"Barão sem chaves,/e assinalado/ por umas naves"/que sempre vão;//" - Jorge de Lima - Canto Décimo - Missão e Promissão. Invenção de Orfeu.
Não foi a astúcia a qualidade responsável por minha existência. Não foi o medo ou a verdade. Mas foi o amor. Não me soergui da campa fria como náufrago redivivo de longa e solitária jornada atado a um caixão, como pinta a cena de Herman Melville em Moby Dyck. Tampouco cavouquei a terra para fora da tumba. Não foi a insistência, ou algum tipo de ridícula teimosia, responsável por minha estada aqui mas, o amor. No-lo confundis com paixão? No-lo mistureis à demência variada da consciência humana? Sim. Sim. Sim...
Todavia insisto em afirmar: não foi à guisa de curiosidade minha vinda entre vós. Tampouco a vaidade mo trouxe. Somente o amor.
Ora assisto impassível o manobrar das suas legiões no campo contra mim. Ora vejo enlutado suas fortificações se levantarem em praça forte acerca de mim, a fim de não permitir aproximar-me muito além das sarissas apontadas contra meu peito encouraçado.
...Ouve: Não somos nós inimigos. Não saístes vós a campo como Otávio para bater Marco Antônio. Não tramei contra vós, não roubei o fogo vivo de vossa existência para ofertá-lo às gentes mundanas por pão, riquezas efêmeras, cousas de reluz e brilho... Pois sem o sol nenhum brilho haverá. Não sou Prometeu, nem vós sois Júpiter, Freya, Athena ou Afrodite. Ouve. Estou cansado de repetir ciclicamente a dança e o conjuro de auspícios sem cumpri-los. Guardai isto: Não há desvio possível nem chance de mudança. Destino escreveu em seu livro, cedo ou tarde, longe ou perto, tudo estará consumado.
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