da cor impregnada na carne por encanto. Passe mágico responsável pela diferença nada sutil entre tecido vivo e a croma lúdica, fria, inanimada. Quase pura. Numa limpidez remetente à ordem imutável supostamente havida. Contrária às leis da natureza reformista.
Azulejar-se, trazendo o céu sobre si. Até sentir-se emparedado. Sepulto, imiscuído nele a não mais poder ter-se distinto do azul profundo e descansado.
Pasma de candura, com dedos diáfanos, a moça acariciava o cetim da cor impressa nas paredes do aposento, onde em coma profundo estava um paciente. Quem sabe? As coisas sucedidas a ele dois meses naquele estado. Talvez por ora repousasse inerme, tranquilo. Quiçá moribundo...
Com vagar ela tateava a superfície azulejada como se medisse a palmo, de alto a baixo inspecionando o ladrilho frio com o tato. Sentia cada friso, cada sulco e reentrância do rejunte. Nesse ato se demorava, pouco notando a presença do convalescente. O qual logo mais tarde trataria tal era seu ofício. Poderia mesmo, compassiva, por um momento estreitá-lo de encontro ao colo pálido. Apanágio dos sofredores.
Devaneando ela se demorava examinando ladrilho por ladrilho a monotonia hipnótica da parede azulejada no quarto do paciente.
Ele, entre aflito e resignado, sem poder ouvir, imóvel sobre o leito, sem poder enxergar, soube de maneira misteriosa o momento da aproximação da mulher. Por essa causa sofreu um espasmo. Percorreu-lhe um calafrio. Estremeceu. Imperceptivelmente agitou-se iniciando lentamente a longa subida desde o abismo fundo e escuro aonde sem forças se pusera abandonado pela esperança. Todavia, sem dor. Sem sentir fisicamente nada. Enquanto emergia teve medo. Um medo bobo é verdade, pois desde muito aguardava esse dia quando ela viria, só não adivinhara fosse tão cedo.
...Cumprindo um ritual encenado incontáveis vezes, a moça, deixando de lado a distração pueril, aproximou-se do leito. Emerso da penumbra confortante, aquele homem moço ainda, abriu os olhos. Inicialmente com cautela, mantendo-os semicerrados por conta do receio da luz. Nada além duma fresta, vão mínimo, o suficiente para enxergar um rosto feminino de linhas suaves. Emoldurado pela cascata negra de uma cabeleira bem penteada. Rosto jovem esboçando um sorriso redentor.
Sentindo-se confuso e indefeso ele se encolheu. Teve medo, quis chorar. Enfim abandonou-se, se dando por vencido. Aceitaria de bom grado o abraço frio daquele anjo, como julgava fosse. Sem pressa a moça graciosa admirou o convalescente, e por algum motivo imperscrutável acenou para ele. Gesto simples, inusitado. Assinalando o cumprimento dum capricho qualquer. Uma veneta complementada com um sorriso jovial e rápida piscadela antes de desaparecer do campo da sua visão.
Tão logo ela se foi instaurou-se um burburinho. Outros começaram entrar no aposento. O farfalhar das gentes, suas falas, risos, foi atirando-o de volta no caudal da vida. E ele, assombrado, sentiu insuflar-lhe o peito com tamanha força e intensidade como jamais experimentara antes.

