AD
LIBITUM
- Ave César! Saudou o
escriba ao adentrar o scriptorium do palácio, de pronto tomando assento. Em
mãos o belo tríptico de marfim cuja face encerada estava pronta para, ao toque
do stilus, registrar as palavras do imperador. Adriano estava distraído na
leitura de um pergaminho grego, soergueu os olhos de sobre o pergaminho,
largou-o sobre a mesa. Coçou a cabeça raspada à moda dos gladiadores. Sorriu
gentilmente para o jovem Timeu seu mordomo e secretário.
- Gostaria de rever a
Ibéria! Disse o imperador.
- Ah, sim a Ibéria! Repetiu
o jovem... César, a pax romana foi instaurada na Germânia. São Boas novas.
Proferiu o jovem escriba com certo entusiasmo.
- Os campos ondulados da
Ibéria... Nasci na Galícia, próximo à fronteira da Lusitânia. Divagava Adriano.
- César! Agora a Germânia se
põe a serviço do império.
- Sim meu caro Timeu. Não
estamos todos a serviço do império? Antes de Roma a Gália, Ibéria, Lusitânia,
Líria, Trácia, Dalmácia, Germânia... Não eram além de territórios bárbaros.
Povos hostis, ameaças potenciais a Roma. Agora são parte do império. Que
proveitos tiram disso?
- Bem, acredito termos
levado civilização a eles.
- Civilização?
Civilização... Ora, a Grécia era civilizada e culta enquanto os latinos viviam
de comer as sobras da antiga Etrúria. O Egito floresceu no tempo em que deuses
viviam entre os mortais. Babilônios, Assírios e Hebreus contam mais tempo em
sua história que todos os estados sob domínio romano e mesmo o próprio Egito...
Civilização. Repetia Adriano. Uma palavra cara meu amigo e de significado
ambíguo. Olha a teu redor. Vê todos esses trastes, adornos de nossa vaidade.
Isso traduz a civilização? Moeda sonante, poder, influência. Resultantes da
civilização. Quando Roma instaurou a pax romana entre os bárbaros seu intuito
foi à salvaguarda de suas fronteiras. Em troca da submissão levamos aos
bárbaros um pouco de luz: escrita, filosofia, arte e um sem número de práticas
execráveis. Em troca lhes exigimos ouro, trigo, braços para o trabalho. Homens
para as fileiras das coortes e legiões. Sacrifícios em troca de frivolidades; exigimos-lhes
essas pagas. Tudo porque Roma, viciosa, decadente, não pode prescindir ao luxo.
...Um homem pode sobreviver sendo um completo imbecil. Não é necessário que saiba
escrever, tampouco compor música. Todavia nenhum homem sobrevive sem pão.
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