Preciso mudar-me, já não suporto a vista da minha janela. Daqui vejo todo o centro da cidade. Da cidade que não pára de crescer. Cresce a cada segundo. Cresce enquanto estou dormindo. Cresce a cada pensamento. Cresce enquanto transito no oitavo andar desse edifício. Um edifício quase tão velho quanto à cidade. Mas, hoje, abro a janela e grito. Berro no coração da cidade. Berro porque já não suporto o que quero. E quero mais do que escrever para jornais. Quero o meu rosto em close, por duas horas, num filme de Andy Warhol. Quero dois gramas de pó, diariamente, no meu breakfast. Quero chegar em casa, as seis, cansado da jornada de trabalho na repartição pública, e encontrar Camille Paglia de roupas íntimas a minha espera.
Cláudio Portella é escritor. Nasceu em Fortaleza em 1972. Autor de Bingo!(Porto – Portugal: Editora Palavra em Mutação, 2003) e de Os Melhores Poemas de Patativa do Assaré (São Paulo – SP: Global Editora, 2006). O escritor é publicado em revistas, jornais, suplementos, revistas eletrônicas, sites, blogs e flogs.