3 de out. de 2008

Só ando em boa companhia




Sinto intuitivamente os bons e maus momentos de um escritor mesmo antes do término da leitura da primeira página. Pressinto quando teve preguiça, tédio, cansaço, distração ou medo. Percebo ao longo do texto quando usou de coragem, ousadia, persistência (afinco), obstinação; de que são feitos os bons livros. E luz interior, transcendência, que ocorre com muito mais raridade.
Arrogo-me essa “clarividência” baseado em minha própria obsessão pela leitura. Dos cinco anos em diante devorei todo material impresso quanto me caiu às mãos. Ler passou a mim como um hábito hereditário – se é possível tal coisa. Meus pais foram leitores devotados durante toda vida. Seu gosto pelos livros e os estímulos para despertar em mim a mesma paixão surtiram efeito. Tanto meu pai quanto minha mãe habitualmente liam para mim.
Lembro que eu e meu pai colecionávamos juntos álbuns de figurinhas; cromos educativos. Era muito agradável abrir os pacotinhos trazidos por ele ao final das tardes na vinda do trabalho. Meu pai era barbeiro. Quando chegava em casa à noitinha abríamos os envelopes de figurinhas e separávamos as repetidas colando no álbum os cromos inéditos. Além das coleções de figurinhas, duas vezes por mês meu pai trazia um calhamaço de publicações: Enciclopédias em fascículos, livros de história, literatura, recreativos e é claro, revistas em quadrinhos de estilo variado. De Tio Patinhas à Mônica, Super Homem, Contos da Cripta, entre outros tais...
Dos livros me lembro do fascínio sentido ao ler As viagens de Gulliver, Vinte mil léguas submarinas, As aventuras de Tom Sawyer, Reinações de Narizinho, A ilha do tesouro e Moby Dick de Herman de Melville que li aos 11 anos entre pasmo e assustadiço. Totalmente maravilhado. Imerso naquela fábula espetacular quase como se fizesse pare da tripulação do lúgubre baleeiro Pequod sob as ordens do medonho, sinistro capitão Ahab. Magnificamente interpretado no cinema por Gregory Peck.
A atmosfera mágica dos livros exercia sobre mim o poder de transportar-me para o além mundo dos lugares descritos nas estórias. Através dos livros viajei a sítios famosos como o Taj Mahal, ou mergulhei noutras dimensões do espaço tempo como a Roma nos tempos do imperador Adriano, à cidade proibida de Kublai Khan, ao Egito a época de Sinuhe, médico na corte faraó conforme narrado e descrito de forma exuberante no livro O egípcio do exuberante Mika Waltari. Por intermédio da literatura pude experimentar um sem número de vezes as mais intensas e radiantes emoções. Fui órfão nas páginas de Grandes esperanças de Dickens. Era um nacionalista ingênuo, inflamado nas páginas d’O triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto. Vivenciei o imperador romano justo e diligente em Memórias de Adriano de Marguerite Youcenar. Experimentei a delícia (preguiça& lassidão) encarnada no “herói sem caráter” Macunaíma do genial Mário de Andrade. Transpus as fronteiras do planeta viajando nas narrativas de Asimov, Ray Bradbury e Arthur C. Clarke. Vivi cada parágrafo com emoção e singularidade. Tomei tanto gosto pela arte narrativa a ponto de ensaiar minha própria literatura. Não bastasse isso, pela boca bendita de todos os poetas me descobri, ou como diria o mestre Ferreira Gullar “me inventei” compositor de música popular. Saravá!

24 de set. de 2008

Munição pesada - a etimologia do crack







O refino de cocaína deixa como subproduto, refugo ou bôrra, a substância conhecida como crack.. Esse substrato nada mais é senão cocaína concentrada, em estado quase puro. O crack é inalado, fumado em cachimbos de vidro ou alumínio. Quando os vapores produzidos pela queima entram na corrente sangüínea via vasos pulmonares, a substância leva oito míseros segundos para chegar ao cérebro. Lá o crack bloqueia os receptores de dopamina (catecolamina – composto natural fabricado pelo organismo) dos neurônios impedindo a dopamina ligar-se a esses receptores. (A dopamina é o agente responsável pelas sensações de prazer no organismo) Quando o crack se dissolve liberando acesso à dopamina é tal a quantidade acumulada que ocorre uma verdadeira inundação dos neurônios. O efeito disso são sensações intensas de prazer, bem estar e alto grau de euforia. Todavia o efeito não dura além de dez minutos. Tão logo se normaliza o fluxo da dopamina para os neurônios as sensações agradáveis desaparecem. Por sua curta duração a “viagem” com o crack induz o usuário a tomar nova dose quase imediatamente após a primeira, e assim sucessivamente. Por sua toxidade o crack pode gerar dependência a partir da primeira experiência.
Termo de origem anglo-saxã quando vertido para o português a palavra “crack” dá margem a variada gama de interpretação, conforme o contexto: Fenda, estrondo,louco, famoso, excelente; “the crack of doom” – a explosão do juízo final. Craksman, gíria para arrombador.
São apenas alguns exemplos. Quase sempre crack alude ao monumental, positiva ou negativamente.
No Brasil em qualquer cidade de grande ou pequeno porte, o crack já garante presença. E se engana quem pensa que por se tratar de uma droga relativamente barata ela freqüente apenas consumidores com baixo poder aquisitivo, em situação de vulnerabilidade social. O crack é democrata.
Numa estratégia bem sucedida de expansão dos negócios o crack hoje é encontrado misturado à maconha num produto híbrido chamado “mescla”. O potencial narcótico do crack potencializa vinte e cinco vezes o efeito do tetrahidrocanabinol, ou THC, alcalóide presente na cannabis sativa e cannabis indica, ambas conhecidas popularmente como maconha. Progressivamente o usuário de maconha irá passar ao crack. Assim espera o traficante e assim acontece. O crack além da alta dosagem de cocaína contém taxas elevadas das substâncias usadas no refino da coca, tais como: Éter, acetona, ácido etanóico, benzina, terebintina e outras tantas substâncias decorrentes da combinação desses agentes químicos altamente tóxicos.
Como combater o crack? Talvez seja presunção minha dizer isto, mas a única alternativa de combate ao crack ou qualquer outra droga é a educação. Combatendo a ignorância se combate o crack. Jamais se espera erradicar o consumo do crack ou e qualquer outra droga ilícita mas a educação pode reduzir esse consumo a níveis muito baixos.
A propósito: segundo especialistas recuperar um usuário contumaz de crack é tarefa quase impossível.

17 de set. de 2008

Violência institucional

Custos anuais da violência na América Latina e no Brasil;
América Latina: US$ 168 bilhões de dólares por ano.
Brasil: US$ 84 bilhões de dólares anuais.
O Brasil gasta o equivalente a metade do total sul-americano, isso representa 10% do PIB (produto interno bruto) brasileiro. Grande parte da violência gerada no país é promulgada por jovens com idade entre 12 e 17 anos, que se não são os autores de fato dos crimes atuam como "laranjas", assumindo a culpa por causa das vantagens da menoridade. Conforme a legislação vigente no Brasil a maioridade penal só é atingida aos 18 anos completos. Abaixo dessa idade todo menor é inimputável, vivemos entre anjos sem o saber, vejam só. Sendo a justiça cega, pouco se lhe dá a natureza dos crimes cometidos por esses "anjinhos" que para voar não usam asas, mas carreiras de pó e cachimbos de crack.
"- Com a nossa capacidade de fazer maluquices em nome de boas intenções, criamos uma legislação de menores que é um tremendo estímulo à perversão e ao crime, ao fazê-los inimputáveis até os dezoito anos. [...] Entre nós, o bandido tem até pastoral." (citação de Roberto Campos - do seu livro : Na virada do Milênio).
A acrescentar ao comentário do ilustre economista, diplomata e ex-Senador da República eu teria um velho, surrado bordão usado pela atriz Kate Lyra num programa humorístico da tevê: "- Brasileiro é tão bonzinho!"
A pergunta, meus caros amigos é só uma mas vale todas as ilações possíveis a partir de uma resposta: - A quem interessa a manutenção do absurdo que se tornou a novela interminável da diminuição da maioridade penal? Num país onde 15% da população adolescente se encontra dentro do que se classifica como grupo de risco ou vulnerabilidade social? (Trocando em miúdos: a um passo da marginalidade) A quem interessa? Aos delinqüentes certamente, entretanto além dos marginais connhecidos ( na sua maior parte "sovaco de cobra & debilóides") esta legislação casuísta presta grande serviço aos meliantes engravatados arquitetos e financistas do crime neste país.
Não sou o escritor inglês Arthur Conan Doyle, criador do mais famoso detetive de todos os tempos, Sherlock Holmes, porém igual a ele penso existirem mentes perversas orquestrando as ações criminosas. A esses, muitos ocupando cargos honoríficos sob a chancela do estado, interessa muito conservar a vigência desta legislação escandalosa e permissiva. Enquanto "seu lobo não vem" e nossos nobres legisladores continuam cochilando sobre as confortáveis poltronas da câmara e do senado em Brasília, os Champinhas da vida andam livres para "zoar" a vontade por aí. (Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, co-autor do bárbaro estupro e duplo homicídio contra a estudante Liana Friedenbach e seu namorado Felipe Silva Caffé, em São Paulo 11/2003)

16 de set. de 2008

O Senhor dos Passos

Trecho extraído de meu livro (em processo de escrita); O Senhor dos Passos.


