Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
Portuguese English French German Spain Italian Dutch Russian Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

twitter orkut facebook digg favorites mais

19 de set. de 2011

A VERDADE DA CANÇÃO

Ouvir a verdade magoa um bocado porque fere o ego, e o ego é um monstro faminto que julga-se eternamente "aquele que deve ser acatado"... Hoje eu ouvi a verdade. Ela vergastou meu dorso com seu azorrague. Foi necessário. De que outra forma um brutamontes dá atenção a ela? Com gentileza? Já souberam de quem usassse de gentileza para externar mágoa? Já souberam de alguém que sofreu vergonha real sem consternação? Eu ouvi a verdade. Não zombou de mim. Foi polida, foi justa, foi didática.  Devido a minha constituição psíquica, devido ao caráter falho - não a ausência dele, dexei vir á tona o monstro egoísta, e esse um devorador de sonhos acabou por magoar a musa... 
Não fui humilhado pela verdade. Contra ela não tive argumentos. Sofri o castigo e foi pouco. Já nem me importo em sentir dor. Essa é benigna, essa corrige. Não é aquela que dói n'alma quando aos oito anos se é espancado sem saber o motivo. Não. Essa dor é meio que uma tristeza, uma desesperança, isso é o que a verdade traz. Ela te aponta os erros e rouba as ilusões mas, estranhamente a verdade não te humilha. Não, não te humilha como quando aos doze anos apanhas no rosto e és indefeso, e choras, choras um choro miúdo, contido de uma tal maneira, represado ao ponto de te endurecer por dentro e sentires que se não o deixares sair se vira em pedra. Teu coração se vira em pedra. Hoje a vergonha mais uma vez voejou sobre mim como Palas a coruja de Athena. Inutilmente tentando me transmitir alguma sabedoria. Inútil pois a confusão se instaura quando o medo surge e tu te sentes nada, reles, vil. Tantas vezes vil e baixo, insignificante e baixo. Indigno e tolo, e pela tolice própria dos tolos um que é capaz de pecar três vezes trezentas vezes o mesmo pecado, e para esse vos digo já não há perdão. Senão, que da terceira ou quarta vez já não havia... Vil e tolo, em devaneio. Vil e tolo como disse o vate português no Poema em Linha Reta. Pois a verdade veio fustigar-me o flanco com as mãos pesadas, as mãos justas, não aquelas das quais com vergonha me defendi aos 15 anos, hábil e pronto para revidar. Sem o fazê-lo, porque o revide doeria em mim mais de dez vezes. Porque o revide representaria o limite de uma vergonha que eu não poderia ultrapassar. ...não estou cá dizer tais coisas para que sintam piedade. Tampouco busco em vós qualquer nesga de afinidade ou comiseração. Só vos digo em desabafo: esse vinho é amargo, difícil de tragar... ainda assim sacia toda sede.

Nenhum comentário: