Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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12 de dez. de 2014







 




AD LIBITUM

- Ave César! Saudou o escriba ao adentrar o scriptorium do palácio, de pronto tomando assento. Em mãos o belo tríptico de marfim cuja face encerada estava pronta para, ao toque do stilus, registrar as palavras do imperador. Adriano estava distraído na leitura de um pergaminho grego, soergueu os olhos de sobre o pergaminho, largou-o sobre a mesa. Coçou a cabeça raspada à moda dos gladiadores. Sorriu gentilmente para o jovem Timeu seu mordomo e secretário.
- Gostaria de rever a Ibéria! Disse o imperador.
- Ah, sim a Ibéria! Repetiu o jovem... César, a pax romana foi instaurada na Germânia. São Boas novas. Proferiu o jovem escriba com certo entusiasmo.
- Os campos ondulados da Ibéria... Nasci na Galícia, próximo à fronteira da Lusitânia. Divagava Adriano.
- César! Agora a Germânia se põe a serviço do império.
- Sim meu caro Timeu. Não estamos todos a serviço do império? Antes de Roma a Gália, Ibéria, Lusitânia, Líria, Trácia, Dalmácia, Germânia... Não eram além de territórios bárbaros. Povos hostis, ameaças potenciais a Roma. Agora são parte do império. Que proveitos tiram disso?
- Bem, acredito termos levado civilização a eles.
- Civilização? Civilização... Ora, a Grécia era civilizada e culta enquanto os latinos viviam de comer as sobras da antiga Etrúria. O Egito floresceu no tempo em que deuses viviam entre os mortais. Babilônios, Assírios e Hebreus contam mais tempo em sua história que todos os estados sob domínio romano e mesmo o próprio Egito... Civilização. Repetia Adriano. Uma palavra cara meu amigo e de significado ambíguo. Olha a teu redor. Vê todos esses trastes, adornos de nossa vaidade. Isso traduz a civilização? Moeda sonante, poder, influência. Resultantes da civilização. Quando Roma instaurou a pax romana entre os bárbaros seu intuito foi à salvaguarda de suas fronteiras. Em troca da submissão levamos aos bárbaros um pouco de luz: escrita, filosofia, arte e um sem número de práticas execráveis. Em troca lhes exigimos ouro, trigo, braços para o trabalho. Homens para as fileiras das coortes e legiões. Sacrifícios em troca de frivolidades; exigimos-lhes essas pagas. Tudo porque Roma, viciosa, decadente, não pode prescindir ao luxo. ...Um homem pode sobreviver sendo um completo imbecil. Não é necessário que saiba escrever, tampouco compor música. Todavia nenhum homem sobrevive sem pão.