Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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30 de set. de 2011

UM ANJO TORTO

"Quando eu nasci/um anjo torto/desses que se escondem nas sombras/disse: vai Carlos, ser gauche na vida!//" Quando Carlos Drummond de Andrade concebeu o Poema de Sete Faces pensava em gente como eu... Gente etérea, gente errada, gente que nem se sabe gente. Porque o bom cabrito é bom, e porque gente boa igual ao cabrito vai ao matadouro com um sorriso. Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema pensava nos tortos avulsos. Não quis o poeta, magnânimo, ser indelicado e nomear os bois, ou os cabritos, ou as gentes, um a um. Lista interminável... Foi cândido o poeta, generoso, ofereceu-se ao holocausto de um anjo torto que de si, de seu nascimento, passou longe, e foi bater na porta daqueles  a quem Aldir Blanc "denunciou" na letra de Gênesis (Parto): " Quando ele nasceu sacaram o berro/Meteram faca, ergueram ferro.../E Exu falou: ninguém se mete... Quando ele nasceu tomaram cana /Um partideiro puxou samba.../Aí Oxum falou: esse aí promete...//" Não, caros amigos & vizinhos, Carlos Drummond de Andrade não quis nunca ser indelicado. Porém eu, Maculelê dos Santos, ora vulgo Alexandre, aponto minha imagem refletida na vitrine da boutique da felicidade e digo: Põe meu nome na lista Poeta!

25 de set. de 2011

OUTROS PARANGOLÉS

...Mas, hein? Ando me aprofundando, pois é, ando chispado, como diria meu amigo Marcelino Freire: "é Bangalafumenga". Como dizia, tenho me aprofundado n'algumas coisas, entre elas, peguei mania de prospectar (gostaram dessa? prospectar - verbinho empolado), pois é, de vez em quando flagro a mim mesmo em plena prospecção. Vasculho o youtube, myspace, reverbnation, clube Caiubi, sonora, etc. etc. O que procuro? Indícios. Indícios - calma, tentarei explicar. Do que tenho ouvido, dentre os experimentos (coisa normal para quem chega e deseja mostrar novidade) e a condução (intuitiva às vezes) de linhas mais tradicionais do cancioneiro popular brasileiro. Cancioneiro desdobrado em um leque amplo e abrangente. Noto as tentativas, desde o começo do novo século, em dar maior "sensibilidade" às canções. Mesmo, que para isso seja necessário teatralizar o canto. E tal condução, que não reputo seja forçada ou de mau gosto, justo o contrário, deixa em prejuízo muita vez a harmonia e a melodia. Que se simplificam. E tal simplificação alcança o ritmo de tal forma a fazer com que todo compositor que envereda nesse caminho "alivie" o andamento em prol do verso. Me refiro, àqueles que estão na mídia, pois, há compositores de temas muito sutis, rebuscados e belos como as canções: "Circe Cabaret e Mr. Hide" de Diego Silva; "Apoema" de Otávio Segala e Clóvis Itaquy; "Cecília" composta por este modesto autor e por Ita Arnold, etc. etc. que não o fazem. Ou seja, não reforçam um único viés da canção. Preferindo o risco do excesso ao esvaziamento da forma e o abastardar do conteúdo. Não. Não acho de meu gosto esse modo novo que se achega, eu o aprecio. Localizei no youtube videos da cantora Letuce, adicionei aos favoritos. Me deparei por intermédio de minha namorada com a obra de Maria Gadú, de Leandro Leo e outros tantos não frequentadores de minha praia, de meu "groove" abatucado. Gostei de canções e de diversos autores e intérpretes que ouvi (nem todos). Ser reacionário me perdoem é próprio da minha "antropofagia" Tapuia & meu ziriguidum Bantu... Todavia, sinto, e é isso mesmo: apenas a ocorrência de uma sensação, que essa nova obra está em aberto. É uma obra em curso em progresso. Mais que uma busca por uma nova linguagem, talvez nem tão nova pois em nada supera o experimentalismo tropicalista, se trata da sedimentação de um discurso diferente. O teor desse discurso é bem outro daquele propagado até a década de 90. Se trata de uma linguagem suave e descomprometida de qualquer postura afirmativa e pessoal. Tanto letra quanto melodia perderam a "assinatura" de seu autor porque passaram de obras afirmativas de um ponto de vista a simplesmente obras. Isto é ruim? Não, acho que não, trata-se apenas de um ângulo novo da visada desses autores. E tais obras  serão arte? Claro que sim. Uma arte musical diversa daquela da velha escola da MPB ou de renovadores do cenário musical brasileiro como Cazuza e Renato Russo. Diferente desses o novo discurso prefere não assumir nenhum tipo de comprometimento. Quer apenas "causar" sem declarar-se favorável à essa ou áquela bandeira ou proposição, seja por falta de base (como diria Mariana Blanc) ou por cagaço como eu digo. Reputo isso ao vaticínio de Andy Warhol "No futuro toda gente será famosa durante 15 minutos". E, ao que tudo indica essa fama depende em muitos aspectos de desagradar o menor número possível de consumidores, ainda que o "produto" posto á disposição não seja lá essas coisas.

