Outro dia um amigo, ótimo escritor falou-me de uma coisa preocupante em relação aos escritores nacionais: "- Os prosadores, contistas, cronistas, romancistas, com raras exceções não sabem mais como narrar de forma escorreita e saborosa suas estórias. A moda agora, de uns anos pra cá, é buscar a originalidade, não pela forma, mas pelo efeito. Essa gente nem pode mais ser chamada de escritor, são quase "pintores", a meta deles é o efeito impressionista". Pois essa verdade inconteste campeia nos textos de centenas de escrivinhadores brasileiros. Perderam a mão - lembrem de Rubem Braga. Perderam o tino, o jeito - lembrem Jorge Amado. Perderam a vergonha - recordem de Autram Dourado, Mário de Andrade, Simões Lopes Neto e Érico Veríssimo. Sem falar em Machado de Assis - não quero humilhar ninguém. Mas é isso. Salvo raros poetas e prosadores de talento dentre os quais destaco Marcelino Freire, Lima Trindade, Sandro Ornellas, Cláudio Portella, Leandro Dóro, Carpinejar, Miguel Sanches Neto, Ronaldo Cagiano... A selva literária brasileira está vazia de feras. Há só um Bem Te Vi aqui outro acolá. Porque a cambada que se dedica às letras despereza ao leitor, em verdade sua missão é agradar a crítica. Crítica essa composta, em grande parte, por "achistas" & "rola-bostas" para quem literatura, para ser original necessita da surpresa e do ineditismo sempre. É a famosa fase da literatura "kinder-ovo", vem sempre com uma surpresa, na maior parte das vezes desagradável.
Vou sugerir a meu amigo Fernando Ramos editor do Jornal VAIA, que organiza para breve o segundo festival de Literatura de Porto Alegre levar aos escritores convidados esse tema. A perda da narrativa em prol do efeito. O desprezo da forma e do conteúdo pelo experimentalismo franco atirador. Que não diz nada. Por quê simplismente esgotaram-se as possibilidades de novidade? Penso que não. Pode-se contar e recontar uma história infinitamente e de modo diferente a cada vez. Os temas, as peixões e desventuras humanas sempre serão as mesmas. Todavia o talento de cada escritor nem sempre está a altura de uma boa estória.
Um exemplo de narrativa saborosa é o livro de Mika Waltari cuja foto ilustra este texto. Tive o prazer de "viajar nele" para o Egito antigo aos 14 anos de idade. Como bem canta Paulinho da Viola: "Tinha eu 14 anos de idade...//".
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