Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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31 de dez. de 2011

LIXO MUSICAL & CONGÊNERES

Este não se trata de um blog de reciclagem. Tampouco de recauchutagem ou propositor de reformas (ao menos não por hoje - tudo cambia de acordo com o humor da "direção"). Todavia, só uma palavrinha a respeito da infestação que o cenário nacional sofre com o advento (sazonal) de "vírus" como Luan Santana, Michel Teló, Gustavo Lima, Calypso, Aviões do Forró e congêneres: "Eles passarão/eu passarinho!" Verso de Mário Quintana... O argumento escroto de muitos quanto á opinião avessa ao lixo é: "Eles tem grana, estão ricos. Tu és um pé rapado!" Minha contra argumentação: Meu caixão poderá ser mais simples. Talvez uma cova rasa de indigente. Quem sabe? Contudo, terei tanta riqueza quanto eles nesse estágio da degenerescência putre comum aos tecidos orgãnicos. Minto. Não se compara á minha riqueza acumulada a pobreza desses protozoários anencéfalos. Porque mesmo em outro estágio de consciência terei certeza "existo". Baixarei num centro espírita - ou terreiro de camdomblé, tanto faz. E tais sobrepesos, aberrações citogenéticas, serão lá o que são aqui: ilusões de ótica. Nada. Porque conforme disse Quevedo, o padre parapsicólogo mor e caricatura anacrôncia: "Isto não existe!"

4 de dez. de 2011

AS ROUBADAS TELEVISIVAS





 www.google.com/imagens



São muitos os programas da tevê aberta e por assinatura que tem a pretensão de instruir-nos a agir nas mais variadas situações. No Discovery Channel assisti a uma situação hipotética que reflete a paranóia estadunidense para com a segurança. Nesse programa um suposto especialista (verdadeira praga contemporânea) pretende instruir os telespectadores como reagir a um a situação limite. O cenário é o seguinte: um grupo terrorista toma um shoping center e começa a matar o clientes. O instrutor dá um conselho que me chama a atenção: "Se você tiver de lutar por sua vida eu aconselho que sinta ódio de seu oponente". Errado. O ódio é um "diapasão" que atrapalha o raciocínio. Excitado, com medo, a adrenalina jorra pela corrente sanguínea e o sujeito se torna vulnerável de muitas maneiras. Sendo a principal delas o ato impulsivo. A principal "arma" em uma situação limite quando não há alternativa de fuga ou modo de se evadir/esconder é manter a calma o máximo possível. Pensar com clareza demanda um condicionamento que alguém sem o treino adequado dificilmente possui. Ou seja, se não pode manter a frieza para praticar uma ação que trará risco para si e para outros evite a ação ao máximo. Se não puder evitar agir, sob pena de morrer, simule ferimento ou mesmo morte. Seja ladino, esperto, sagaz, artimanhoso e reze meu filho! Reze!

18 de nov. de 2011

CITAÇÕES À GRANEL & A ARTE DE ENCHER LINGUIÇA (SEM TREMA)

O academismo científico é algo maravilhoso e imaginoso. Algo de sarapantar diria o mais sábio pesquisador e folclorista (lixando-se para o academismo) das Américas Mário Raul de Morais Andrade. Pois é de sarapantar mesmo... Convencido de que um dia, hei de encontrar afirmações produzidas de maneira inedita por pesquisadores e estudiosos contemporâneos acerca de muitos assuntos. Percorro incansavelmente a "selva" escura onde o obscurantismo acadêmico lança suas sementes e mudas. O resultado é pífio. Decepção. Valendo-se de citações e mais citações os candidatos ao ilustre status de conhecedores rondam assuntos que eles próprios não entendem completamente. Valendo-se de um arsenal de chavões e frases prontas de alto gabarito cientificista esses "jabaculês de almanaque" borram páginas e páginas com informações de fancaria. Com redondilhas copidescadas das falas de outrem. Não produzindo eles próprios uma mísera linha de conhecimento próprio, inedito, ousado, arriscado quiçá. Por falta de preparo, por absoluta carência de meios como o domínio de técnica e conhecimento esses acadêmicos circundam os temas a que se propoem esmiuçar sem lhes penetrar o âmago. Única maneira de explicar em detalhe tal e qual faziam os honrosos pesquisadores que os precederam, cujo pendor era preservar a cultura e não ser incensado ou galgar o respeito de seus pares de academia. Enfim, trabalhos científicos, teses universitárias, artigos em revistas e jornais, livros e matérias produzidas para as mídias de rádio, tv e eletrônicas custam dinheiro. E funcionam como papel pega moscas para otários como eu. Não convencidos de que a maioria dos mequetrefes que os produzem, sob a égide oficial de um diploma que credencia a "curiosidade" não fazem nada mais além do que encher linguiça. Sem trema nem tempero que o valha.

14 de nov. de 2011

CIRCENSES







O circo, representação do mundo. No picadeiro desfilam maravilhas. Exótico, o circo representa o mundo... Pode o mundo oferecer espetáculo inofensivo? Não. Também isso não pode cumprir o circo. Pois a crueldade permeia o homem, impedindo-o divisar com clareza a fronteira convencionada entre realidade e fantasia, magia e efeito cênico, generosidade e perfídia. Dentre as atrações circenses estão os palhaços.
Homens apresentados com a cara pintada. Roupas bufas, modos truanescos, alegam evocar alegria. Confundem-nos. O histriônico da demência parece aflorar daquele riso tirado á força. Os palhaços: saltimbancos, bufões. Como de resto todos os atuadores sob a gigantesca lona. Grotescos seres dionisíacos que buscam no ridículo, no inusitado, provocar gargalhadas.
O circo é o mundo. Tal e qual no mundo as gargalhadas são breves. Igual aos homens sisudos & taciturnos, chega um dia quando os alegres palhaços se cansam de sorrir.