O que pode se a distância, senão um assombro dentro do coração das gentes? O ônibus em que Mirta viajava cumpria bom caminho sobre a estrada nova de asfalto. A modernidade contribuía para o conforto dos poucos viajantes. Suspensão a ar, perfeita ergometria dos assentos reclináveis, isolamento acústico e ar condicionado; Mirta olhava a paisagem móvel pela janela. Imaginava-se noutro tempo, noutro veículo, outro lugar... Sendo assim, com vistas a recriar de outra maneira aquele instante ela tomou um caderno de desenho novo, em branco. A lápis iniciou o esboço de um desenho a grafite, o que na verdade são tons de cinza, conforme a dureza da grafite e a pressão sobre o papel.
Qual motivo a levaria registrar a realidade que muitas vezes considerava maçante? Quem sabe? Imaginara o trem por nunca haver estado numa composição. Vira os comboios uma ou duas vezes. Achava bonitos os caminhos e ferro. Fossem quais fossem os caminhos, levavam a algum lugar. Ligavam-se a outros caminhos e esses iam a paragens diferentes, cada vez mais distante dali. Até que por vias indiretas, entre as retortas dos trilhos, tais caminhos se reconduzissem a sua cidade. Confluência para ela misteriosa do ir e vir das coisas. As estações. O vento. A chuva. A lua. As marés. O ciclo das mulheres. Tudo arrumado num círculo perfeito...
Rapidamente ela traçou um cenário. Serranias, promontórios. Montes precipitando-se em abismos formidáveis. Montanhas de granito cobertas pelo verdume das matas nativas. Abrindo-se esporadicamente em clareiras chãs onde predominavam jerivás e araucárias. A estrada que traçara não era a rodovia, na sua imaginação o caminho até Sant'Anna era os trilhos e o ônibus um vagão antigo tracionado por possante locomotiva a vapor. Trem que sacolejava na preguiça da pouca velocidade. Culpa de braços cansados pelo esforço de suprir a caldeira no seu constante apetite por carvão. Fome aparentemente insaciável. No interior do vagão decorado de acordo com o estilo neoclássico o cochilo dos poucos passageiros. Conhecidos entre si na maioria, familiares e pertencentes ao lugar. Trenzinho fagueiro, comboio pequeno e intrépido ziguezagueando sobre o caminho dos trilhos. Atalhando entre morros. Meio de nada. Despenhadeiros, confins. Cafundós...
Uma criança testemunhava apreensiva o descortinar da aurora. Todos, a sua exceção, se ocupavam dos relógios. Preocupados com a fuga das horas por um desvão qualquer. O menino não temia o trote veloz do tempo. Esboçava sim uma preguiça. Um sem pressa. A pachorra que não anseia nem antecipa nada tão perseguida por budistas e outras tantas vítimas da obsessão. O menino estava esperando. Mirta o observava pelo vão do assento a frente do seu. Lá estavam o menino e sua mãe. Mirta deslumbrava-se ora com a paisagem, ora com o exotismo das pessoas. Muito carregadas de não sei quantos cacarecos, traquitanas. Havia mesmo quem transportasse, com permissão da ferrovia, engradados de galinhas que ao romper da manhã desafinavam o cacarejo e sem cerimônia ejetavam tremendos ovos. Titicas a seguir, emporcalhando o assoalho carcomido do sonhado vagão. E o condutor nem aí. Para piorar a situação uma janela aberta a frente produzia ventarola de viés fazendo presente aos narizes de bordo o odor do galinheiro.
...Num repente, como se quase passando do ponto o veículo parou. Tinha chegado a seu destino. Sant'Anna. Pequena cidade rodeada por cercas vivas de parreirais. Terra generosa com as cepas do mosela. Esmerada no fabrico, tanto mais no consumo de seu próprio vinho.


