Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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7 de dez. de 2009

O HOMEM E A MONTANHA


Fisicamente é impossível ao homem equiparar-se à montanha. Por si mesma a montanha é impávida, e essa qualidade da montanha a distingue do homem. Embora os agentes naturais desgastem, no correr dos milênios, sua carne pedregosa, e, vento, chuva, neve e granizo vão aos poucos desbastando a rocha, a montanha permanece inabalável. Entretanto, numa única coisa o homem, de frágil constituição corpórea supera em muito a poderosa montanha.

Neste ponto todos se voltam para o escoadouro óbvio onde este pequeno exercício desemboca naturalmente. Previsível, a conclusão, o desfecho deste texto seria, caso o produzisse um zoilo, quiçá auto intitulado mago, versado no banal lugar comum, o estrume que dá dinheiro. Depois do intróito, do "nariz de cêra" enorme - maior que a carranca do palhaço! Vem o desfecho. Entretanto, fugindo às obviedades mecânicas & ramerrões repetidos ad infinitum por eruditos de almanaque, digo a vocês: Não é o ato de pensar a qualidade diferencial entre o homem e a montanha, tampouco o fato de estar vivo torna o homem superior ao acidente geográfico inanimado: "Je pense, donc je sui!" (René Descartes). Nada disso. De certa forma poderíamos elocubrar pensando na montanha como abrigo de seres viventes e como tal em parte viva. Fosse ela consciente quiçá experimentasse, sob os milhões de toneladas de seu corpo "cataclísmico" um proceso metabólico e de pensar tão lento. Chegando mesmo a não notar nossa existência, e a perceber o passar do tempo alheia às fases da lua ou ao correr da Terra ao redor do Sol. Mas essa ainda não seria a desigualdade crucial entre a montanha e o homem. Tampouco a potência latente no homem para inventar a transcendência, e assim fingir para si mesmo ser possível alcançar vitória e sublimação ante o horror da morte. A morte tampouco o torna diferente da passiva montanha. O que os torna díspares é tão somente a capacidade humana para escolher como e quando será seu próprio fim, bem como decidir como se dará o fim a montanha.

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