11 de nov. de 2011

BOBO CANSADO

...eis que, não sou cabal, nada em mim é perene, nada é pronto, nada é exato, nada é perfeito. Não posso corresponder às expectativas de outrem, nem às minhas expectativas, senão às expectativas do tempo. A essas correspondo involuntário. Morrerei, serei esquecido, dissolvido no caudal autófago do tempo que há de consumir a si mesmo até não restar nada desse cosmo em expansão onde o calor fatalmente deixará de existir tornando a vida orgânica inviável.
Eis que, redundante e contraditório não hei de moldar-me ao gosto de outrem para satisfazer sua necessidade por uma criatura diferente de modos e hábitos melhores, e, se por um momento só, seguindo a máxima confuciana "há de ceder para alcançar sabedoria" aquiesci, cedi, contemporizei... ora, diante da insistência das solicitações de uma plateia mui exigente, potencialmente reformadora do texto apresentado em minha peça "vitae", vou ao proscênio, dispo a juba, a máscara, os costumes bufos. Esfrego o rosto removendo a maquilagem, e, despido de todo adereço declaro: eis-me. Se vos agradar era meu intento, possa eu dizer a vós: não sou um egoísta conforme jurastes. Não sou um covarde como testemunhastes. Não sou um patife novelesco, ou herói de fancaria. Sou um homem comum. igual a todos os demais em vícios e virtudes, e, não ousai vós trazer à discussão o disparate de comparar-me aos santarrões ou aos velhacos. Poupai-me de vosso orgulho. Poupai minha paciência de vossa presunção consumidora, capaz de declarar-se defensora ilibada da verdade absoluta. Quando a verdade é toda fábula rendida na palavra que sai de vossa boca como uma sentença justa. Tão real quanto vossa imaginação permite. Não imputai a mim culpa exclusiva. Sabeis vós que a medida com que me medis não a uso para vos medir por não ser vosso adversário mas, que cansei da farsa, e dessa comédia de erros onde apenas eu visto os trajes bufos do truão e realizo piruetas enquanto vós, da plateia, não vos inclinais a aplaudir.

9 de out. de 2011

ALMA BRASILEIRA

A alma brasileira: defini-la num verso, numa estrofe, numa canção ou num compêndio de mil e tantas páginas criativas, quiçá tediosas... Impossível. A síntese ou a estafante retórica narrativa não se prestam ao recartilhado difícil, sutil, complicado de tratar de definir a Alma Brasileira. Alguns gênios do quilate de Ary Barroso, Tom Jobim, Baden Powell, Vinícius, Villa Lobos e Chico Buarque, nos dão mostras... Por seu turno Mário de Andrade, Câmara Cascudo, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa, João Simões Lopes Neto e outra plêiade de criativos & sensíveis autores nos apresentam deliciosas fatias do que é a amplitude continental da "Alma Brasilis"... Defini-la na plenitude, entretanto, é tarefa apenas para o coração de cada um dos habitantes desta terra. 
Minha alma brasileira está feliz na companhia grácil e generosa de outra alma brasileira. Essa outra feminil e delicada. Essa outra uma fada que me mantem preso a si pelo condão do amor...

30 de set. de 2011

UM ANJO TORTO

"Quando eu nasci/um anjo torto/desses que se escondem nas sombras/disse: vai Carlos, ser gauche na vida!//" Quando Carlos Drummond de Andrade concebeu o Poema de Sete Faces pensava em gente como eu... Gente etérea, gente errada, gente que nem se sabe gente. Porque o bom cabrito é bom, e porque gente boa igual ao cabrito vai ao matadouro com um sorriso. Quando Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema pensava nos tortos avulsos. Não quis o poeta, magnânimo, ser indelicado e nomear os bois, ou os cabritos, ou as gentes, um a um. Lista interminável... Foi cândido o poeta, generoso, ofereceu-se ao holocausto de um anjo torto que de si, de seu nascimento, passou longe, e foi bater na porta daqueles  a quem Aldir Blanc "denunciou" na letra de Gênesis (Parto): " Quando ele nasceu sacaram o berro/Meteram faca, ergueram ferro.../E Exu falou: ninguém se mete... Quando ele nasceu tomaram cana /Um partideiro puxou samba.../Aí Oxum falou: esse aí promete...//" Não, caros amigos & vizinhos, Carlos Drummond de Andrade não quis nunca ser indelicado. Porém eu, Maculelê dos Santos, ora vulgo Alexandre, aponto minha imagem refletida na vitrine da boutique da felicidade e digo: Põe meu nome na lista Poeta!

25 de set. de 2011

OUTROS PARANGOLÉS

...Mas, hein? Ando me aprofundando, pois é, ando chispado, como diria meu amigo Marcelino Freire: "é Bangalafumenga". Como dizia, tenho me aprofundado n'algumas coisas, entre elas, peguei mania de prospectar (gostaram dessa? prospectar - verbinho empolado), pois é, de vez em quando flagro a mim mesmo em plena prospecção. Vasculho o youtube, myspace, reverbnation, clube Caiubi, sonora, etc. etc. O que procuro? Indícios. Indícios - calma, tentarei explicar. Do que tenho ouvido, dentre os experimentos (coisa normal para quem chega e deseja mostrar novidade) e a condução (intuitiva às vezes) de linhas mais tradicionais do cancioneiro popular brasileiro. Cancioneiro desdobrado em um leque amplo e abrangente. Noto as tentativas, desde o começo do novo século, em dar maior "sensibilidade" às canções. Mesmo, que para isso seja necessário teatralizar o canto. E tal condução, que não reputo seja forçada ou de mau gosto, justo o contrário, deixa em prejuízo muita vez a harmonia e a melodia. Que se simplificam. E tal simplificação alcança o ritmo de tal forma a fazer com que todo compositor que envereda nesse caminho "alivie" o andamento em prol do verso. Me refiro, àqueles que estão na mídia, pois, há compositores de temas muito sutis, rebuscados e belos como as canções: "Circe Cabaret e Mr. Hide" de Diego Silva; "Apoema" de Otávio Segala e Clóvis Itaquy; "Cecília" composta por este modesto autor e por Ita Arnold, etc. etc. que não o fazem. Ou seja, não reforçam um único viés da canção. Preferindo o risco do excesso ao esvaziamento da forma e o abastardar do conteúdo. Não. Não acho de meu gosto esse modo novo que se achega, eu o aprecio. Localizei no youtube videos da cantora Letuce, adicionei aos favoritos. Me deparei por intermédio de minha namorada com a obra de Maria Gadú, de Leandro Leo e outros tantos não frequentadores de minha praia, de meu "groove" abatucado. Gostei de canções e de diversos autores e intérpretes que ouvi (nem todos). Ser reacionário me perdoem é próprio da minha "antropofagia" Tapuia & meu ziriguidum Bantu... Todavia, sinto, e é isso mesmo: apenas a ocorrência de uma sensação, que essa nova obra está em aberto. É uma obra em curso em progresso. Mais que uma busca por uma nova linguagem, talvez nem tão nova pois em nada supera o experimentalismo tropicalista, se trata da sedimentação de um discurso diferente. O teor desse discurso é bem outro daquele propagado até a década de 90. Se trata de uma linguagem suave e descomprometida de qualquer postura afirmativa e pessoal. Tanto letra quanto melodia perderam a "assinatura" de seu autor porque passaram de obras afirmativas de um ponto de vista a simplesmente obras. Isto é ruim? Não, acho que não, trata-se apenas de um ângulo novo da visada desses autores. E tais obras  serão arte? Claro que sim. Uma arte musical diversa daquela da velha escola da MPB ou de renovadores do cenário musical brasileiro como Cazuza e Renato Russo. Diferente desses o novo discurso prefere não assumir nenhum tipo de comprometimento. Quer apenas "causar" sem declarar-se favorável à essa ou áquela bandeira ou proposição, seja por falta de base (como diria Mariana Blanc) ou por cagaço como eu digo. Reputo isso ao vaticínio de Andy Warhol "No futuro toda gente será famosa durante 15 minutos". E, ao que tudo indica essa fama depende em muitos aspectos de desagradar o menor número possível de consumidores, ainda que o "produto" posto á disposição não seja lá essas coisas.

20 de set. de 2011

NA CADÊNCIA DO SAMBA

AH TÁ BÃO! EU SOU MACULELÊ MAS, PROMETO QUE VOU ME COMPORTAR. SEREI BONZINHO. NÃO VOU DIZER QUE ESTRANHO ESSA PÁ DE GENTE QUE FAZ CARAS E BOCAS E QUE RITUALIZA, MISTIFICA, FINGE EMOÇÃO. PRA APARECER NAS FOTOS, NA FILMAGEM. AH TÁ BÃO! EU SÔ TINHOSO MESMO MAS, PROMETO QUE VO ME SEGURAR. NÃO VOU FALAR QUE ACHO TRISTE E ENGRAÇADO "TODOS OS ARTISTAS" TÃO REBOCADOS, TÃO MASCARADOS, TÃO "ACINTURADOS", CINCHADOS E POSANDO DE BEM ME QUER... MAS, É SÓ RASPAR O VERNIZ, E CAI TUDO POR TERRA. E LÁ SE ENCONTRA UM TROUXA (COM DINHEIRO - VAMOS ESCLARECER), UM IGNÓBIL, UM ZOILO DE PAI E MÃE CUJA SENSIBILIDADE EMPRESTOU DOS ROMANCES MAIS CHINFRINS & DA CULTURA DE ALMANAQUE. FOLHETINESCA JORNADA PELO LUGAR COMUM, QUE DÁ EM LUGAR NENHUM. AH TÁ BÃO! EU SOU ERRADO SIM. PROMETO QUE NÃO VOU RECLAMAR. DA ARTE INDIVIDUAL OU GRUPAL (SWING? -KKK) QUE TEM POR FINALIDADE MOSTRARA BONICE, A QUERIDICE, A BREJEIRICE, A MEIGUICE, A FACEIRICE, A CAFONICE, O DISSE ME DISSE DO FEIJÃO & ARROZ TRAVESTIDO DE CARMEM MIRANDA - CANTANDO NADA PARECIDO COM A MONUMENTAL INTELIGÊNCIA POÉTICO/RITÍMICO/MELÓDICO DE UM ASSIS VALENTE OU DE UM ARI BARROSO. NADA. CANTANDO E SARACOTEANDO NO VAZIO DAS FURNAS ONDE SE ATERRA O LIXO NOSSO DE CADA DIA, TODO DIA... E SOBRA CHORUME. SE AMONTOAM ESSAS PORCARIAS NOS OUVIDOS JÁ MUITO URBANOS DESSE BRASIL SIL SIL E CRESCEM OS MORROS DO "BUMBA" QUE EM NITERÓI DESABAM, SOTERRANDO O AMOR QUE EU TENHO PELA COMUNHÃO. PORQUE MÚSICA PRA MIM É COMUNHÃO. É A CASA DE DIRCEU NA MINHA LEMBRANÇA QUANDO AO LUAR AS RODAS DE SAMBA INVADIAM AS MADRUGADAS QUENTES SOB O LUAR DE DEZEMBRO. É A MEMÓRIA DE TIO VARDÃO, DE SEU EUGÊNIO, DOS CHORÕES DO BAIRRO. MÚSICA NÃO É A EXALTAÇÃO DE UM INDIVÍDUO OU DE UM GRUPO DE INDIVÍDUOS. ELA É O ELO DE LIGAÇÃO ENTRE TODOS, TANTO SEUS EXECUTORES QUANTO SEUS OUVINTES. AH TÁ BÃO! NÃO PASSO DE UM "ZÉ MANÉ METIDO A GENTE"! MAS MEUS AMIGOS, AINDA QUE EU SEJA SÓ UM OUTRO DENTRE MILHÕES DE "ZÉS" CÁ NESSE PEITO BATE UM CORAÇÃO AMOROSO, RUFADO NO SAMBA, NO QUICUMBI, NO BAMBAQUERÊ. COMPASSADO LENTO NOS ACALANTOS, NAS CANÇÕES DE ESPERA DO AMOR SENTIDO, QUE DÓI DE VERDADE. DÓI SIM. - BOM QUE DOA - CÁ NESSE PEITO BATE O CORAÇÃO DE QUEM AMO, RITMADO NA CADÊNCIA DE UM BATUQUE, DE UM BLUES, OU, ÁS VEZES, DE UM SAMBA CANÇÃO.

19 de set. de 2011

A VERDADE DA CANÇÃO

Ouvir a verdade magoa um bocado porque fere o ego, e o ego é um monstro faminto que julga-se eternamente "aquele que deve ser acatado"... Hoje eu ouvi a verdade. Ela vergastou meu dorso com seu azorrague. Foi necessário. De que outra forma um brutamontes dá atenção a ela? Com gentileza? Já souberam de quem usassse de gentileza para externar mágoa? Já souberam de alguém que sofreu vergonha real sem consternação? Eu ouvi a verdade. Não zombou de mim. Foi polida, foi justa, foi didática.  Devido a minha constituição psíquica, devido ao caráter falho - não a ausência dele, dexei vir á tona o monstro egoísta, e esse um devorador de sonhos acabou por magoar a musa... 
Não fui humilhado pela verdade. Contra ela não tive argumentos. Sofri o castigo e foi pouco. Já nem me importo em sentir dor. Essa é benigna, essa corrige. Não é aquela que dói n'alma quando aos oito anos se é espancado sem saber o motivo. Não. Essa dor é meio que uma tristeza, uma desesperança, isso é o que a verdade traz. Ela te aponta os erros e rouba as ilusões mas, estranhamente a verdade não te humilha. Não, não te humilha como quando aos doze anos apanhas no rosto e és indefeso, e choras, choras um choro miúdo, contido de uma tal maneira, represado ao ponto de te endurecer por dentro e sentires que se não o deixares sair se vira em pedra. Teu coração se vira em pedra. Hoje a vergonha mais uma vez voejou sobre mim como Palas a coruja de Athena. Inutilmente tentando me transmitir alguma sabedoria. Inútil pois a confusão se instaura quando o medo surge e tu te sentes nada, reles, vil. Tantas vezes vil e baixo, insignificante e baixo. Indigno e tolo, e pela tolice própria dos tolos um que é capaz de pecar três vezes trezentas vezes o mesmo pecado, e para esse vos digo já não há perdão. Senão, que da terceira ou quarta vez já não havia... Vil e tolo, em devaneio. Vil e tolo como disse o vate português no Poema em Linha Reta. Pois a verdade veio fustigar-me o flanco com as mãos pesadas, as mãos justas, não aquelas das quais com vergonha me defendi aos 15 anos, hábil e pronto para revidar. Sem o fazê-lo, porque o revide doeria em mim mais de dez vezes. Porque o revide representaria o limite de uma vergonha que eu não poderia ultrapassar. ...não estou cá dizer tais coisas para que sintam piedade. Tampouco busco em vós qualquer nesga de afinidade ou comiseração. Só vos digo em desabafo: esse vinho é amargo, difícil de tragar... ainda assim sacia toda sede.

4 de ago. de 2011

ESPERANÇAS

Eia! TANTO PENSEI FOSSE MAIOR A ESPERANÇA. FOSSE MELHOR... PENSEI: TALVEZ NÃO HAJA TANTA MELCANCOLIA. QUIÇÁ, EU PUDESSE ESQUECER, ISSO. ESQUECER. AFINAL QUANDO SE É CRIANÇA ESQUECEMOS DE MUITAS COISAS.
Eia! ENTÃO VEM O TEMPO FURIOSO & SEM PIEDADE. ENTÃO VEM TODA PARCIMÔNIA TRADUZIDA EM CONTAGEM MINUCIOSA, CIOSA E DE CRITÉRIO INDISCUTÍVEL, VEM, E MENSURA CADA GOTA DE TEMPO... ESTOU VIVENDO EM SEPARADO. ESTOU À ESMO, TUDO QUANTO ME SUSTENTA É UMA IDEIA VAGA SOBRE E ESPERANÇA... Eia! LÁ VAMOS NÓS OUTRA VEZ. A ESPERANÇA. VÊ. MIRA LÁ! MIRA OS TANTOS DESATINOS COMETIDOS EM NOME DA ESPERANÇA. VÊ, OLHA AS PAIXÕES SE AUTO INFLAMANDO. VÊ TANTA GENTE A ARDER SEM ESPERANÇA, E NÓS, ALQUEBRADOS. CHEIOS DELA. NA TOLICE DE NOSSA VIDA MINÚSCULA E CHEIOS DELA. NÃO FOSSE ASSIM NÃO ERA PRECISO PULAR DA CAMA DE MANHÃ. QUAL O MOTIVO? QUAL O MOTIVO DE TOMAR UM BANHO, POR ROUPA LIMPA - SÓ VAIDADE? OBRIGAÇÃO? NADA DISSO. ESPERANÇA. A ESPERANÇA DE UM SORRISO D'ALGUÉM. A ESPERANÇA DE ENCHER O CORAÇÃO DE ALEGRIA, MESMO QUANDO ESSA ALEGRIA NEM HABITA O MUNDO TÁCTIL E REAL. MESMO QUANDO ESSA ALEGRIA COGITA APENAS, AINDA INFORME, PODER VISLUMBRAR UMA ALVORADA SEM TER SE DESFEITO, JUNTO A NÓS NO ABRAÇO VIVO. NA TRANSLUCIDEZ DOS OLHOS DOS AMANTES - SIM, E SIM NOVAMENTE. EU NUTRO ESPERANÇAS. A EXEMPLO DE CHARLES DICKENS, EU GUARDO CÁ COMIGO GRANDES ESPERANÇAS...

31 de jul. de 2011

EU DESISTO

Desisto. Entrego os pontos. Peço arrego. Confesso, tentei cultivar um sombreado, um esfumado um tom "noir" tipo os filmes policiais estadunidenses em preto e branco dos anos 40. Não dá mesmo. Sou "arlequinal" feito o padrinho Mário de Andrade. Brejeiro e pimpão que nem Zé Trindade, Oscarito e Grande Otelo. Sou fuzarqueiro & traquinas, um Maculelê fazedor de confusão... Desisto de parecer grave, sisudo, soberbo. Não sou nada disso. Gastei meu latim falando bobagens pra mim mesmo. Encucando, teimando, filosofando mixaria. Ah, sou feliz como criança, cuja única diferença para com o mundo adulto é não premeditar seus crimes. Arrego. Desisto de bancar o sabichão, o senhor empolado, tão certo a respeito de seus próprios vaticínios. Nada... Agora só peço a mim mesmo que tenha o bom senso de não negligenciar a alegria. Ela que é tão miúda e quis viver à sombra da tristeza alheia. Não. Não é assim que sou. Desisto de ser infeliz. Esse tom cinza definitivamente não combina com minha cara de pau.

21 de jul. de 2011

Audi, vide, tace, se vis vivere in pace.

Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz. Antigo provérbio latino, esta era a máxima observada pelos fiéis da igreja católica nos tempos das cruzadas. E muito mais rigorosamente praticada durante o período da cruenta inquisição. Hoje, graças ao iluminismo, ao humanismo e outras correntes filosóficas as coisas mudaram bastante e um rato pode dar-se ao luxo de confrontar um leão sem temor à sua vida.
Quando me propus a iniciar este artigo, minha atual companheira perguntou-me o “por quê” de meu interesse sobre um assunto que não nos afeta diretamente. A pergunta em si revela sua preocupação para comigo no tocante a abordagem de um tema tão delicado. Porém, carrega inconscientemente o desconforto dos muitos cidadãos e cidadãs que não querem, não sabem ou temem simplesmente expressar sua opinião sobre a questão da homossexualidade humana. Por temor às represálias, ou pelo medo atávico que lhes foi incutido por aqueles pretenciosos e arrogantes “guardiões da moral e dos mistérios divinos”.
Caso é que chegamos ao fim da primeira década do século XXI, a contar do advento de Cristo e a Igreja Católica Romana, guardiã primaz da tradição cristã, mantem uma posição ultraconservadora e retrógrada no que diz respeito a uma série de questões sócio-políticas e morais. Impondo aos seus seguidores a observância de um comportamento que ela, Igreja, considera correto, baseada nos afamados preceitos bíblicos. Bíblia essa que nada é além de um compêndio de tradições proto-semitas, egípcias e assírias reunidas num único calhamaço e imposta aos crentes como a palavra de Deus. Que na tradição judaico cristã é um ser de gênero masculino e fez o homem à sua imagem, certamente não condizendo consigo quanto à inteligência. Todavia, diante da postura “nariz de folha” da Igreja no que se refere à vida íntima das pessoas, não há outro modo de agir senão contra-argumentando seus réprobos e condenações (ameaças) dirigidas desde há muito pelo Vaticano contra seus seguidores.
Começo pela homilia, afinal ao examinarmos qualquer manifesto em resposta à alguma idéia que nos pareça injusta e ofensiva, estabelecemos diante dela uma reação. Tal ato pode ser configurado como “revanchista”, pois tais respostas sempre revelam um tom ditoso, mesmo se subliminar, de recalque e desagravo. Acredito nisso. Eis aí a epistemologia da minha erudição de almanaque. Limite entre minha capacidade intelectual e meu “paideuma”. Curta margem de pensamentos nada brilhantes, tampouco originais. Intentando diuturnamente, muita vez sem sucesso, demonstrar a correção de meus pontos de vista e minha boa compreensão das demandas antigas da humanidade lúcida contra o cinismo, o embuste, o mau caratismo. Contra a tragicomédia bufa repleta de falta de respeito com a qual todos os poderesmundanos, governos e religiões, manobram e oprimem “ad eternum” os seres humanos[1][1].
Todavia, há contradição em minha iniciativa: a tentativa de encontrar algum motivo coerente para ser tolerante e democrata conforme minha vocação e princípios. Um esforço para não incorrer no panfletarismo tolo e radical que não aceita opiniões contrárias. Ainda que reconheça nelas algum viés da verdade. Caminho por onde se pode legitimar suas afirmações. Talvez esse motivo possa ser o acatar de um conselho. Um conselho daquele que simboliza o cerne de toda crença católica. Não foi Cristo quem disse pela boca de Lucas: “Todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado!”(?)
Assim sendo digo que não existe razão para exaltarmos aos homens, senão respeitarmos a quem nos respeita em igual medida. Assim digo que pela justa causa do respeito devido ao próximo, pela ética e moral da vida, é nosso dever dizer não àqueles que defendem suas posições irredutíveis de um torreão fortificado através da tonsura dos tratados e da redução das leis às partes cuja conotação em separado, desviando o sentido atingido pelo corpo integral do texto, favorece a interpretação ao acordo do desejado. Devemos dizer não às figuras de retórica úteis, aos hábeis doutores da fé que as manipulam e moldam como cera quente. Aproveitando-se de sutilezas semânticas para torcer e retorcer as palavras, mutilar as sentenças, ou interpretá-las com sentido que lhes convir.
Eis que falo como quem se desculpa, mas não há nisso humildade, nem soberba. Contudo tamanha introdução tem lá sua serventia. Tamanho “nariz de cera” credencia o palhaço como bufão experimentado nessa arena onde distrai as feras e entretém as cortes, os doutos, os santos e poderosos aos quais as ironias do bobo passam como gracejos, embora sejam vaticínios de uma hecatombe que recairá sobre as suas cabeças.
Me espanta a ignorância mastodôntica dos clérigos quando demonstram ou fingem espanto ao serem confrontados por questões como o ultraconservadorismo da Igreja Católica e seu afamado código canônico. Uma ementa de livros escritos por fanáticos do naipe de Urbano II, que exortou multidões de loucos maltrapilhos, como Pedro o ermitão, a seguirem os cruzados até Jerusalém na primeira e insana cruzada. Homens sobejos, vaidosos e mal intencionados que levaram a cristandade à cisão. Doutores eclesiais da cepa infeliz de Agostinho, para quem o ato sexual mesmo entre esposo e esposa poderia se constituir em pecado caso não se observasse as recomendações desse “sexológo” que a conselho da mamãe, santa Mônica, despediu a amante com quem tinha um filho. Demonstrando seu senso de justiça e piedade. Sábios presumidos como Jerônimo, que traduziu o evangelho do grego (septuaginta) e, sem o menor pudor, acrescentou e suprimiu a seu bel prazer o que achou necessário, “melhorando” dessa maneira o original. Doutores tais como Tomás de Aquino (um dos pais da escolástica, que introduziu à ela elementos da ciência de Aristóteles), que pôs como verdade dogmática os estudos e crenças científicas aristotélicas de modo a não contradizerem as Escritiuras. Tomás de Aquino que a exemplo de Agostinho, Bernardo de Claraval, João Escoto, Alberto Magno, Anselmo de Cantuária e tantos outros “supostos celibatários”, disseminaram o pessimismo sexual pagão entre a cristandade. Quando na tradição judaica, origem do cristianismo, não se encontra presença do horror gnóstico ao prazer. Mas, ao tornarmos nossos olhos sobre outras doutrinas egípcias (Ísis é a primeira mãe virgem de que se tem notícia muito antes de haver uma nação judia), persas, gregas, greco-romanas, lá está. Tanto o mitraísmo, o zoroastrismo, os cultos à deusa Vesta, o cinismo e o estoicismo gregos contem as bases de que se aproveitaram os celibatários para condenar o sexo como pecado. Tanto os grandes doutores citados como centenas de anônimos anacoretas e chefetes de diversas ordens religiosas católicas, moralistas inflamados, clamantes do celibato, do cilício e da mortificação da carne pela autoflagelação, infundiram esse temor ao sexo condenando o ato como pecado em diversos graus: do venial (perdoável) ao mortal, digno da excomunhão.
Muitas são as ameaças dirigidas aos fornicadores por esse rebotalho cuja vista grossa não viu sob suas barbas a ignominiosa simonia. A venda de “relíquias santas” ou a venda de “Indulgências”. Papéis timbrados com o sinete da igreja onde anotado o nome do falecido (a) prometia-se à família, contra a entrega de determinada quantia, perdão aos pecados do morto e seu ingresso no purgatório. Caso a soma fosse generosa, mesmo que padecesse no inferno como réu confesso de assassinato, o condenado ao orco passaria sem escala ao paraíso com direito a auréola e tudo mais.
Diante de tanta impostura e velhacaria me causa espanto quando um sacerdote cristão, seja protestante, ortodoxo ou católico romano, convidado a se manifestar sobre a sexualidade humana dá mostras de não levar em conta esses fatos. E, solicitado a falar a respeito da homossexualidade, trate dela como “fenômeno antinatural”. Um “problema”. Desfiando a seguir um ramerrão puído de palavras evasivas sem nenhum significado. Certamente é um seu direito se esconder tal camundongo assustado ante qualquer possibilidade de reprovação, caso não siga a cartilha do Vaticano. Tal direito lhe assiste. Ainda que se trate de uma prerrogativa covarde: abter-se de uma resposta direta, sem rodeios. Franca, à moda de seu Cristo, que mesmo em suas parábolas ia direto ao ponto.
Não, esses prosélitos não imitam seu mestre em nada.
Após mil e oitocentos anos de atitudes reacionárias (no começo o cristinianismo era mais “humilde”) nós não nos surpreendemos quando um padre católico utilizando-se de qualquer espaço nos meios decomunicação, quando questionado sobre homossexualidade humana empregue o substantivo masculino “problema” para explanar sua posição. Entretanto, a matemática não se apresenta assim tão exata, tampouco simples neste caso.
Problema, senhoras e senhores, é o cabotinismo. Teorema sem solução. Problema é a desfaçatez de pessoas que arregimentam uma pseudo-ciência caduca para defender suas convicções, pixando o homossexualismo humano como antinatural. Argumento “patria potestas” (do poder pátrio) falho na origem: mamíferos em geral (e não só mamíferos como crustáceos e insetos) mantêm relações homossexuais entre si. Comprovado cientificamente este fato foi ilustrado pela exposição “Against Nature” realizada em 2006 no Museu de História Natural de Oslo, na Noruega.
Contudo, não precisamos ir tão longe comprovar um fato de conhecimento público. Qualquer sitiante que observe sua criação sabe disso desde a aurora dos tempos. Não se necessita um conjunto probatório científico para comprovar a verdade “antinatural” que a natureza exprime de forma gratuita sem dar ouvidos às reprimendas e ameaças dos charlatães morais. Mas reparem que intitulei este artigo com uma expressão latina: “Audi, vide, tace, se vis vivere in pace!” (Ouve, vê, cala, se quiseres viver em paz!) Não se trata de um conselho à toa: pois, se não observado à risca, poderia condenar quem contrariasse a Igreja à fogueira. Esperemos que tal não suceda com a presidente da Argentina Cristina Kirchner, que, de maneira justa e corajosa, defendeu o direito dos homossexuais á união civil com todos os direitos garantidos por lei. Quanto aos clérigos. Que não se metam a assuntos dos quais, como supostos celibatários, nada sabem: sexo não diz respeito unicamente ao físico, mas às emoções humanas, ao inconsciente. Que vão ler Friedrich Reich e Sigmund Freud para se ilustrarem. Porque embora a homossexualidade não seja comportamento antinatural entre primatas superiores (gorilas, orangotangos, homens e chimpanzés), a imbecilidade certamente é.



[1][1] Utilizando-se para isso do método provado eficiente pelo psicólogo norte americano Burrhus Frederic Skinner: O condicionamento operante. Ou, trocando em miúdos, a coerção, intimidação, a chantagem. Substitutivos modernos nem tão eficazes quanto o ordálio, o látego, a roda e a fogueira. Mantida acesa do século treze em diante por quase seiscentos anos pelo santo ofício para “purificar hereges”, mitigando-lhes a culpa por fornicação, bruxaria, possessão e demais crimes, patifarias inventadas pela camarilha clerical a fim de destruir a quem se opunha a suas abominações.

19 de jul. de 2011

TEOLOGIA, TEOFANIA, TEOCRACIA

PRA QUEM SE LIGA EM RELIGIÃO. PRA QUEM ACREDITA EM RELIGIÃO (NÃO CONFUNDIR COM PRÁTICA MÍSTICA OU FÉ), SEJA QUAL FOR. RELIGIÃO = RELIGARE. RELIGAR O QUÊ??? TE LIGA BICO DE LUZ. PARA DE SER MASSA DE MANOBRA DE UM BANDO DE CANALHAS.

ACORDA TROUXA!

10 de jul. de 2011

"OH SHIT!"


Clarice Muller é escritora, pensadora, filóloga & apreciadora das boas coisas do mundo. Amiga de longa data, Clarice é um desses raros seres que nos iluminam com seu gesto e sua palavra. Ferina e arguta por natureza ela possui uma mente inquieta. Para saber mais dessa mulher inteligente e fascinante: http://verbovero.blogspot.com/






Eu queria ser escritora. Às vezes ainda quero, por razões insondáveis ou por absoluta falta do que fazer, a depender do dia. Ou do jornal que se lê e que bota seu senso de imaginação no pé. A saber:
Informa a página 25 de Zero Hora que um homem de 50 anos, aliado próximo do primeiro-ministro britânico David Cameron, foi encontrado morto num banheiro químico do festival de Glastonbury. Causa provável da morte: suicídio. Suicídio num banheiro químico. De um festival de música. O chefe da Associação Conservadora de Oxfordshire Oeste se matou num banheiro químico de um festival de música!
Posso imaginar alguém morrendo num banheiro químico: é só abrir um pouco demais as narinas que todas as Escherichia coliinvadem seu corpo e o transmutam na pocilga onde seus pés estão fincados, ou levar tiros por se recusar a compartilhar o papel higiênico mocosado na bolsa justo para essa insalubre ocasião, ou enfartar por ser o único local onde não dá pra ouvir as dezesseis duplas sertanejas que se apresentam há seis horas na sua fuça. Algo por aí.
O que não dá pra imaginar é como alguém escolhe um local desses pra dar cabo da vida. As pontes estavam todas ocupadas? Faltou trave pra pendurar corda? Cortaram o gás? O último amolador de facas se aposentou? Pílulas e seringas estão em falta?
Tá certo que se o sujeito chega a esse ponto é porque sua vida está valendo menos que seguro-desemprego na Grécia, mas daí a dar os últimos estertores em meio a um repositório excrementício (me puxei nessa!) é, no mínimo, reconhecer que toda sua existência não era flor que se cheire. Optar pela merda como última imagem na retina é o cúmulo da sordidez ou da indiferença, façam suas apostas.
Qual teria sido a motivação? Deixar claro que o governo fede? Protestar contra o mau estado das instalações sanitárias para fins de extermínio? Entrar no Guiness como campeão da categoria mórbido fétido? Enlouquecer a lavadeira?
Sejam quais tenham sido seus motivos, a Associação Conservadora de Oxfordshire Oeste não será mais a mesma depois que seu supremo líder chafurdou onde não devia e, ciosa de sua olorosa participação na coalisão governamental, imagino que deva patrocinar um estudo sobre os efeitos do uso continuado da cerveja e da gaita de foles no clima inglês. Os irlandeses devem levar a culpa.
Diz o jornal que David Cameron está devastado.
Que merda.

9 de jul. de 2011

CHIFRRE EM CABEÇA DE CAVALO: DÁ UNICÓRNIO

Há um programa no History Channel em que um grupo composto por diversos (pretensos) especialistas - lembrem-se: vivemos numa sociedade de especialistas. Se dedica a desvendar mistérios & símbolos que, distribuídos generosamente por toda parte: da nota de dólar à estátua da Liberdade, indicam a presença de sociedades secretas como os Iluminatti. Mencionados na obra de Dan Brown: O Código Da Vinci. Num desses programas uma das epecialistas aponta para o fato de que à frente de um templo católico de Washingtom D.C há uma estátua de Atlas com o globo do mundo sobre as costas. E eles especulam que esta justaposição simbólica revelava a intenção explícita de afirmar que há um poder paralelo  oposto ao do clero católico tão influente no ocidente nos últimos dois milênios... Em Cachoeira a estátua de Poseidon armaddo de seu tridente afronta a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, do alto do Chteau D'Eau na praça da Matriz. 
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Obra concluída em 1925 o Chateau D'Eau (Casa da Água) tinha por finalidade levar água potável às partes mais altas da cidade de Cachoeira do Sul. Pois bem, a presença da estátua pagã do deus grego Poseidon armado de tridente sobre a cúpula do Chateau teria sido obra de uma dessas tantas sociedades secretas simbolistas? Haveria uma conspiração tramada nos idos de 1925 (dois anos  antes, em 1923, maragatos, partidários de Assis Brasil e Ximangos, correligionários de Borges de Medeiros tinham travado combates na revolução federalista). Não tardaria a partir do término do Chateau a revolução de 1930, na qual o Rio Grande sob a liderança do futuro ditador Getúlio Vargas teria papel fundamental... Pode um reservatório de água potável com uma estátua mitológica em seu cimo simbolizar a presença de um poder oculto? Uma sociedade ou organização que tem por oposição á igreja tentado contrapor ao poder do clero católico ideias humanistas que contrariam o conservadorismo? Bobagem... No topo do Chateau D'Eau o velho Poseidon não passa de um enfeite. Tal como debtro do templo católico as estátuas de gesso e madeira que representam a iconografia cristã. Iconografia esta que contraria um dos mandamentos de seu próprio deus (de não construir imagens para idolatria), mas, que esperar de uma igreja que prega o celibato e forjou um sem número de "relíquias", e ajuntou uma enormidade de "provas" da pseudo santidade de mulheres e homensquase deificados. Pois meu desejo era que que realmente Poseidon pudesse de alguma maneira estar ligado a uma sociedade dedicada à ruína desse sistema clerical que distorceu o ensinamento de um dos homens mais sábios que já existiu. Todavia procurar com afinco indícios da presença dessas sociedades e grupos de "conspiradores ocultistas", é como querer encontrar chifre em cabeça de cavalo. Se alguém achar parabéns, encontrou um unicórnio.

