Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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18 de out. de 2009

FALA PERIFERIA, FALA



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Fala Maré, fala Madureira, Fala Inhaúma, Cordovil, Pilares... Canta Chico Buarque, voz melíflua, entoando a canção Subúrbio do cd Carioca. Eu, tava disposto a trabalhar na montagem do meu livro etnomusical & quase convertido ás ortodoxias científicas, mas legalismo não é comigo, não. Nem civil nem religioso. A brejeirada tem preferência. Mas, escrevi os nomes dos arrabaldes cariocas porque desde menino amo ouvi-los. Lembro que quando alguém num filme ou numa música falava em Cordovil, Engenho de Dentro, Madureira, Osvaldo Cruz eu ficava imaginando como seria. Pensava sempre que eram lugares de muito calor. Calor como eu jamais havia sentido. Não senti, morando abaixo do paralelo trinta. Na pampa descortinada onde em pleno outubro o termômetro não passa de 20° e a gente acha que faz calor. Mas, como dizia sempre gostei dos nomes desses lugares e sempre imaginei o Rio de Janeiro um lugar mágico que seria algo mais, muito mais além de praias. A floresta da Tijuca despertava-me um fascínio à toda prova. Saber que fora replantada por ordem de um Imperador gentil homem, não um fracote, ou maricota, um gentil homem sábio e ponderado.
Quando preciso foi à guerra sem hesitações. Eu o admirava. Por causa de Pedro II, em menino quase fui um monarquista. Pois, o Rio de Janeiro que continua lindo, e o jardim Botânico lugar preferiado por um Imperador e por um compositor de música popular brasileira (Tom Jobim "passarim"). Horto onde vicejam centenárias palmeiras imperiais, sediará dois importantes eventos internacionais em sequência. Primeio a copa do mundo ano que vem, depois as olimpíadas de 2016. E, no meu desejo infantil, na minha ingenuidade de criança que pulava o carnaval no clube do bairro ao som de "Cidade Maravilhosa/cheia de encantos mil..." eu espero com toda sinceridade que desistam da idéia de construir um muro de concreto para isolar a estrada que leva do aeroporto do Galeão ao centro. Impedindo aos turistas enxergarem a feiúra dos casebres marginais à rodovia... E que, pro bem do Rio de Janeiro e do Brasil, façam menção á Mangueira, á Rocinha, à Maré, ao Turano, ao Salgueiro, ao morro do Macaco. À todas as comunidades de gente tão trabalhadora e digna. Gente maravilhosamente humana que vive sob a pressão de um sistema dicotômico imbecil servente apenas a quem tem dinheiro e precisa manter em estado de sítio a periferia, caso contrário as estratégias de poder não poderão se cumprir. Porque o tráfico senhoras e senhores não pode ser representado por seus soldados pés de chinelo e sem instrução. Gente tão vítima quanto os usuários. O traficante varejista, o ponta de estoque da boca de fumo é só mais um Zé-Mané. Carne pro moedor do sistema. O sistema representado pelo capital. O capital que financia as plantações de papoula, coca, cannabis. O capital que financia o tráfico de armas, de mulheres, de crianças. O capital que enfeia e suja a beleza do Rio de Janeiro. E que destrói gratuitamente a poesia do mundo.

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