Houve um tempo quando os doutores da lei, assim ditos e jurados e convencidos, eles prórpios de suas faculdades mentais sãs - isto é percebiam uma realidade mais real do que a percebida pelos demais homens comuns. Porque atinavam. Seu tirocínio superior beirava a deidade, tal como é hoje. Uma palavra atravessada a um desses quaisquer significaria prisão, degredo, tortura, morte. Pois houve um tempo quando tais sumidades, à guisa de fazerem cumprir a justiça mandavam por á ferros todo e qualquer ser humano que demonstrasse uma, digamos assim, discordância quanto a percepção dos parâmetros convencionados como pertencentes á realidade. Assim, os loucos eram postos á força em navios velhos, tomados contra hipotecas e letras não honradas de armadores espertos.
Equipados com essa gente bendita, cuja mente tem a faculdade especial de frequentar os dois mundos a que nós por vias de sonho percebemos vez ou outra, a "stultífera nave" singrava mares jamais dantes navegados. Certo que desses mares nenhum desses navios voltou. Não consta que alguma dessas naves tenha alguma vez aportado...
Tenho dois amigos que se interessam pela questão. Dênis Petuco e Diego Silva compuseram uma ótima canção tendo como pano de fundo o tema da loucura. O NOME DA CANÇÃO? Como sempre, lapsos. Certo não hei de lembrar agora - debitem, debitem. Minha conta por certo anda por rebentar as ameias mas, debitemmais esta. Por que falei em loucura? Por me lembrar de Geogirna. Georgina tinha lá seus 55 talvez mais quando eu a conheci. Minha mãe, certa tarde me levou pela mão à casa de dona Teófila (do grego=amiga de Deus), senhora muito bondosa. Gordacha, com ar de bonachona. Vivia sózinha com a filha Georgina num chalé raso ao chão, cuja cozinha de chão batido (cousa que sempre me atraiu) tinha aspecto deliciosamente sombrio, e o chão, vítreo, duro como pedra fosse, conquanto fosse terra preta socada á exaustão. Dona Teófila serviu bolo de fubá e café com leite. Eu adorava. Adorava qualquer coisa comestível, seja dita a verdade. Do alto dos meus cinco anos, embora alfabetizado, não era nenhum gourmet. Embora não tivesse a idéia redentora de Rubem Braga que com minha idade se tornara um provador das terras de seu lugar. Pois entre um e outro bocado de broa e biscoito de polvilho Georgina surgiu.Vi aquela figurinha franzina, magra, cabelo já agrisalhado cortado á garçonne, um vestidinho simples de chita. Georgina tinha pressa. Comia bocadinhos pequenos de broa e biscoitos, me olhava de soslaio, mostrava a linguinha fina. Ria baixinho escondendo o rosto entre as mãos pequenas... Terminou ligeiro o café da tarde. Me cutucou repetidas vezes nos rins e dizia: vamo brincá diabo! Dizia isso entre risos. Não demonstrava nenhuma agressividade... No terreiro da casa de dona Teófila, Georgina munida de um pequeno tubinho decolírio corria atrás de mim espirrando águaás gargalhadas. Eu adorava aquilo. Brincava com ela tardes inteiras como antes de mim fizera quando menina minha mãe.
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