Lindo? Esta definição é somente um lugar comum. Nem isso “lugar”, mas lugarejo. Um lugarejo comum é uma expressão, ainda que inadequada, a mais próxima de minha parca erudição e capacidade pseudo intelecto emocional... O Rio de Janeiro é lindo por vocação e por necessidade de meus olhos que nem bem chegaram atrevem-se observá-lo no seu momento de “toalete”, nesse ritual provocante e delicado de uma cidade que se despe aos poucos para os olhos afoitos do “voyeur” estabanado... Sim o Rio de Janeiro continua lindo em cada curva sinuosa de seu traçado mágico, encantador. Na estampa bela das garotas de Ipanema, transfixando a orla atlântica e sustentando argumentos de maravilha do Aterro ao Meyer, de Copacabana ao Engenho de Dentro dessa formosa flor enrodilhada em minha retina. Visão tão basta e turva e pobre, antes acostumada à lhanura simples e rude e fria de uma pampa
Enamorada. Algo invejosa da graça tropical descortinada em suavidade a ponto de tomá-la.
Pois meus olhos se arregalaram, e, meu coração afeito às paixões miúdas d’um lugarejo escuro e frio se desatou na arritmia de paixão fulminante provocada pelo esplendor da gente e da paisagem. Incondicional ele se rendeu ante a constatação de um bem querer que principiou em Botafogo e se estendeu à Cascadura, que vadeou a Lagoa e subiu num fôlego só a beleza humana das favelas. Uma paixão devota e larga como a baía que abraça e acalenta a esperança viva, a chama calorosa de um povo amoroso que compreende o amor provado no Sambas que inventou e oferece. Simplesmente como quem sorri contente com uma brevidade.
Sim o poeta continua a ter razão sem mínimo exagero: O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO. É lindo pela natureza exuberante. Tanto por isso quanto pelo velho charme aristocrata e um tanto decadente (o que lhe torna mais belo) dos nomes e brasões povoando sua história de cidade. Catalisadora das idéias de um país, acrisolado na metrópole, entrincheirado no arrimo das alturas de fortalezas íngremes onde a lei custa a identificar-se: se do homem, se do cão. Sim, o Rio de Janeiro da Praça Onze, da Lapa, de Copacabana, do Leme, do Leblon. O mesmo Rio de Janeiro da Tijuca, de Oswaldo Cruz, da Mangueira e Madureira. Contendo em si a mistura de sotaques de um Brasil saudoso. Saudoso da Urca, do Cassino onde Grande Otelo encenava números cômicos. Saudoso de seus cafés, de Tom e de Vinícius, de Cartola e de Noel... Saudoso de mim mesmo, na presunção de quem almeja conhecê-lo sendo só mais um estrangeiro para o qual o Rio de Janeiro se descortina da orla as serranias sempre, sempre belo e generoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário