Imagem: anaisagaleria.blogspot.com
Das sete artes relacionadas, a música figura na décima terceira posição: Zebra. Todos adoram Euterpe, musa da música. Porém, poucos a levam a sério. Vai na base do: Toca uma musiquinha aí ô! E o pianista ataca Chopin. Contra o que alguém diz: - Mas toca aquela do pagodaço! E o pianista controlando sua ira, demove-se aos poucos da idéia que lhe ocorre. Promover a jihad, a guerra santa. Ir até a mesa do infiel munido d'um alfange e lhe decepar a cabeça! O pianista se concentra em pensar nas contas vencendo no próximo dia primeiro do mês...
Entre nós brasileiros a música poderia se chamar plágio & corporation - não é mole a quantidade de imitação. Muitos medalhões, astros inatingíveis dentro da música popular usaram o expediente do "copydesk"; e, esses bois tem nome, mas não digo. Construíram sólidas carreiras copiando descaradamente o trabalho de compositores estrangeiros, ou realizando manobras sutis. Pequenas arrumações: uma nota estica & puxa aqui, outro acorde suprime ou acrescenta uma nota e outra ali. E músicas de Henry Mancini, Gershwin, Cole Porter entre tantos medalhões legítimos da música internacional ganham contornos irreconhecíveis, em arranjos fabulosos quanto a demonstração da capacidade criativa do brasileiro que nasce com vocação para o improviso e para bandidagem.
Certa vez assistindo um filme com os saudosos Steve McQueen e Natalie Wood, "O preço de um prazer", de 1963, comecei a prestar atenção na belíssima trilha sonora. A trilha original para o filme apresentava como compositor Elmer Bernstein (só muito depois me interessei em saber disso), todavia, eu conhecia aquelas músicas de outro lugar. Ou pelo menos, o som daquelas belas harmonias e melodias me remetiam a peças conhecidas. Durante o filme, ainda sem saber a autoria da música, num estalo relacionei a obra a um conhecido compositor brasileiro. Entretanto, depois de saber a data do filme achei improvável, porque na data do lançamento da película, 1963; esse compositor que eu cogitei como autor das canções não havia feito sucesso no Brasil entre as camadas mais baixas da população - termômetro infalível da consagração de um artista. Por exemplo: Roberto Carlos, em que pese sua decadência como autor, chegou a compor e gravar pérolas como: "Como dois e dois", "Detalhes" e tantas mais em parceria com Erasmo ou sózinho. Roberto jamais abandonou a popularidade, visto sua consagração entre as camadas mais baixas da população brasileira, o que demandou a perpetuação do sucesso. Então, como dizia, o tal autor misterioso não havia feito a fama entre o pessoal menos culto e menos endinheirado do país. Mas, depois pensei que meu raciocínio não tinha a menor lógica. Que apesar de não ser conhecido ainda lá fora na data da filmagem ele era bem relacionado e poderia ter feito a trilha. Pensei isso até descobrir que a trilha em questão pertence ao compositor Elmer Bernstein. Aí, deixei a história toda de lado. Afinal plágio é coisa pra gênios (antigamente classificados "djins" e tidos na conta de mau caráter) e não pra otários como nós reles mortais.
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