20 de set. de 2011

NA CADÊNCIA DO SAMBA

AH TÁ BÃO! EU SOU MACULELÊ MAS, PROMETO QUE VOU ME COMPORTAR. SEREI BONZINHO. NÃO VOU DIZER QUE ESTRANHO ESSA PÁ DE GENTE QUE FAZ CARAS E BOCAS E QUE RITUALIZA, MISTIFICA, FINGE EMOÇÃO. PRA APARECER NAS FOTOS, NA FILMAGEM. AH TÁ BÃO! EU SÔ TINHOSO MESMO MAS, PROMETO QUE VO ME SEGURAR. NÃO VOU FALAR QUE ACHO TRISTE E ENGRAÇADO "TODOS OS ARTISTAS" TÃO REBOCADOS, TÃO MASCARADOS, TÃO "ACINTURADOS", CINCHADOS E POSANDO DE BEM ME QUER... MAS, É SÓ RASPAR O VERNIZ, E CAI TUDO POR TERRA. E LÁ SE ENCONTRA UM TROUXA (COM DINHEIRO - VAMOS ESCLARECER), UM IGNÓBIL, UM ZOILO DE PAI E MÃE CUJA SENSIBILIDADE EMPRESTOU DOS ROMANCES MAIS CHINFRINS & DA CULTURA DE ALMANAQUE. FOLHETINESCA JORNADA PELO LUGAR COMUM, QUE DÁ EM LUGAR NENHUM. AH TÁ BÃO! EU SOU ERRADO SIM. PROMETO QUE NÃO VOU RECLAMAR. DA ARTE INDIVIDUAL OU GRUPAL (SWING? -KKK) QUE TEM POR FINALIDADE MOSTRARA BONICE, A QUERIDICE, A BREJEIRICE, A MEIGUICE, A FACEIRICE, A CAFONICE, O DISSE ME DISSE DO FEIJÃO & ARROZ TRAVESTIDO DE CARMEM MIRANDA - CANTANDO NADA PARECIDO COM A MONUMENTAL INTELIGÊNCIA POÉTICO/RITÍMICO/MELÓDICO DE UM ASSIS VALENTE OU DE UM ARI BARROSO. NADA. CANTANDO E SARACOTEANDO NO VAZIO DAS FURNAS ONDE SE ATERRA O LIXO NOSSO DE CADA DIA, TODO DIA... E SOBRA CHORUME. SE AMONTOAM ESSAS PORCARIAS NOS OUVIDOS JÁ MUITO URBANOS DESSE BRASIL SIL SIL E CRESCEM OS MORROS DO "BUMBA" QUE EM NITERÓI DESABAM, SOTERRANDO O AMOR QUE EU TENHO PELA COMUNHÃO. PORQUE MÚSICA PRA MIM É COMUNHÃO. É A CASA DE DIRCEU NA MINHA LEMBRANÇA QUANDO AO LUAR AS RODAS DE SAMBA INVADIAM AS MADRUGADAS QUENTES SOB O LUAR DE DEZEMBRO. É A MEMÓRIA DE TIO VARDÃO, DE SEU EUGÊNIO, DOS CHORÕES DO BAIRRO. MÚSICA NÃO É A EXALTAÇÃO DE UM INDIVÍDUO OU DE UM GRUPO DE INDIVÍDUOS. ELA É O ELO DE LIGAÇÃO ENTRE TODOS, TANTO SEUS EXECUTORES QUANTO SEUS OUVINTES. AH TÁ BÃO! NÃO PASSO DE UM "ZÉ MANÉ METIDO A GENTE"! MAS MEUS AMIGOS, AINDA QUE EU SEJA SÓ UM OUTRO DENTRE MILHÕES DE "ZÉS" CÁ NESSE PEITO BATE UM CORAÇÃO AMOROSO, RUFADO NO SAMBA, NO QUICUMBI, NO BAMBAQUERÊ. COMPASSADO LENTO NOS ACALANTOS, NAS CANÇÕES DE ESPERA DO AMOR SENTIDO, QUE DÓI DE VERDADE. DÓI SIM. - BOM QUE DOA - CÁ NESSE PEITO BATE O CORAÇÃO DE QUEM AMO, RITMADO NA CADÊNCIA DE UM BATUQUE, DE UM BLUES, OU, ÁS VEZES, DE UM SAMBA CANÇÃO.