15 de set. de 2008

Empulhando os otários de plantão

Quando se le um "causo" igual ao do Guabirova, ocorrido no início do século XX, lá na provinciana Cachoeira do Sul, salta aos olhos a candura dos participantes dessas empulhas. A malícia se restringia ao arquitetar do plano. Não havendo da parte da vítima do trote nenhum ressentimento para com os malandros embusteiros. Porque naquele tempo, ser vítima de brincadeira ou trapaça poderia facilmente desembocar em morte. Hoje, todos nós somos vítimas silenciosas do verdadeiro estelionato oficial. Num país dito inclinado ao socialismo (só se for socialismo de gaveta) não há sequer o controle, ou mera fiscalização sobre alterações inexplicáveis do dia para a noite no preço dos remédios. Querem ser socialistas deixando por conta do mercado, a lei da oferta e da procura, a regulagem dos preços. É uma farra! Agora, desde a muito tempo, nos vemos cerceados pelo molde capitalista de vida: consuma ou morra! Ganhe dinheiro! Mais dinheiro! Consuma, consuma, consuma... Não importa o quê, consuma. Geralmente bugigangas tais quais os produtos chineses inundando o mundo de cópias baratas das marcas mais famosas. Há ainda apelos mais elaborados destinados aos extratos economicamente superiores da sociedade. A esses incitam o consumo de bens caríssimos: carros de luxo, iates, imóveis, vinhos, viagens a lugares exóticos, hotéis suntuosos, jóias, etc. E nós somos as vítimas acovardadas dessas afrontas diárias. Nós nos encolhemos humilhados porque o que ganhamos diariamente não nos permite consumir senão as bugigangas e as coisas de segunda e terceira rejeitadas pelas classes com maior poder de compra. Recebemos assim uma educação pública de terceira ordem. Uma alimentação de terceira. Moradia de terceira. Vida de terceira. Valor de terceira, a não ser quando é tempo de eleição. Aí meus amigos nosso passe cresce repentinamente de valor. O voto do mendicante vale o mesmo do milionário. Portanto, certamente tentarão nos tornar vítimas de outro tipo de estelionato: as mentiras eleitoreiras; promessas de vantagens e benefícios comuns e individuais que raro - ou nunca, se cumprem.
[...] Nesse mundo cruento, injusto, absurdo, onde homens da política, clérigos, e classe intelectual conspiram a favor de um modelo capitalista rôto, cruel, desumano estamos nós: "olhinhos vidradinhos que nem jacaré!" (como canta Jards Macalé) - entontecidos pelas coisas brilhantes, pelas contas de vidro reluzentes que os homens de além mar continuam agitando diante de nosso olhar aborígene isento de malícia. Não percebemos as sutilezas do gesto amistoso, não detectamos as armadilhas, como diz Chico Buarque: "- A trapaça, por trás da trapaça/ é pura elegância!//" Mas para o trapaceiro, para o embusteiro que sempre logra engambelar o otário. Nós somos os otários. Os consumidores de lixo, otários. Os idiotas bombardeados com as obscenidades e escatologias aberrantes via tevê aberta. Nós somos os otários consumindo artigos, informações, serviços e arte, meus amigos nós consumimos arte de terceirta categoria. Otários, é o que somos, e merecemos o rótulo.

Ovos mexidos

O Guabirova

Guabirova era um quitandeiro, figura pitoresca das ruas da velha Cachoeira do Sul em princípio dos anos vinte. Na tarde do dia primeiro de abril de 1916 ele transitava com sua cesta de quitanda nas imediações do centro da cidade. Num bar próximo, do que seria o trajeto usual do Guabirova estavam bebendo e conversando os amigos Crespo, Maidana, Juca Laurindo, Sinhô Carvalho e o sapateiro Pompeo sempre pronto a destacar mais uma do seu repertório de artimanhas. Quando avistou o Guabirova com uma cesta de ovos, teve uma idéia. Acercando-se e mostrando interesse na compra de ovos, pediu a Guabirova que abrisse os braços e os apoiasse sobre o corpo formando como que um colo enquanto ia contando:
- Quatro e quatro oito e mais quatro doze. Uma dúzia...
E assim até quatro dúzias. Feito o que o malandro Pompeo desabotoou a frente da calça do ingênuo Guabirova e desapareceu rapidamente, deixando a vítima em situação crítica. Pois, se abotoa a calça larga os ovos, se salva os ovos fica sem as calças. E com os ovos de fora. As gargalhadas explodiram por toda a Praça José Bonifácio.




Publicado originalmente na revista Aquarela, em 1963.

13 de set. de 2008

Bolivarianos, agora com échio

Em tempos de crise na Bolívia, com francas manifestações anti Estados Unidos e ameaça de corte no abastecimento de gás para Brasil e Argentina, é bom ficarmos espertos. Longe de ser um pró-yanque também não sou besta de ficar cutucando onça com vara curta. Pra peitar esses caras é preciso muito mais do que as fanfarronices do Chaves. Verdadeiro títere desengonçado, vociferante e desmazelado. Pra afrontar os yanques se faz necessário golpear onde lhes dói mais: no bolso. Paulatinamente os Estados Unidos da América do Norte estão se tornando um país multi-cultural. Por muitos fatores a população yanque original decresceu abrindo espaço para os latinos, afro-descendentes e europeus do leste além de um sem número de imigrantes de outras nacionalidades; brasileiros inclusive. Vencer os Estados Unidos numa disputa armada, sonho de muitos desvairados como Sadam Hussein - e o fanfarrão Chaves vai no mesmo caminho, é, hoje em dia impensável. Os yanques, além de armamenmtos sofisticados, forças armadas bem treinadas, profissionais, têm dinheiro para sustentar uma campanha muito longa a exemplo doque acontece no Iraque. Truculento, Chaves perdeu a oportunidade de negociar com os estadunidenses o petróleo produzido pela Venezuela a preços majorados... Bom para o Brasil. Encheremos as "burras" de grana com o óleo leve da camada pré-sal, e, finalmente, fora de qualquer evento esportivo talvez se possa concretizar o sonho de um narrador brazuca: Aparecer
em horário nobre e com a voz empostada, garboso gritar "- Brasil, sil, sil, sil!" Com muito, mas com muito "échio".

11 de set. de 2008

Verborragia criptografada - ou silêncio subliminar.

Ufa! Passamos incólumes mais um fatídico onze de setembro. Bem, talvez nem tanto. Depois do fiasco futebolístico protagonizado pela seleção brasileira ontem num empate sem gols frente ao selecionado da Bolívia, surpresa: Eis que no programa do entrevistador mais rotundo do Brasil Jô Soares surge toda pimpona uma das filhas de Martinho da Vila, Martinália. Nada contra a sambista - sambista?? Tampouco nada a favor. De cada dez palavras pronunciadas - ou cantadas, tenho cá minhas dúvidas sobre a flexão correta deste verbo no caso dela, entendi mal e porcamente duas ou três interjeições. Voz roufenha um tanto semitonada, a cantora (?) fala - balbucia, ou melhor grunhe sons mais ou menos inteligíveis algo concatenados em arremedos fonéticos similares talvez a alguma proto-linguagem humana ancestral.
Da mensagem fática endereçada pela intérprete carioca extraí (ou presumo ter compreendido) o seguinte:
"- Mais ou menos[...] É[...] Assim[...] Ô[...] É[...] Ô[...]" E milhares de onomatopaicos.
Suponho ser a moça adepta à velha, utilíssima, engenhosa prática do telegrafismo.
Operador de comunicações nos meus tempos de exército confesso não ter sido capaz de transcrever cada estalo e zumbido produzido por ela. Certamente se tratava de um código secreto criptografado. Ao que tudo indica o telegrafismo criptografado voltou á moda. Quem duvida seja corajoso e ouça entrevistas gravadas com "artistas" como Latino, Kelli Key, Otto e meliantes como Salvatore Cacciola e Daniel Dantas. Os primeiros, primatas anencéfalos tartamudos, os segundos espertalhões lacônicos rutilantes... Êta nóis!

