Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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26 de abr. de 2011

VAI RALANDO NA BOQUINHA DA GARRAFA

Meu programa televisivo predileto nos tempos de menino era comandado pelo Tio Tony durante as tardes da extinta TV Difusora de Porto Alegre. Nos idos de 70 essa emissora riograndense retransmitia a programação da TV Tupy de São Paulo. Com a falência da Tupy em 1978 a TV Difusora passou a retransmitir a programação da Bandeirantes. E justamente Paulo Roberto Brito Martins, o Tio Tony divertia a gurizada com mágicas e brincadeiras ao vivo no seu Carrossel Bandeirantes. Exibindo como atrações principais os Troopers, e desenhos como Space Ghost. Eu e meu vizinho Clairson, munidos de uma imensa jarra de Q-Suco de groselha (uma espécie de corante em pó saborizado) com bastante gelo, religiosamente assistíamos as mágicas e peripécias da turma do Tio Tony. Mágicas aquelas, que, mais tarde sem sucesso tentávamos reproduzir, à custa de alguns pequenos acidentes domésticos.

Nos anos noventa, adulto, nem tanto maduro, mas adulto. Depois de ter passado dois anos no exército arranjei emprego em uma firma próxima de casa. Conforme meus horários (turnos de trabalho) permitiam eu assistia a programação infantil das emissoras abertas sempre atrás de meus desenhos favoritos. Na década de noventa o "boom" eram Caverna do Dragão e X Men. Todavia, desde os tempos ingênuos do Tio Tony as coisas haviam mudado. Rareavam apresentadores dotados de alguma pedagogia capaz de conferir tratamento didático ao programa como Danyel Azulay, Tio Tony e a turma do Bambalalão da TVE que eram craques em fazer rir sem apelar às baixarias. Numa era pré Ratimbum, que depois transformou-se na ótima série Castelo Ratimbum, produzidos pela TV Cultura de São Paulo, o que se via em matéria de apresentação de programas infantis era o holocausto. Dentre as folias mais ordinárias alguns apresentadores realizavam concursos de rebolado na "boquinha da garrafa". Um sucesso(?) da época com o grupo Cia do Pagode... A coisa toda era de uma bizarria sem par. Punha-se uma garrafa de cerveja de 600ml em pé no chão, e, uma criança ou adulto rebolava sobre o bico da garrafa. Sem encostar o ventre ou as nádegas na garrafa, mas insinuando a penetração.

O ensejo ao apelo erótico não se tratava, nem se trata de uma casualidade. Precisa-se falar com clareza os motivos da indústria e da mídia para promoverem dessa deturpação de valores insistindo em colonizar precocemente "corações e mentes" infantis levando-os a irrestível vontade de consumo. Pouco importando à mídia ou ao mercado que lhe sustenta, a erotização precoce das crianças, ou qualquer das mazelas que disso decorre. Conquanto quaisquer dos modismos lançados: Maquiagem, calçados de pástico, bonecas, e, um sem número de bugingangas supérfluas atingisse o mínimo satisfatório de unidades vendidas.

Nesses programas ditos infantis os jogos propostos estavam baseados em competição. Até aí tudo bem. Entretanto todas as provas disputadas por dois times rivalizavam meninos e meninas. Não haviam times mistos. Algo pedagogicamente nada saudável. Gerando uma espécie de regra maniqueísta, afirmando a total impossibilidade de concórdia e cooperação entre os gêneros.Tal política de exclusão parece ser uma coisa incidental, todavia sinaliza de modo enfático ao insconsciente infantil que a atitude recomendada quanto às escolhas é: Escolha sempre aquilo ou aqueles que são iguais ou mais parecidos a ti. De certa forma fazemos isso naturalmente. Por essa mesma razão esse aprendizado vem de maneira instintiva não sendo necessária a queima de etapas. Contudo, quando se divide um grupo por sexo e não por faixa etária ou outra identificação, se está mandando um recado claro: Meninas são assim, meninos assado. Isso só gera conflito e preconceito.

