Enquanto
isso...
Instaladores sonoros e plásticos vão
reproduzindo dentro do teatro os sons de britadeiras. E dê-lhe instalação, e
dê-lhe barulhada, é moderno, é um inferno, mas, porém, todavia, entretanto esse
é o embuste que ganha dinheiro na exposição. Enquanto a língua portuguesa adere
ao “nóis vai” à linguiça sem trema – que se foda o fonema, a Ana Maria Braga
aprende a dançar Kuduro. Eia! Fernando Pessoa e seus heterônimos mataram-se de
desilusão. Filhos da Pátria, filhos da mãe gentil, filhos da puta... Sois vós
os filhos da puta quem empesteia e contamina a chaga aberta. A ferida infecta
na carne podre, pobre, púbere, punga. Dou-lhes uma tunda e de nada vale. Porque
a mão, o gesto de levar à boca o pão, a carne, a água. Saciar a sede bebendo na
concha das mãos, nada disso detém a marcha, a busca pelo efeito inusitado. E o
efeito inusitado quer chocar, causar, apavorar. Enquanto meu amigo diz não
entender meu asco ao capitalismo. Enquanto ele declara placidamente que os
ricos são fauna natural do mundo e minhas tripas se retorcem. Enquanto o
sentido histórico e antropológico que iguala os homens em carne e
transitoriedade passa longe de suas ideias. O trio macabro de Garanhuns guisa a
carne de suas vítimas para fazer deliciosas empadinhas, e o vovô disléxico
& dislálico com seu periquito neurótico do realejo no programa das manhãs
do SBT sorteiam mensagens sem sentido para as crianças. O bizarro se instala
entre as coxas portentosas de vedete da mocinha que anuncia a próxima atração.
E La Fontana di Trevi jorra hormônios – eia! cio de toda vida. Enquanto a atriz
eletrizada, apresentando milhares de tiques nervosos, apoplética iminente,
passa por performática enquanto é entrevistada – e o efeito do speed, da
cocaína não desaparece a plateia dá risada. E são risadas cronometradas. Eia
claque feliz! Em termos de comédia o peido é o melhor chamariz! Vaudeville
& outras “saltimbanquices” pelotiqueiras... Eia!
Enquanto apóstolos e pastores anunciam,
furibundos os milagres e as curas, e choram pedindo mais e mais dinheiro para
suas obras. A presidente Dilma discursa n’algum lugar do nordeste prometendo
dar um jeito na seca, tentando levar esperança ao povo e ao mesmo tempo dar
aquela guaribada no índice de popularidade, aprovação & o escambau – siri na
casca e o cacete. Enquanto o mundo gira sob nossos pés e nem sequer nos damos
conta o facebook já abiscoitou seu primeiro bilhão de usuários. E eu sou um
desses tantos – otários. Um dos tantos otários que não se davam conta de que os
episódios do Ultraman que tanto adorava eram na realidade propaganda de carros
japoneses. Seriados patrocinados pelas montadoras. Assim como era a
supermáquina o Ultraman dava suas cacetadas – literalmente, mostrando os
modelos econômicos populares da Honda, da Subaru e da Mitsubishi. Enquanto o
papa ainda sonha reconquistar o antigo prestígio e poder eclesiástico dos
tempos da idade média quando a igreja churrasqueava “hereges”. Enquanto os
velhos camaradas nutrem um fio de esperança de que a tecnologia finalmente
possa fazer o homem despertar para a verdade: as coisas só tem sentido quando
trabalhamos em conjunto. Enquanto tudo acontece a nossa volta sem que possamos
manter algum controle... Chega de longe o eco de uma canção, meu coração se
enternece e, mais uma vez, eu, brasileiro, sujeito teimoso & sentimental
não deixo de acreditar em um tempo quando a vida será melhor e a sociedade mais
justa. Mas, enquanto isso a cretinice vai campear a solta nessa história nada
nada feliz.
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