Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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30 de set. de 2009

MINHA VIDA FICTÍCIA PARTE I

Quando contava meus dezessete anos, aficcionado por ficção científica - Ray Bradbury, Asimov e outros tais, ensaiava meus continhos. Aqui começo a reproduzir em capítulos um dos primeiros. A HOLOGÊNESE. Se alguém gostar comente, se não gostar comente também.
A HOLOGÊNESE

{Epílogo}...
Sob os rubores d’esplendor de um fim de tarde no verão, íntegro na nova carne, estranhou o tato; sensível em demasia n’algumas partes, noutras arrefecido. Estranhou a audição, na nova forma corpórea, limitada a captar vibrações de freqüência intermediária veiculadas no meio atmosférico onde se propagam lentamente. Sentiu falta da superfície membranosa da antiga pele, repleta de cerdas e filamentos ultra-sensíveis às vibrações.
Arqueado, ainda não se acostumara ao peso dos músculos rijos, maciços; aptos a esforços inimagináveis. Assustado, constatou haverem-se superado todas as expectativas...
Flexionando as pernas agachou-se. Abaixou-se até o solo e distendendo bruscamente o conjunto de músculos dos membros inferiores saltou. Projetou-se para o alto, testando a potência formidável das pernas. Entusiasmado passou a examinar com atenção todos os sentidos e capacidades físicas do próprio corpo. A visão, agora possível somente num ângulo limitado, se prestaria ao especialíssimo exercício da predação. Com a visão frontal ele perceberia imediatamente a profundidade. Estimaria a distância com precisão, calcularia a velocidade do seu alvo provável, prevendo com razoável exatidão a cadência e a direção dos seus movimentos. Em seu critério, enxergar a faixa estreita do espectro luminoso visível ao antropóide, trazia desvantagens, porém, na condição presente tinha lá suas compensações.
Curioso a respeito das capacidades da nova morfologia movimentou seus apêndices articulados. Braços, pernas, dedos dos pés e das mãos. Conjunto harmônico de sensíveis ferramentas... Divagando, descobrindo-se, tateava-se com extremo cuidado e vagar. Demorou-se mais bolinando os genitais bem conformados, deliciando-se com a auto manipulação... Ele se julgava pronto. Experimentando o ineditismo de um aparelho fonador, encheu os pulmões com o ar tão necessário, e erguendo os braços para os céus bradou uma prece desconexa composta de urros incoerentes e grunhidos sem significado. Uma prece de agradecimento dirigida a um Deus inominado.
Era o começo. Articularia sons, fonemas, linguagem lógica. Seguindo passo a passo as técnicas desenvolvidas por ele próprio, engendraria outros iguais a si naquela forma. Milhares de outros semelhantes, dotados da mesma perfeição em corpo e mente. Viveria feliz entre seus congêneres; e os amaria, e os instruiria. E seria amado, e se sentiria seguro entre eles, sem importar-se com quanto tempo lhe houvesse destinado a natureza – lei magna dos vivos; para gozar a nova existência.

27 de set. de 2009

NADA DE NOVO SOB O SOL




"Muitos frios estiveram entre nós os festejos em honra e reverência ao velho e popular deus Momo. Apenas um grupo do clássico e galhofeiro Zé-Pereira percorreu as ruas da cidade distribuindo ao público apreciáveis produtos da acreditada fábrica de fumos do Sr. Soares Neto. O jogo do entrudo nestes últimos dias esteve bastante animado na Rua Sete, não chegando ainda assim ao delírio das épocas passadas [sic.]".
O Commercio 20/04/1901. Jornal que circulou em Cachoeira do Sul/ Rs de 1900 até 1970.

O Zé-Pereira ou o jogo do Entrudo citados não se tratavam em Cachoeira de folias democráticas a exemplo do ocorrido no Rio de Janeiro de onde esses costumes foram importados. Os foliões carnavalescos do início do século em Cachoeira constituíam bandos de mascarados trajando fantasias bizarras, integrados somente por indivíduos do sexo masculino pertencentes à classe média alta. Munidos de bumbos e caixas formavam fanfarras a fim de desfilar pelas ruas centrais promovendo algazarras a caminho dos salões e dos clubes sociais, ou das residências particulares de notáveis que promoviam e convidavam para seus chiques bailes de carnaval. O público citado na nota de jornal era a assistência, o contingente que acorria dos bairros às ruas do centro para olhar a passagem dos foliões sem tomar parte.
Quanto ao Entrudo, brincadeira de mau gosto, muito comum no carnaval cachoeirense, tratava-se de uma fuzarca diurna. Por estas bandas o entrudo era instrumento dos fortes e poderosos para afirmação da sua posição social e autoridade. Um exemplo dessa situação nos chega pela voz do colunista do jornal cachoeirense O Commercio, GustavoPeixoto. Ele publicou em sua coluna Cachoeira Antiga no dia 16 de maio de 1945 a seguinte narrativa de um episódio alusivo ao entrudo do qual teria participado quando menino por volta de 1910:

"(...) Mas, o gozo em um banho fosse com limões ou esguichos, o modernismo não pode reproduzir! E ainda mais, aquele pagode, ou por melhor dizer, aquela satisfação em jogar nas negrinhas um pouco de farinha de trigo e em seguida atirar-lhes alguns limõeLimões de Cheiro.Pelotas de cera cheias de líquido perfumado, na melhora das hipóteses.Os esguichos mencionados eram seringas de latão contendo água de rosas e outras substâncias líquidas de odor pouco agradável. s fazendo com que em suas faces negras formasse uma massa branca e grudenta, nunca mais teremos.Como elas, as pacatas e serviçais negrinhas, as morenas de hoje, tinham medo do carnaval com seus guris atrevidos e malcreados [sic.]"
Publicado na coluna Cachoeira Antiga de Gustavo Peixoto do jornal O Commercio de Cachoeira no dia 16 de maiode 1945.
Escrevendo meu livro sobre as tradições afro-riograndenses na rgião central do RS, mais especificamente as sobrevivências do ciclo das Congadas relacionadas com o folclore Bantu que aqui surgiu por volta do século XVIII, e, posteriormente, tendo acompanhado o documentarista Rafael Bavaresco em algumas entrevistas com pessoas negras da comunidade cachoeirense, constato que nada mudou realmente. O preconceito e segregação impostos às classes menos favorecidas pelas elites da cidade continua em vigor. De maneira velada agora mal entrados no século XXI, tão decantada era de aquário, utopias & mumunhas sem compromisso com a práxis cotidiana. De forma sutil podemos sentir a atuação do preconceito no viés dos olhares, no comportamento, nas atitudes estranhas. Por exemplo: agora mesmo atendo no balcão da locadora de meu amigo Sérgio. Ainda há pouco quatro rapazes de origem nordestina que trabalham numa companhia de energia elétrica estavam escolhendo alguns dvds, nisso entra na locadora uma menina de classe média. Sem motivo algum ela dá mostras de estar constrangida, e, não se passa nem cinco minutos seu pai que estava aguardando no carro vem para perto dela, a abraça e olha com estranheza para os rapazes que a essa altura já haviam escolhido os filmes e se iam embora.

24 de set. de 2009

A FRASE DE DE GAULLE

Todos estão discutindo muitas questões a respeito da sucessão presidencial no Brasil. O congresso brasileiro, infectado por uma verdadeira malta de políticos corruptos e corporativistas defende de um tudo, menos os interesses mais urgentes da população. O balcão de negócios para decidir quem apoia quem está aberto faz tempo enquanto os processos de reforma do sistema judiciário, político e administrativo continuam inertes. Ninguém ousa alterar códigos de lei arcaicos que dão privilégios áqueles "experts" em se movimentarem pelas brechas da lei.
Todos se voltam a assuntos iminentemente casuístas, em que pese a pressão da sociedade ou da mídia, tais casos não se resolvem. Tampouco serão rsolvidos. O único ponto em que todos parecem concordar é que: O Brasil continua não sendo um país sério!

13 de set. de 2009

UM SÁBIO CORDIAL

Nelson Hoffmann - Foto: Blog Telescópio
Dentre a diversificada fauna das artes humanas há variada espécie de "escribas". Descendentes, mais ou menos tortos do sumeriano (atávico) Dudu - 5.000 anos antes de Cristo; não o comedor de hambúrguer amigo do Popeye, mas o Dudu escrvinhador das cortes sumerianas. Dentre esses todos descendentes daquele primaz longínquo, alguns apenas me chamam atenção. Tipos sanguíneos como Rimbaud, mordazes igual Laclos, ferinos tal Maquiavel, cultos a la Erasmo (de Roterdã), Melville, Flaubert e Machado de Assis...
Por conta do generoso prodígio cósmico a espécie dos escribas prosperou e diversificou-se embora o talento para exercer seu mister tenha em muito apoucado.
Tendo como primeiro suporte à escrita simples tabletes de argila, e somente depois valendo-se de pergaminho, papiro e papel, sucessivamente. Os escribas, a passo lento, todavia ainda não de todo, ganharam direito á liberdade de expressão...
Conheço muitos tipos e sub-tipos de escritores que se destacam da grei pela sensibilidade e talento com que ordenam as palavras, emprestando às composições um caráter emotivo - não sentimental, tampouco piegas, sentimentalóide. Mas emotivo e gracioso. Fazendo com que além de clareza e fluência das idéias seus escritos possam de forma misteriosa impregnar-nos com essas emoções. Emoção para além da objetividade de um texto, essa é a função derradeira de um escritor, evocar e causar emoção - em que pese ser a informação a meta comum de qualquer linguagem.
Não raro, no truncado, embarafustado cyberpunk modernoso universo das garatujas hodiernas a informação propriamente dita seja "cousa" rara. Improvável feito "língua de mosquito".
Pois, de algum tempo para cá conheci, por indicação do amigo Marco Aurélio München, a obra de Nelson Hoffmann, professor e escritor natural de Roque Gonzalez, cidade natal de Marco Aurélio. Acolhendo a ordem inversa das coisas, característica peculiar de minha pessoa "malacara uma barbaridade", o primeiro livro de Hoffmann que li foi seu romance O Homem e o Bar. Depois, seguindo a ordem cronológica contrária a das publicações li A Bofetada, esse um romance mais antigo. Dizer que gostei de ambos, que me prenderam a atenção, que me fizeram esperar ansioso o desvendar dos mistérios que suscitavam, deixando entrever indícios apenas, indeléveis fios de suspeita ao melhor estilo do mistério - embora a problemática de ambos vá muito mais fundo do que isso, seria uma afirmaçao vedadeira mas simplista. Dizer que a literatura de Nelson Hoffmann se apresenta honesta, bem feita e dotada da dose certa de objetividade sem desprezar o elemento subjetivo é incorrer outra vez no lugar comum. Entretanto, quando terminei de ler o despretencioso livro de Nelson Hoffmann "A Arte de Nascer das Palavras" (crônicas/ EDIURI - 2009) me dei por conta ter encontrado uma qualidade presente apenas nos grandes escribas, que por nobreza são naturalmente despretenciosos e nem um pouco afetados. A virtude da gentileza. Gentileza essa que não significa apelo à pieguice ou inclinação às apologias indiscriminadas. Nelson Hoffmann me mostrou ser perfeitamente possível aliar a técnica e talento a essa qualidade rara entre os "espadachins" da pena: A gentileza. A Arte de Nascer das Palavras trata disso. Do encontro cordial entre pessoas que buscam dar de si pelo bem comum. Pessoas que se doam em prol de um bem muito maior do que o reducionista culto ao ego tão em voga nesse tempo. A egolatria, um campo tão árido onde nenhuma semente lançada é capaz de germinar.
A Arte de Nascer das Palavras depõe a favor das coincidências felizes que levam aos escritores confabularem ente si, senão de viva voz, através da comunhão de idéias e princípios. De leitura fácil e agradável, A Arte de Nascer das Palavras nos dá a conhecer um pouco dos trâmites e vieses pelos quais passam os olhos e os caminhos de um literato.
Pela bela obra eu saúdo Nelson Hoffmann, um talentoso escritor e um homem cordial!

10 de set. de 2009

BANGALAFUMENGA, OU TRANQUEIRA POUCA É BOBAGEM

mfda.wordpress.com
O negócio começa quente. De cara um plágio: Confesso. Copio meu amigo e parceiro de composição - musiquei uma penca de seus Contos Negreiros, e alguns vão pro próximo trabalho. Mas, como dizia, de cara plagiei Marcelino Freire. Bangalafumenga não é invencionice desse cabra bom, filho de Xangô, na tradição catimbozeira de seu Pernambuco. É bangalafumenga mesmo. Troço bacana. Nem sei se essa tal bangalafumenga é bacana, mas gosto do som. Sou compositor popular me ligo em síncopa, sacou? Batuque é comigo mesmo. Não prometi uma ciranda pro conto O Futuro Que Me Espera, de teu último livro, Rasif? Pois então lá vai. Devagarinho mas vai... Bueno, por outras veredas aí vem a tranqueira. A tranqueira chegou em casa nas mãos de meu amigo, irmão, co-produtor, dileto jurado da estética feminil & cachaceiro aposentado Fernando Ramos. Trata-se dum tal modem a dita bangalafumenga. Isso. A coisa. Que segundo Millor Fernandes era teratológica... Bueno. Necessitados de um acesso à internet na sucursal, digamos mais "periférica" desse que é um resistente veículo da cultura neste país: Jornal Cultural VAIA; Fernando seu editor chega lampeiro com a engenhoca eletrônica, o tal modem, a bangalafumenga em questão. Bueno! Tudo conectado, e daí? Cadê a internet? Aperta aqui. Clica acolá. Fuça! Ronca! Três pulinhos numa perna só, invocações a São Longuinho. Alguém corre pensamos em apelar pra barra pesada: um livro de necromancia do bruxo Aleister Crowley. AS tiradas infalíveis do Costinha e do Zé Trindade. Um chute no saco do computador é cogitado, mas o dito é capado!
Quando a macumba e os préstitos semi-tecnicistas em direção às publicações tipo "faça você mesmo" esgotam as possibilidades de um desfecho feliz, eis que este um sujeito curioso, e, razoavelmente paciente que vos fala tem uma idéia sui generis: LER O MANUAL.
Santa BANGALAFUMENGA seu Marcelino, que plagio sem remorso! Em cinco minutos tudo resolvido, e eu pude postar esta quase croniqueta graciosa!