Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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5 de dez. de 2010

METAMORPHOSIS





Não seria verdadeiro, mas temerário afirmar que, se comparado ao estilo consagrado pela turma de sambistas do morro do Estácio no Rio de Janeiro, nosso samba regional soa tão distintamente a ponto de representar  uma espécie de fóssil musical. Algo que não evoluísse e se adaptasse ao movimento perpétuo dos padrões de estilo de época estaria simplesmente fadado ao desaparecimento. Nosso Samba regional, ainda que tardiamente, também sofreu influências e modificações implantadas por músicos profissionais versados em teoria musical, que, igualmente adeptos ás modas, lundus, marchas, polcas, maxixes e choros, incorporaram a nossa batucada uma maneira  nova de execução. Disciplinando, e talvez suavizando sua rudeza original. Entretanto isso não se mostrou o suficiente para descaracterizá-la por completo, e nosso Samba se manteve próximo ao que era, soando similar á antiga batucada do Quicumbi.
Conquanto os salões particulares e dos clubes sociais cachoeirenses, por ocasião de seus festejos (fosse ou não carnaval) ofertassem aos convivas um repertório musical baseado em polcas, valsas e operetas, executadas a esmero pelas bandas locais, é curioso especular em que ocasiões, e de sob qual acompanhamento musical as camadas menos favorecidas da sociedade celebravam.
Em 1910 o samba e o choro já eram populares em Cachoeira junto às camadas mais pobres da população. Junto deles o maxixe, o lundu, a marchinha e a onipresente modinha.
Em casa de gente humilde, nos terreiros da periferia, o Samba, naquela época bastante influenciado pelo batuque do Quicumbi era presença constante. Qualquer ocasião era pretexto para uma roda de samba.
Ainda que os jornais da época deem conta de enorme repressão exercida pela classe dominante, via aparelho policial, sobre essas reuniões quando ocorriam em lugares próximos ao centro da cidade. Certo é que os enfezados "festeiros" não se intimidavam ante a desdita quase certa: irem dormir no xilindró. Conduzidos até lá debaixo de pancada. Assim sendo a fuzarca estava garantida. Fosse onde fosse. Nas ruas centrais de Cachoeira ou nos terrenos ermos e chãos dos arrabaldes como o Jacaré no fim da Rua Félix da Cunha. Na Coxilha do Fogo, então somente um campo de invernada com pastagem para o gado, ou na zona norte da cidade da Cachoeira, nas grotas da antiga Fazenda Tibiriçá. Cujos proprietários escravistas, para se gabarem de generosos talvez, decidiram doar parte de uma área - imprestável para compor pastagem pela quantidade de pedras à flor do solo, e, pelo íngreme terreno, onde seus ex cativos puderam erguer seus mocambos
Lá vibravam até o amanhecer o Tibitibi, o Canguenguera (tambores do Quicumbi), junto às gaitas - cromáticas na maioria das vezes; violões e rabecas. Preparando a volta do Quicumbi á avenida de onde se viu sacado com a chegada do imigrante europeu. Para voltar com outra roupagem. Transfigurado no Samba. Samba de sotaque regional que embalou a periferia em sua retomada das ruas por volta de 1928. Quando o Carnaval assumiu os contornos de verdadeira festa popular em Cachoeira.

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