Outro dia em um programa de entrevistas perguntaram a um político não ligado aos magotes de sujidade & trambiques vigentes em Brasília, o motivo de haver tanta impunidade contra os crimes do colarinho branco. Sobre isso eu havia falado do corporativismo dos poderes escudando-se entre si, amparando seus pares numa camaradagem nunca vista em nenhum país onde impere a verdadeira democracia.
Hábeis em sair pela tangente, as sanguessugas dilapidam o herário público. Se metem em negociatas, desviam verbas, superfaturam, roubam. Roubam descaradamente seguros de que a justiça, cega, e o código penal brasileiro ultrapassado nada poderão contra si - afinal o código penal está séculos aquem da esperteza de seus advogados. Mas, ainda resta responder qual o motivo do comportamento passivo da população frente a quadro tão aterrador. O motivo talvez seja cultural. Uma espécie de cacoete, de reflexo condicionado, atestando que por esses lados o mando é da "lei de Gerson" ( Gerson, meio campo da seleção de 1970 campeã do mundo no México - que aparecia num comercial de cigarros dizendo: você tem de levar vantagem em tudo, certo?).
Certo. Tão certo que por tal motivo toleramos a convivência de políticos ladrões, juízes lalaus, deputados traficantes, parlamentares contrabandistas, quadrilheiros e mequetrefes em geral. Em todos os níveis do poder, de cima para baixo. Do topo da pirâmide do poder até a base onde, de acordo com o verso do Biquini Cavadão vivem os "zés ninguém". Exatamente isso. Os zé povinho - incansáveis cordeiros, a oferecerem dóceis seus pescoços à lâmina afiada do matadouro.
[...] A exemplo dos vícios de linguagem, a prática dolosa e condenável da vigarice, o malogrado hábito de bancar o esperto, faz escola entre os brasileiros e denigre nossa imagem nos países de moral mais elevada. Confirmada a suspeita de que a advogada brasileira supostamente agredida por skinheads na Suíça forjou a história do ataque, nós brasileiros que chegamos a nos indignar contra as autoridades da Suíça, antiga Confederação Helvética (Swiss Eidgenossenschaft), ficamos com a cara no chão. Mais uma vez damos margem para que sejamos recebidos com desconfiança no exterior. Submetidos a tratamento ríspido, quando não violento, como foi o caso do compositor brasileiro Guinga vítima de agressão injustificável por um policial no aeroporto de Madri em janeiro deste ano.
Reputo ao "jeitinho brasileiro" metido a espertalhão essa desconfiança por parte dos estrangeiros, que passam vergonha ao virem no Brasil para fazerem turismo e serem assaltados. Como os recentes assaltos a hotéis visando roubo a turistas em um albergue em Copacabana e num hotel da Lapa. O irônico da coisa é a declaração de um turista europeu entrevistado sobre o assalto: - Como é o Brasil a gente já espera esse tipo de coisa.
A pergunta que não quer calar: - Até quando levaremos adiante essa cansativa brincadeira?
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