O programa do Tio Tony, assim como minha mocidade ficaram lá no antanho. Mas a permissividade que sempre foi tônica na sociedade brasileira continua sem resposta para a bandalha generalizada por alguns irresponsáveis. Longe de mim querer bancar o moralista, apenas sou de opinião que cada coisa tem sua hora e seu lugar.

DOM QUIXOTE & SANCHO PANÇA










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"Das alucinações, foi ter Quixote/dom para as maiores escabruras/ai de mim, fiel igual Sancho/ai de mim, descrente que nem o burrico/a enxergar com clareza/todos os arranha céus que assolam este mundo..." Escrevi estes versos há muito tempo. Pois, hoje duvido continue eu a enxergar claramente as coisas desse mundo. Minha vista se fez baça, meu juízo vão. Minha consciência, experimentando a lei inefável da entropia tornou-se obtusa. Sombreada pelo tempo. O tempo a revolver a entranha dos viventes. Pois se antes eu era certo de todas as figuras, se distinguia claramente o imaginário e o real, hoje capitulo à mente quixotesca. O devaneio do alquebrado cavaleiro andante tocou minha fronte com gentileza, fiz-me louco. Tal e qual Dom Quixote. E, as ilusões  antes refutadas pelo escrutínio panço da mente simplória de Sancho tomaram de assalto meus olhos e meu coração. Eia! Enfim, lúcido. Eia, enfim desperto! Um mago, um demiurgo, um homem pássaro habitante de Theotihuacan ! Um verme luminescente, uma flor! Posso ser qualquer coisa. Qualquer ser miúdo e rastejante! Louco! Liberto. Ubíquo, experimentando simultaneamente  o desempenho de dois papéis na farsa mundana: o devaneio de Quixote, airoso e nobre defensor da causa humana, e, o resto de turra afeição ao ponderável ao qual insiste se aferrar o pobre Sancho Pança.

AS FALANGES DE ALEXANDRE


















"Barão sem chaves,/e assinalado/ por umas naves"/que sempre vão;//" - Jorge de Lima - Canto Décimo - Missão e Promissão. Invenção de Orfeu.

Não foi a astúcia a qualidade responsável por minha existência. Não foi o medo ou a verdade. Mas foi o amor. Não me soergui da campa fria como náufrago redivivo de longa e solitária jornada atado a um caixão, como pinta a cena de   Herman Melville em Moby Dyck. Tampouco cavouquei a terra para fora da tumba. Não  foi a insistência, ou algum tipo de ridícula teimosia, responsável por minha estada aqui mas, o amor. No-lo confundis com paixão? No-lo mistureis à demência variada da consciência humana? Sim. Sim. Sim...
Todavia insisto em afirmar: não foi à guisa de curiosidade minha vinda entre vós. Tampouco a vaidade mo trouxe. Somente o amor. 
Ora assisto impassível o manobrar das suas legiões no campo contra mim. Ora vejo enlutado suas fortificações se levantarem em praça forte acerca de mim, a fim de não permitir aproximar-me muito além das sarissas apontadas contra  meu peito encouraçado. 
...Ouve: Não somos nós inimigos. Não saístes vós a campo como Otávio para bater Marco Antônio. Não tramei contra vós, não roubei o fogo vivo de vossa existência para ofertá-lo às gentes mundanas por pão, riquezas efêmeras, cousas de reluz e brilho... Pois sem o sol nenhum brilho haverá. Não sou Prometeu, nem vós sois Júpiter, Freya, Athena ou Afrodite. Ouve. Estou cansado de repetir ciclicamente a dança e o conjuro de auspícios sem cumpri-los. Guardai isto: Não há desvio possível nem chance de mudança. Destino  escreveu em seu livro, cedo ou tarde, longe ou perto, tudo estará consumado.

