Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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23 de nov. de 2010

UM CORAÇÃO

Viejo corazón... o de meu pai fraquejou no dia derradeiro de 31 de julho de 1982. Eu não soube de nada até que se tivesse consumado sua vida e ele já não respirasse a modorra fria do lugar onde morávamos... Viejo corazón. Na pieguice de sentimentos & confusões, decantado, me vejo sem querer lutar contra teus reinóis - estou à tua mercê!
Viejo Corazón, operário laborioso e sem soldo, não lembro de ter sentido algum protesto. E, mesmo em face da aflição atendias quando te rogava: Shhhh, acalma-te criança o tempo ainda não é já. Ainda não vais partir pra outros caminhos menos densos, outras sendas mais suaves, menos rudes sendas onde as paixões consumidoras se resolvem por esquecimento. Viejo amigo, perdi tuas redeas, te soltaste em disparada e não há freio para uster essa carreira louca capaz de precipitar-no num preccipício. Num abismo fundo, desventuroso, donde sequer um prisco de luz pode ecapar. Viejo Corazón, curtido "por la milonga" triste de uma vida a esperar ter mais e mais paciência. Mais e mais tolerância, mais e mais amor para te saciar de toda sede.
Viejo Corazón, debuchas cartas a esmo sem endereçar ou subscrever origem, porém agora, já não te faço censurar os desatinos tampouco temo a sorte de teu padecer. Anseio te ver bater descompassado. Desejo sentir-te pular-me do peito, sair das entranhas onde te aninhas, sob o risco de nunca mais me pertencer.

16 de nov. de 2010

GRANDES ESPERANÇAS

...As bergamoteiras estão florindo agora. A primavera dá provas de que neste mundo as coisas ainda não chegaram a um ponto sem retorno para a natureza. Pensar assim parece tolo nos dias de hoje. Quando o desejo é saber quais são os próximos avanços da tecnologia. As bergamoteiras do quintal da casa de minha mãe, alheias a transgenia ignoram solenemente quaisquer pontos de vista alheios ao ritmo natural da vida.

Tenho sido acusado de muitas coisas. De ser egoísta e mesquinho. Indisciplinado e maledicente. Não sei quanta verdade há nessas acusações. Talvez haja verdade absoluta, afinal. Sob o ponto de vista do outro, na ótica do próximo, a imagem tida por nós mesmos como a certa atravessa prismas diferentes. É bem provável terem os outros uma visão mais precisa de nós mesmos. Nós sofremos do mal da auto-estima exagerada; o egocentrismo ou narcisismo. Portanto, sempre tendemos condescendência para com todos os nossos defeitos; graves ou não. Estou aprendendo, todavia. Aprendendo que o desejo, como falava o Gautama é a mola da desarmonia. E ele impera sem freios. O desejo ávido por coisas. Metas, realizações pessoais. Aprendo o quanto é execrável evitar tornar o olhar sobre o outro. E quanto pesa compadecer-se dele. Por ser tal procedimento algo estranho aos dias presentes. E aos dias desde sempre. Eu. Tido na conta de um qualquer, um reles – por certo sou um qualquer no sentido de não ser mais nem melhor do que nenhum outro homem comum. Eu me entristeço. Só me entristeço... E buscaria refúgio no isolamento não fosse tal coisa um ato covarde. Os homens estão à procura de si mesmos lá fora. Eu me encontrei aqui dentro de mim. Nas deficiências de um ego imaturo – que é ser maduro afinal? Se for ouvir a razão, se for ser sensato, se for controlar a ira, então não sou tão verde assim. Mas, é essa a imagem cultivada por mim, e ela pode estar errada à vista do outro. O outro existe e está atento. Talvez por ser tão mais sábio, experiente e nobre, ele, ao contrário de mim seja incapaz de abdicar das coisas mais caras. Eu abdico em favor do outro. Não por altruísmo. Não por covardia. Justo o contrário. Por me sentir cansado de martelar diariamente o tresmalho das minhas aflições. E elas são tantas. Tantas. Sendo o outro, o próximo, invariavelmente, o alvo da minha preocupação. Entretanto, não sou douto em coisa nenhuma. Não sou estudioso das necessidades do povo, como uns e outros fariseus. Religiosos, portanto políticos. Políticos, portanto abutres. Abutres, e, por conseguinte carniceiros que afundam os bicos aduncos na carne morta e pútrida da "res publica". A coisa pública que não é de ninguém quando a responsabilidade chama e exige. A coisa que é de todo mundo no momento próximo a se obter alguma, pequena que seja, vantagem. A honra, e ao prestígio eu abdico em favor do outro. Sem susto. Embora seja consciente de que escrever este artigo seja um ato de grande vaidade.