19 de set. de 2011

A VERDADE DA CANÇÃO

Ouvir a verdade magoa um bocado porque fere o ego, e o ego é um monstro faminto que julga-se eternamente "aquele que deve ser acatado"... Hoje eu ouvi a verdade. Ela vergastou meu dorso com seu azorrague. Foi necessário. De que outra forma um brutamontes dá atenção a ela? Com gentileza? Já souberam de quem usassse de gentileza para externar mágoa? Já souberam de alguém que sofreu vergonha real sem consternação? Eu ouvi a verdade. Não zombou de mim. Foi polida, foi justa, foi didática.  Devido a minha constituição psíquica, devido ao caráter falho - não a ausência dele, dexei vir á tona o monstro egoísta, e esse um devorador de sonhos acabou por magoar a musa... 
Não fui humilhado pela verdade. Contra ela não tive argumentos. Sofri o castigo e foi pouco. Já nem me importo em sentir dor. Essa é benigna, essa corrige. Não é aquela que dói n'alma quando aos oito anos se é espancado sem saber o motivo. Não. Essa dor é meio que uma tristeza, uma desesperança, isso é o que a verdade traz. Ela te aponta os erros e rouba as ilusões mas, estranhamente a verdade não te humilha. Não, não te humilha como quando aos doze anos apanhas no rosto e és indefeso, e choras, choras um choro miúdo, contido de uma tal maneira, represado ao ponto de te endurecer por dentro e sentires que se não o deixares sair se vira em pedra. Teu coração se vira em pedra. Hoje a vergonha mais uma vez voejou sobre mim como Palas a coruja de Athena. Inutilmente tentando me transmitir alguma sabedoria. Inútil pois a confusão se instaura quando o medo surge e tu te sentes nada, reles, vil. Tantas vezes vil e baixo, insignificante e baixo. Indigno e tolo, e pela tolice própria dos tolos um que é capaz de pecar três vezes trezentas vezes o mesmo pecado, e para esse vos digo já não há perdão. Senão, que da terceira ou quarta vez já não havia... Vil e tolo, em devaneio. Vil e tolo como disse o vate português no Poema em Linha Reta. Pois a verdade veio fustigar-me o flanco com as mãos pesadas, as mãos justas, não aquelas das quais com vergonha me defendi aos 15 anos, hábil e pronto para revidar. Sem o fazê-lo, porque o revide doeria em mim mais de dez vezes. Porque o revide representaria o limite de uma vergonha que eu não poderia ultrapassar. ...não estou cá dizer tais coisas para que sintam piedade. Tampouco busco em vós qualquer nesga de afinidade ou comiseração. Só vos digo em desabafo: esse vinho é amargo, difícil de tragar... ainda assim sacia toda sede.