23 de abr. de 2011

ASSOMBRAÇÕES








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O labirinto

[...] a estória assemelha-se ao labirinto sob o palácio minoico. Cabe ao narrador percorre-lo. Mas, palavras nem sempre são garantia de retorno seguro ou sucesso na empreitada. As palavras são diáfanas. Desmancham-se no ar sem deixar pista. Não são como o fio de Ariadne.
Resta, entretanto, escolher a personagem que melhor possa representar o narrador. Será Teseu ou Minotauro? Quiçá nenhum dos dois, quem sabe? Seja o narrador também uma de tantas vítimas do labirinto onde meteu-se à busca de fama e galardão.
[...] todos os meus fantasmas tomam de empréstimo minha voz...
A entropia é um princípio, uma lei descoberta por alguém sem nada pra fazer nesse determinado dia. Se ela é real, não importa. Talvez seja mais uma invenção inútil & filosófica do intelecto para expressar uma falsa ideia de entendimento sobre coisas fugidias ao entendimento humano. Fenômenos causadores de perplexidade. Se os elétrons bailam em derredor do núcleo atômico a distancia razoável. Que matéria ou substância pode ser considerada sólida?
Todas as coisas, criaturas, pensamentos, se compõem de vácuo. Por isso são instáveis, voláteis, efêmeras, etéreas. Todas as coisas viventes ou não: as estrelas, os mundos, as nebulosas, os quasares, as flores, as gotas de chuva e as sensações. Talvez, só mesmo a metafísica possa querer explicar o amor. Seu movimento cíclico; onda, ora rebentando furiosa nos rochedos das encostas, ora morrendo mansa n’areia. Lambendo os pés de quem caminha na beira dessa praia.
Todos os meus fantasmas tomam de empréstimo minha compaixão...

17 de abr. de 2011







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O livro aberto do silêncio nada é senão páginas em branco diante dos olhos de um cego. Não é mais nada a não ser a ventana aberta por onde entra o sol sem licença, sem perguntar nada. Tal como vem, vai-se embora. O livro do silêncio deixa á mostra essa gengiva albina da folha feita branca pela ação do cloro... Não sei quando voltarei a borrar meu livro com debuchos e garatujas feias. Não sei quando voltarei a colori-lo ou se terei motivos para tanto. Meu livro aberto do silêncio, posto assim sob a mesa da cozinha onde outrora havia barulhos de gente pela casa. Hoje minha casa e meu livro estão silenciosos. Não estranho porém, um tal silêncio. Pois de fora há o balbuciar do vento ciciando as folhas das bergamoteiras, do araçá recolhido e seu outono e do gabijú sempre frondoso a esperar eternamente uma nova primavera. 

16 de abr. de 2011

Dias sombrios

...os dias são morrudos e graves agora cá, e toda gente se agasalha. Agasalha-se. Que adianta. Vem sopesar o desespero para as famílias que marchavam felizes numa certeza ilusória de que não há fim. Porém, o fim é tudo quanto há neste mundo vago e impermanente. Onde cada um sonha em separado um destino nem sempre bonito ou venturoso mas, seu. Próprio e consagrado ao ego esse deus menor que habita o homem no saber do homem, no querer da vida humana... os dias são morrudos e plúmbeos, há ventos frios e tentamos nos confortar, porém os mortos teimam em brotar da vida tenra, e os pais se desesperam. Sobreviver ao filho eles não desejam. Acontece. Sempre acontece. E por eles me compadeço. Por meus vizinhos. Por sua filha morta. Pela irmã mais velha perdida pela caçula, pelo sofrimento do vúvo e dos filhos... são dias morrudos que acontecem nem bem finda o verão... 

VAPOR BARATO

O cansaço arde no peito: eu não sabia. ...um vento frio sopra de nordeste e a pessoas se agasalham do silêncio num riso nervoso, tenso... eu não sabia. Este mundo não é perfeitamente esférico, tampouco existe perfeição nos limites da natureza, disso eu suspeitava desde o princípio mesmo antes do Chapolin Colorado inventar o bordão. Mas, sim. Eu estou tão cansado, com minha calças vermelhas e meu casaco de general - disse Wally Salomão e cantou Jard's Macalé... Wally esqueceu de deixar pronta a fórmula, o elixir pra esse cansaço... Hein poeta? Hein? Como se desce desse carrossel? Hein poeta, hein?
O cansaço martela a frio nalma da gente, o peito arde, o coração se precipita, sangra, ameaça greves, quer parar. Impetramos uma liminar... Mas hein poeta, me diz, como se faz pra chantagear um coração cansado?
...ah meu poeta "Eu estou tão cansado...".