Ouço os clamores pungentes, derramados dos púlpitos desde milênios. São vozes falando em nomes de deuses obscuros ou não para uns e outros. Criaturas mágicas responsáveis pela criação do universo e a manutenção da vida. Ouço clamor e ranger de dentes - homens e mulheres tomados de uma ira, de um "fogo", quase histriônico, quase sagrado, quase dionisíaco, quase emprestado de religiões ulteriores precedentes da professada ali diante da assistência bovina. Bovina e pacífica pelo motivo eterno: "sou até aonde posso ver, meu alcance se limita pela minha crença e minha crença se confunde a meu ego numa dança lasciva, perniciosa, perigosa - inútil".
Ouço pregadores cristãos e não cristãos vociferando prédicas contra esse e aquele aspecto mundano da vida cotidiana. Munidos dum vocabulário bem concatenado, dosando com cautela o tom das admoestações, seduzindo maliciosamente a audiência. Alguns mesmo se acreditam instrumento da verdade. Não sabem ser a verdade poligonal? Relativa às circunstãncias, contendo nuanças, implicações, réplicas, tréplicas, chicanas legais - e, com direito a revisão das versões apresentadas? Não bastasse isto a verdade é pessoal, às vezes intransferível - quase sempre intransferível (quase).
Mas eles são pertinazes. Obstinados. Bradam, gesticulam, exortam, demonstram comoção. Animam a platéia convencendo-os: Eles precisam de um deus, mesmo que essa figura de "transferência freudiana" venha a ser o próprio padre, pastor, rabi, sufi, sei lá... E, no seu afã de subir ao estrelato messiânico ou artístico, eles se deixam levar, tergiversam, quase (novamente quase) esquecendo-se de seus ministérios primordiais: Interpretar os sofismas, sombras e embrulhadas contidas nos livros sagrados? Não. Corrigir o rebanho para o caminho certo - o julgado certo por eles? Também. Mas, seus misteres, tal e qual um trapilho segando a messe de um amo dois mil anos atrás não são outros senão colher, grão a grão, as ofertas, os dinheiros, as primícias de seus esforços de convencimento. E a explicação para suas pequenezas, para suas baixezas de alma (sejam eles conscientes disso ou parvos crédulos na própria aventurança) que os levam a se porem mais alto e adiantados dos demais não encontra nenhuma resposta nos salmos, nos vedas, na torá, no gilgamesh ou nos livros escritos no inferno mais profundo e psicótico da mente de um esquizofrênico...
Enquanto isso, alheias a crenças & obsessões as nebulosas parem estrelas num caleidoscópio de cores amalgamadas.
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