Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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28 de abr. de 2009

CHÁ COM BISCOITOS

Fonte da imagem: ideiasalacarte.blogspot.com

Muito comum nos filmes norte americanos para o consumo (cretino) infanto juvenil é o roteiro dessas produções estabelecer como motivo central uma espécie de dicotomia bastante acentuada entre dois tipos de personagem diametralmente opostos. O primeiro, representado por um ou mais elementos de comportamento tímido ao extremo, quase configurando a manifestação de uma fobia, é o fracote. Estudioso ele leva a pecha de "nerd". O equivalente ao nosso c.d.f (sigla para cú-de-ferro - alguém certinho, intransigente). Essse "nerd" é um tipo que não pratica esportes. Só obtém notas excelentes, inscreve projetos em feiras de ciências. Toma parte em clubes de xadrez, cinema e literatura. Nunca é convidado para as festas promovidas pelos alunos ealunas mais populares da escola. Suas amizades se restringem aos familiares e uns poucos "nerds" iguais a ele. Resumindo: trata-se de um paspalho cuja serventia é servir de alvo para as troças e empulhas violentas, compostas por agressões físicas, chantagem, ameaças, roubo e extorsão aplicadas por seus colegas pertencentes ao segundo grupo. Os fortões. Adolescentes, brancos; a grande maioria, de físico apolíneo. São os bam bam bans da escola. Atletas, ricos, bonitos e populares... Uma coisa esqueci de mencionar: os "nerds", socialmente falando, nesses filmes se enquadram na categoria de classe média média. Nem ricos, nem miseráveis.

Mas, como dizia, só os fortões tem namoradas. As lindas chefes de torcida, metidas em mini saias curtas, agitando pompons á beira de quadras e pistas. Vaporosas moçoilas desejadas platonicamente pelos "nerds". Sobre quem os fortões despejam sua vocação sádica. Descem a lenha, extorquem, mandam e desmandam e fazem isso por uma razão simples: porque podem. Porque sentem-se imunes a qualquer punição. Estão acima do bem e do mal. Não temem nada ou ninguém. Isolados, os "nerds" não tem como se proteger da sanha predatória desses opressores. Talvez por isso, vez ou outra os "nerds" de verdade, habitantes do mundo real (não estou fazendo propaganda da loja de 1,99 da esquina!), portando armas automáticas e farta munição promovam certas "faxinas" nos asilos de loucos dos colégios estadunidenses & canadenses. É pipoco pra todo lado. Sobra chumbo até pra professorinha...

O tema da violência na escola está em discussão na novela global (ridícula) escrita por Glória Peres. Bem nascido e mal criado o jovem Zeca é o terror do indiano frouxo Indra. Que não honra o nome do deus hindu Indra; nome com o qual foi batizado. Basta que Zeca e seus amigos, todos filhos de classe média alta vejam o tal Indra e pronto, está deflagrada a correria em perseguição ao pobre indiano. Quando o alcançam dê-lhe porrada no cognominado "pangaré". Apelido bem ajustado ao saco de pancadas, cuja personalidade fraca, ou a falta dela o impede de esboçar mínima reação. O que me leva a crer que Glória Peres conhece o povo indiano (inventor do jiu-jitsu) das estórias de almanaque.

Contudo, nada temam amiguinhos. Essas coisas não acontecem na prática aqui no Brasil, no México, na Argentina, Colômbia ou Venezuela. Sabem por quê? Porque diferente da terra do capitalismo implodido & furado, berço do liberalismo fajuto que agora bota sebo nas canelas para socorrer bancos e montadoras como a outrora todo poderosa Chrysler, os Zé-povinho, os Manés & pangarés da América Latina tem amigos. E nas horas de humilhação conta muito ter amigos errados no momento certo...

Cheguei a falar em "literatura chata"?? Pois me lembrei do escritor inglês chatérrimo: Rudyard Kipling, de quem o genial Jorge Luis Borges era fã, e, quando cego contratou o jovem Alberto Manguel para ler Kipling para ele no original. Segundo depoimento de Alberto Manguel no seu magnífico livro Uma história da leitura, o prodigioso Borges fazia anotações mentais durante a audição, e era capaz de recorrer a elas de modo preciso durante ou ao fim da leitura. Fazia-o enquanto degustava chá com biscoitos. O que o chá com biscoitos, Borges e Alberto Manguel tem a ver com o tema de minha postagem? Nada, ora bolas!

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