Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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13 de set. de 2009

UM SÁBIO CORDIAL

Nelson Hoffmann - Foto: Blog Telescópio
Dentre a diversificada fauna das artes humanas há variada espécie de "escribas". Descendentes, mais ou menos tortos do sumeriano (atávico) Dudu - 5.000 anos antes de Cristo; não o comedor de hambúrguer amigo do Popeye, mas o Dudu escrvinhador das cortes sumerianas. Dentre esses todos descendentes daquele primaz longínquo, alguns apenas me chamam atenção. Tipos sanguíneos como Rimbaud, mordazes igual Laclos, ferinos tal Maquiavel, cultos a la Erasmo (de Roterdã), Melville, Flaubert e Machado de Assis...
Por conta do generoso prodígio cósmico a espécie dos escribas prosperou e diversificou-se embora o talento para exercer seu mister tenha em muito apoucado.
Tendo como primeiro suporte à escrita simples tabletes de argila, e somente depois valendo-se de pergaminho, papiro e papel, sucessivamente. Os escribas, a passo lento, todavia ainda não de todo, ganharam direito á liberdade de expressão...
Conheço muitos tipos e sub-tipos de escritores que se destacam da grei pela sensibilidade e talento com que ordenam as palavras, emprestando às composições um caráter emotivo - não sentimental, tampouco piegas, sentimentalóide. Mas emotivo e gracioso. Fazendo com que além de clareza e fluência das idéias seus escritos possam de forma misteriosa impregnar-nos com essas emoções. Emoção para além da objetividade de um texto, essa é a função derradeira de um escritor, evocar e causar emoção - em que pese ser a informação a meta comum de qualquer linguagem.
Não raro, no truncado, embarafustado cyberpunk modernoso universo das garatujas hodiernas a informação propriamente dita seja "cousa" rara. Improvável feito "língua de mosquito".
Pois, de algum tempo para cá conheci, por indicação do amigo Marco Aurélio München, a obra de Nelson Hoffmann, professor e escritor natural de Roque Gonzalez, cidade natal de Marco Aurélio. Acolhendo a ordem inversa das coisas, característica peculiar de minha pessoa "malacara uma barbaridade", o primeiro livro de Hoffmann que li foi seu romance O Homem e o Bar. Depois, seguindo a ordem cronológica contrária a das publicações li A Bofetada, esse um romance mais antigo. Dizer que gostei de ambos, que me prenderam a atenção, que me fizeram esperar ansioso o desvendar dos mistérios que suscitavam, deixando entrever indícios apenas, indeléveis fios de suspeita ao melhor estilo do mistério - embora a problemática de ambos vá muito mais fundo do que isso, seria uma afirmaçao vedadeira mas simplista. Dizer que a literatura de Nelson Hoffmann se apresenta honesta, bem feita e dotada da dose certa de objetividade sem desprezar o elemento subjetivo é incorrer outra vez no lugar comum. Entretanto, quando terminei de ler o despretencioso livro de Nelson Hoffmann "A Arte de Nascer das Palavras" (crônicas/ EDIURI - 2009) me dei por conta ter encontrado uma qualidade presente apenas nos grandes escribas, que por nobreza são naturalmente despretenciosos e nem um pouco afetados. A virtude da gentileza. Gentileza essa que não significa apelo à pieguice ou inclinação às apologias indiscriminadas. Nelson Hoffmann me mostrou ser perfeitamente possível aliar a técnica e talento a essa qualidade rara entre os "espadachins" da pena: A gentileza. A Arte de Nascer das Palavras trata disso. Do encontro cordial entre pessoas que buscam dar de si pelo bem comum. Pessoas que se doam em prol de um bem muito maior do que o reducionista culto ao ego tão em voga nesse tempo. A egolatria, um campo tão árido onde nenhuma semente lançada é capaz de germinar.
A Arte de Nascer das Palavras depõe a favor das coincidências felizes que levam aos escritores confabularem ente si, senão de viva voz, através da comunhão de idéias e princípios. De leitura fácil e agradável, A Arte de Nascer das Palavras nos dá a conhecer um pouco dos trâmites e vieses pelos quais passam os olhos e os caminhos de um literato.
Pela bela obra eu saúdo Nelson Hoffmann, um talentoso escritor e um homem cordial!

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