Com este poema eu inauguro uma série de postagens de poesia neste blog. A exemplo do que era na época da ditadura militar, a censura prévia proíbe que se fale e comente sobre os "sujismundos", a corja que se infiltrou na política brasileira nos antanhos do Vice-Reino. Sendo assim...
QUARTO DE COSTURA
Velhas tias solteironas vão à missa,
e aguardam notícias de sobrinhos doentes.
Velhas tias solteironas
passaram a mocidade na janela
enquanto o tempo lhes impunha manias.
Velhas tias cerziram colchas de retalhos,
cuja trama, imaginação alguma foi capaz de cogitar.
Velhas tias solteironas economizaram
o meigo sol da primavera
para os dias mais frios do inverno
quando a artrite faz doer as suas juntas...
Velhas tias quituteiras
cozinham e trocam receitas,
cochicham, riem baixinho
plantam flores, criam gatos, fazem geléia e pão de ló.
Bebem licor em cálices coloridos,
pisam manso pela casa sem fazer barulho.
Porém, as ouço murmurando na noite alta,
vejo luz sob minha porta
as escuto balbuciando sortilégios.
As velhas tias são pálidas
feito o mármore das lápides
onde ecoam suas estórias
para me amedrontar,
ou só me fazer dormir.
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