5 de set. de 2008

Nada de novo sob o sol

Em tempo de eleição presidencial nos Estados Unidos é bom pormos as barbas de molho. Se engana quem pensa ser indiferente pra nós a vitória de qualquer um desses candidatos. Democratas representados pelo afro-descendente Obama costumam ser mais favoráveis às reformas e menos belicosos, mas tanto quanto os republicanos partidários de MacCain defendem com unhas e dentes a política protecionista dos Estados Unidos contra os produtos importados pelo país. Não pensem que Obama ou MacCain vão ao menos cogitar um corte nos subsídios à agricultura estadunidense. Nada disso. Tampouco esperem redução na taxa de juros... A economia estadunidense há pouco ameaçava recessão. De bom para o Brasil talvez somente uma visão mais cosmopolita e menos preconceituosa por parte do candidato Barak Obama. Nada mais. Todavia, precisamos atentar para o resultado dessa eleição porque significará uma maior aproximaçõa dos Estados Unidos com os demais países americanos, caso Obama vença, ou a manutenção equivocada da política de Bush no caso da vitória de John MacCain. Enquanto isso os prefeitáveis na "Terra Brasilis" fazem de tudo para conquistar nossos votos. Como diria um antigo filósofo: "- Não há nada de novo sob o sol".

29 de ago. de 2008

Freud Explica?

A igreja católica romana continua sua cruzada: controlar a vida de seus adeptos. Exercendo costumeira pressão sobre as instituições políticas dos países onde é religião oficial a igreja determina quais atos são passíveis de inclusão no temido "index" católico... Influente desde sempre em todas as camadas da sociedade brasileira a igreja volta suas baterias para o congresso na tentativa desesperada de impedir a aprovação da lei que autorizará o aborto de fetos anencéfalos - sem cérebro.
Seus representantes, munidos dum discurso subjetivo, composto de frases de efeito por vezes incoerentes, apelativo e contraditório, insistem na manutenção do que definem como "direito à vida" a qualquer preço, em detrimento da saúde da mulher ou mesmo da condição da família e do feto natimorto. A intolerância encontra respaldo na tradição católica: manter controle absoluto sobre os fiéis, com maior rigidez no caso dos seres tidos para eles na conta de subalternos: as mulheres. Submetidas ao homem desde o antanho dos capítulos do gênese, aos olhos da igreja católica romana as mulheres continuam sem o direito absoluto sobre o destino de seus corpos e dos fetos gerados e nutridos dentro deles. Sob ameaças de excomunhão, o réprobo eclesiástico, a igreja mantém a proibição às mulheres da prática do aborto sob quaisquer circunstâncias...
No decurso da história, esta mesma igreja defensora ferrenha da vida intra-uterina governava o mundo ao lado e acima de seus reis vassalos, indefesos diante de seu terrível instrumento: a confissão. Acima do bem e do mal usava a igreja métodos pouco ortodoxos para obter vantagens pecuniárias ou políticas, tais como: tortura, sedição, simonia, venda de indulgências prometendo perdão para os pecadores mortos, escravagismo, chantagem, entre outras maquinações & trambiques que precipitaram a revolta de Lutero e a reforma. Desde o advento de Agostinho - canalha que se tornou santo, a coisa não está boa para o lado das mulheres. Agostinho vivente na Roma do ano 380 era um neurótico que após gerar um filho (Adeodato - presente para Deus) com uma escrava a conselho de sua "mamã" santa Mônica despediu-a e ao filho para desposar uma patrícia ricaça. Todavia algo estava fora de ordem e Agostinho virou o fio. Divorciou-se da segunda mulher e iniciou sua pregação fanática a favor da castidade, satanizando o sexo, e, colocando a instituição do casamento sob suspeição de pecado. Conforme Agostinho sexo é só para reprodução, gozar não pode. Os "enrustidos" seguiram os passos de Agostinho e no século XV a igreja instituiu a obrigatoriedade do celibato para seus membros (péssimo trocadilho).
Toda essa ronha desembocou na bisbilhotice e interferência da igreja na vida dos casais, bem como o desenvolvimento de relações politicamente promíscuas entre si e os estados nos quais está presente como religião oficial.
O único comentário possível da parte deste um anarco-comunista sobre tudo isto é o seguinte: Tratemos esta instituição conservadora, caduca, como um pesadelo recorrente desde a infância. Se não conseguirmos nos livrar dele apelemos a Sigmund. Pois já cantava de modo sábio um compositor popular brasileiro amigo meu: "- Freud explica!"
P.S Para aprofundar o assunto recomendo a leitura de EUNUCOS EM NOME DE DEUS da escritora alemã Uta Ranke Heinemann. Uma das maiores teólogas do mundo ela expõe como a igreja impos ao mundo suas idéias distorcidas sobre sexualidade humana.