
"...joga a mão pro alto todo mundo aêêê!" Danem-se a concordância e a regência verbal. Danem-se as poesias maravilhosas de Vinícius de Morais, de Aldir Blanc, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Dorival Caymmi, Tom Jobim.
Insisto: "...Joga a mão pro alto aêêê!".
Ninguém espera uma pérola - não se trata de uma vara de porcos, são pessoas ludibriadas, enganadas, roubadas pelo sistema que as alijou e afastou das suas verdadeiras tradições. Belas tradições sobreviventes agora no inconsciente apenas. São pessoas correndo atrás de gigantescos carros de som cuja música sonando não expressa nada - é o vazio, o ôco, o breu absoluto da falta de idéias, não há comoção, mas as rimas em "ão", tão fáceis, repetem-se ad infinitum. Choca-me ninguém se cansar da burrice. Choca, constatar a solidarização popular ao demasiado ruim - vejam bem, esses modelos contemporâneos de trios elétricos não tem nem de longe a qualidade do original Armandinho, Dodô e Osmar. Tampouco o de um Olodum, Ilê Ayê ou Afoxé Filhos de Ghandi. As exceções ficam por conta de duas cantoras realmente diferenciadas: Daniela Mercury e Margareth Menezes.
De resto sobra o esquemão doido explorando um vasto cabedal de cultura afro-brasileira completamente abastardado. Depauperado, diluído na pobreza de uma linguagem melódica e poética vulgar, inexpressiva. Embrulhado num pastiche rítmico musical algo padronizado, carente das síncopas e torneios melódicos surpreendentes característicos dos ritmos afro-brasileiros. É um tal de toca qualquer coisa aí! E qualquer coisa sobrepõe a outra coisa qualquer, que não significa nada.
Dissiminam-se gritos: "...Joga a mão pro alto aêêê!" Forma-se uma escola do deboche. A alegria vira ansiedade dentro dos cordões cujos integrantes pagaram caro pelos abadás, e no meu julgamento merecem vivenciar toda a estupidez possível de um carnaval aleijão, na base de "...Joga a mão pro alto aêêê!". Essa porcaria toda manando do filão inesgotável da música esculhambada do Brasil, cheia de mau gosto, feiúra e ignorância. E os malucos protagonistas desses clichês mal acabados se vangloriam de "turnês" pela Europa e Estados Unidos. O que não esclarecem é terem ido até lá apresentar seu noncense maluco pra um bando de brasileiros mal educados - indesejados naqueles países, que se esbaldam ao som do "...Joga a mão pro alto aêêê!"
Me bato contra esa bosta chamada axé music e outras faceirices brejeiras porque ela soa falso, raso, rasteira desprezível e desnecessária. Desvirtuou completamente o sentido original do trio elétrico inventado pelos três reis magos do frevo Armandinho, Dodô e Osmar.
Sinto uma tristeza profunda ao volver os olhos sobre essa bandalheira e não ser capaz de vislumbrar futuro melhor. Nenhuma esperança está autorizada.
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