Pétion-Ville bairro nobre de Porto Príncipe - Haiti
Pensem no Haiti, rezem pelo Haiti... Gil e Caetano profetizavam quando compuseram essa música. Enfim, a hecatombe mais ou menos anunciada chegou para os haitianos. Foi como se alguém tivesse jogado uma bomba de hidrogênio naquela metade da ilha. O terremoto parece não ter surtido o mesmo efeito devastador na vizinha República Dominicana. Ao menos metade da ilha safou-se do desastre. Agora organismos internacionais sob a chancela da ONU tentam prestar socorro e minorar a carência total das populações atingidas. Porém, em meio a tanta boa vontade internacional se verifica uma tremenda falta de ordem. Não há organização para nada. A comida e água potável não chegam em quantidades suficientes para um contingente de pessoas que não tem mais nada. Nada lhes restou. Nem dignidade. Quem afinal criou as condições para que o horror de tal magnitude encontrasse as condições ideais para se instalar no Haiti? A resposta vem fácil: primeiro os espanhóis depois os franceses se apossaram da ilha. Escravocratas eles fizeram do Haiti um enorme canavial. Sua indústria açucareira tinha por fim competir com os engenhos brasileiros no século XVIII. Todavia os escravos liderados inicialmente por um escravo: Toussaint l'Overture e posteriormente por um de seus seguidores Jean-Jaques Dessalines iniciaram em 1801 um processo para tornar independente o Haiti, tudo se concretizou em 1804 com a expulsão da ilha das tropas francesas. Após uma sucessão de ditadores o Haiti conheceu em 1957 a sinistra figura de François Duvalier o "Papa Doc" (o Doc do apelido de Duvalier se deve ao fata de que ele era médico sanitarista). Por 15 anos ele manteve o terror entre os haitianos se utilizando de sua milícia secreta os "tontos macoutes", algo como "bichos papões". Um misto de polícia secreta e mercenários a serviço do estado eles aterrorizavam a população pela violência e práticas vodus. Morto em 1971 Duvalier foi sucedido por seu filho Jean Claude Duvalier o "baby doc" que deu continuidade ao reinado de terror do pai. Em 1986 foi deposto por um golpe militar. Após uma sucedânea de militares no poder, em 1990 ocorreram eleições e Jean Bertrand Aristide foi eleito presidente do Haiti. Todavia poucos meses após a eleição Aristide foi deposto por militares, e, só com o apoio dos Estados Unidos voltou ao poder em 1994. Contudo, o ciclo de miséria, violência e corrupção no Haiti continuou. Rebeldes contrários ao governo de Aristide fizeram com que em dezembro de 2004 ele fugisse para a África e o Haiti sofresse intervenção da ONU. Tudo isso sucedeu ao pequeno país caribenho em relativamente curto espaço de tempo. Tribulações, desmandos, assassinato, corrupção. Ao que parece uma parcela mínima da população haitiana, algo em torno de 10% dos habitantes passou ao largo dessas dificuldades. Ocupantes do bairro Pétion-Ville são como fantasmas. Não se fala nels nos noticiários. As ruas do bairro rico são zona proibida para a pobreza e imprensa internacional. Após o terremoto muitos desses ricos haitianos deixaram o país como forma de prevenirem-se de ataques da parte daqueles sem presente e sem futuro que ora vagam nas ruas como zumbis (figuras míticas do culto vodu) a procura dos corpos de seus parentes, e que se engalfinham por conta de um pedaço de pão ou uma garrafa de água. Repetindo o que disseram Gil e Caetano na canção eu exorto a todos: "Pensem no Haiti", e, caso não possam ajudar solidarizem-se fazendo lembrar a todos que não podemos deixar nosso país chegar a isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário