
Contudo Macunaíma foi ás telas de cinema dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Uma das raras produções nacionais dignas de nota naqueles anos de chumbo - 1969. O diretorJoaquim Pedro, em que pese a dificuldade de se adaptar ao cinema uma obra cuja linguagem é quase experimental, conseguiu a façanha de capturar a aura mítica das personagens de Mário, ajudado claro, por um elenco primoroso com atuação estupenda. Capaz de dar vida à rapsódia burlesca do gênio arlequim da Paulicéia Desvairada.
Escrita por um poeta do quilate de Mário a "rapsódia", como ele costumava chamar seu livro, oscila entre o lírico e o misticismo pagão, com nesgas panfletárias contra a era Vargas - de quem Mário era desafeto simpático (se é que tal coisa seja possível - e em se tratando de Mário provável que sim). Tudo muito bem aproveitado na adaptação do roteiro para os nefandos dias quando Costa e Silva era presidente da República.
O ator riograndense Paulo José encarnou Macunaíma, mocetão, já branqueado pelo jorro da fonte. Grande Otelo que fora a criança cariboca, curumim esperto, malicioso que gostava de bulir nas partes da cunhada Sofará - Joana Fonn. Afeito à preguiça, e aos brinquedos de "se rir" com as cunhãs. Bulia sempre com as mulheres que Jiguê seu irmão, interpretado por Milton Gonçalves, arranjava.