Mas não é a mesma vaidade que levou Teresa de Calcutá a arrecadar fundos para os pobres da Índia. E os fundos arrecadados em vez de se transformarem em hospitais, escolas e creches desabrocharam no milagroso surgimento de conventos e outras inutilidades. Minha vaidade grita de dentro da sua tumba. A sua sepultura é nada menos que a consciência das necessidades do outro. Não por altruísmo, mas por pudor. Vergonha de enxergar meu semelhante degradado. Vergonha de vê-lo exercitar a paciência ou a aflição diária da miséria. Senhoras e senhores, isto aqui não é a Índia. Nem sou Mahatma Ghandi. Pelo menos ainda não é a Índia, nem o Haiti como cantam Gil e Caetano. Mas os pretos, os mulatos, os pardos e os brancos que são todos pobres e de tão pobres todos pretos, continuam levando porrada. E vão continuar levando porrada, porque são pretos, pardos, mulatos e brancos; e tão pobres. E eu vou continuar me incomodando com isso meus senhores. Até chegar o dia quando nada mais importará. Por obra da derrocada ou, quem sabe? D'uma mudança nos ventos da história fazendo com que nos tornemos mais civilizados. Como as formigas...

Convivendo bem com as formigas que pastoreiam seus rebanhos de pulgões sobre as suas folhas, as bergamoteiras estão sonhando já com a madureza dos frutos que rebentaram. Alheias a minha gula por eles elas aceitam com prazer o sobrevir do sol e da chuva com igual satisfação. Entretanto, como homem comum. Como cidadão e pessoa habitante deste mundo eu não encontro a mesma satisfação nas coisas que vejo. Rogo para que numa outra primavera tudo possa estar melhor. Afinal, como homem comum, a exemplo do personagem do mestre Charles Dickens eu tenho grandes esperanças.



8 de nov. de 2010

AMOR & BOSSA

Não me venham com proposições grandiloquentes... Não me falem sobre as maravilhas primeiro mundistas: sobre as belezas claras de cidades limpas e cheirosas - sem favelas. Sobre as delícias paradisíacas e seguras de lugares assépticos. Não me falem dessas besteiras anacrônicas. Me falem se são felizes esses homens e mulheres trôpegos que saem sós das casas noturnas, ou que, se acompanham dos serviços de profissionais do amor. Me digam se enganam suas vidas frias e feias consumindo e consumindo bugigangas reluzentes. Me digam se eles e elas sentem as tripas revolverem-se ao olhar os olhos fundos e misteriosos de quem lhes fita com promessas de paixão. Me digam se são amados.
Não me falem de palácios suntuosos. Não me falem das maravilhas arquitetônicas espalhadas pelas cidades de um  mundo caduco, ora bobo e incivilizado. Por culpa da senóide histórica em constante movimento. Pois lhes digo ao amor pode faltar tudo. E ainda assim teimará existir. Não me falem de nada os que secaram por dentro. Não me tornem os olhos aqueles que se amarguraram. Porque não comungo consigo as idéias de sofrimento. Sofrer, para o amante é um exercício filosófico. E torna o tolo em sabedor das coisas que contam nesse mundo cão.

4 de nov. de 2010

Não é tempo ainda





















Gustav Klimt - O Beijo


Eu deveria estar orgulhoso, afinal pequenas vitórias somam-se para ajudar o velho ego a saber-e estimado. Eu deveria  postar as fotos e vídeos feitas ontem no Vinícius Bar em Ipanema Rio de Janeiro, onde, a convite de meu amigo e parceiro musical Otávio Segala, acompanhado de Carlos Berbel, tive três participações e fui aplaudido efusivamente... Eu devia me orgulhar em ter acertado o arranjo de uma música inédita apresentada pela primeira vez em público nessa ocasião, composta por nosso amigo Luís Otávio Almeida. Um Samba jazzístico de primeira linha que interpretei. Eu deveria estar orgulhoso e contente de estar há quarenta dias no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, onde fiz muitos amigos, e, ter-me posto em atividade. Pesquisando a história tão necessária para o complemento de meu livro - em processo de escrita. Eu deveria. A exemplo de Raul Seixas, a exemplo do padre pimpão que dança,  pula e saracoteia, a exemplo do pastor evangélico que escorcha o povo 15 minutos depois de começar o sermão; 15 minutos. Esse usurário vendilhão... Eu deveria isso e deveria aquilo. Porém não sou isso nem sou aquilo... Sou o que sou. E o que sou é do tamanho de minha aldeia. E tudo do que vejo cabe nas dimensões reduzidas do que é minha aldeia, que sou eu mesmo encastelado... Tal Fernando Pessoa na "pessoa" de Alberto Caieiro seu heterônimo.
Eu deveria supor que o futuro me reserva uma auspiciosa bem aventurança. Todavia, se não houver um motivo para eu desejar tal favor do destino, de que vale meu esforço?
Eu deveria ter ficado quieto em meu canto quando era hora de recolher meus sonhos. Ou ao menos te-los sonhado baixinho. Para que ninguém ouvisse. Eu deveria ter aquietado meu coração e dito: Shhhh meu coração! Não é tempo ainda.