24 de jun. de 2011

MORALISMO DESAVISADO

O código penal estabeleceu a condição de vulnerabilidade para menores de 14 anos. Não bastasse a bandalha que vige no Brasil, lugar em que os "di menor" podem barbarizar, esculachar, matar, pois são praticamente ininputáveis. Então, ligo a teve e me deparo com a seguinte manchete num programa desses dedicados ao sensacionalismo: Senhor de 80 anos é preso em flagrante na companhia de 2 meninas de 13 anos... As "vulneráveis" estavam nuas dentro da casa do acusado. Conforme a polícia militar que atendeu a ocorrência... Eu não sou favorável à prostituição. Mas, a coisa que mais detesto é a hipocrisia. É muita hipocrisia e desfaçatez alguém presumir que duas "meninas inocentes" são forçadas por um "ferrabrás" de 80 anos a praticarem atos libidinosos. O que força e obriga essas "vulneráveis" à sacanagem com o vovô é o desejo. E3xplico: desejo pela grana. Desejo pela "pedra". Desejo pela safadeza.... Ah, não pode falar isso. É pedofilia.... Amiguinhos, amiguinhos, esse papo de pedofilia não é de agora e uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. No Brasil a idade de alguém funciona como uma blindagem que mascara e apaga sua índole. Se é moço é vulnerável. Esse pressuposto não me serve. Na prática, não estando armado, que podeia fazer um idoso de 80 anos contra duas adolescentes de 13? Que papo é esse Willis? (como diz o Arnold do seriado ao irmão). Se tem algum vulnerável nessa história é o velho...

15 de jun. de 2011

CERTO & ERRADO: BALÉ SINGULAR, NO PLURAL!

  O amigo Marcelo Spalding  é professor, escritor e jornalista. Contudo, sua militância maior é pela cultura. Seja ela acadêmica ou de base popular. A pedido deste blog Marcelo autorizou a reprodução de um seu artigo a respeito de mais um de tantos desaforos que praticam contra a língua portuguesa. 


O certo e o errado no ensino da Língua Portuguesa
por Marcelo Spalding
 
Chegou aos noticiários nacionais o dilema de cada professor de língua portuguesa: diante das novas teorias linguísticas e, em especial, da sociolinguistica, como lidar com variações como “nós pega” ou “os carro” em sala de aula? Simplesmente apontar o erro seria reforçar o que tem se chamado de preconceito linguístico, mas deixar de fazê-lo poderia colocar a disciplina num limbo perigoso onde o vale-tudo acaba com a especificidade da disciplina.
O tema ganhou relevância graças à polêmica provocada pelo livro Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender – adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) a 484.195 alunos de 4.236 escolas. Confira um trecho do livro, publicado pela Editora Global:
“Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro’?’ Claro que pode. Mas fique atento, porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico (…) Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas.”
Professores respeitados, como Claudio Moreno, foram enfáticos na defesa do ensino do português chamado padrão, reafirmando que o papel da escola é ensinar o futuro cidadão a se utilizar da língua escrita culta, “cujas potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos grandes autores”. Para Moreno, “os lingüistas sabem que nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os lingüistas, que essa é a língua que ela deve ensinar”.
Por outro lado, lingüistas de consistente formação acadêmica, como Pedro Garcez, reiteraram que não é uma questão de certo e errado, mas de adequação: “de certa forma, todos nós brasileiros produzimos frases com falta de concordância. Isso do nosso ponto de vista não é erro, é a linguagem natural. Esse é o português brasileiro.”, afirma o professor da UFRGS.
Claro que a questão é mais profunda do que esses exemplos um tanto grosseiros pegos pela mídia, pois outras tantas construções corriqueiras são erradas do ponto de vista gramatical, mas continuam sendo repetidas por pessoas das mais variadas classes sociais e pela própria mídia. Exemplos? “Tu vai”, “duzentas gramas”, “Houveram momentos”, “Me empresta”, “Ele trouxe para mim ver”, “Assisti o show”, etc.
No fundo o que está em jogo é a entrada de novos atores sociais no dia a dia da língua portuguesa, com suas influências e estilos. O paulistano usa “então” no começo de cada frase, um vício de linguagem horrível, mas nem por isso se discrimina o paulistano ou, por outro lado, se usa isso em filmes, novelas e livros didáticos. Mesma coisa o “r” carregado dos cariocas ou o “tu vai” dos gaúchos. Essas são as variações geográficas, por isso não causam tanto furor como as variações sociais, marcas linguísticas de classes ou grupos sociais específicos. Essa variação pode ser de interpretação, léxico, sintaxe e até ortografia (como os sempre criticados “vc” ou “tb” da Era Digital).
E o professor, em sala de aula, faz o quê? Uma das formas de lidar com o problema sem encara-ló de frente tem sido concentrar o trabalho com a Língua Portuguesa em textos, evitando a normatização da gramática e da ortografia. Mas será que, afora os exageiros, não é importante que os jovens tenham um conhecimento técnico de sua língua, e não apenas intuitivo, para melhor interpretação, correção, clareza e variação na leitura e na produção textual? Não será importante, especialmente aos futuros profissionais da língua, como comunicadores, advogados, professores de todas as áreas, cientistas sociais, etc, saber onde se utiliza ou não o “a” craseado, a vírgula, a preposição antes do “que”? E não é importante que, para isso, eles saibam pelo menos o que é um sujeito, um verbo, um objeto, um adjunto adverbial? Um adjetivo, um advérbio, um substantivo, um pronome, uma preposição?
Pode parecer espantoso, mas nem sempre eles sabem. Não com facilidade. Vejamos um exemplo bem prático do meu dia a dia em sala de aula, a frase "A expansão desenfreada da cidade é uma grande ameaça para seu desenvolvimento". Para muitos, o verbo é "expansão", o que pode causar grande confusão na hora de concordar o verbo com o sujeito e faria com que muitos escrevessem essa frase com “Há” ou “À” no lugar do “A”. Adiante, poucos percebem que “seu” é um pronome que retoma “a cidade”, ainda que um esteja no masculino e o outro no feminino.
Claro que o mais importante não é a gramatiquice, é que nosso cidadão saiba expressar-se com coerência, coesão e, mais ainda, tenha postura crítica e ideias originais. Também é importante, entretanto, que não sejam sonegadas desse cidadão as regras sociais, incluindo aí o português padrão, pois ali adiante esse desconhecimento pode acabar excluindo, ou, pelo menos, subvalorizando pessoas de alta capacidade e que lutaram muito para reescrever seus destinos.
O papel da escola, enfim, é apresentar e ensinar ao aluno a variante “culta” da língua: aprender ou não, interessar-se ou não por ela, é um direito do aluno, mas se ele precisar dessa variante e não conhecê-la por omissão da escola teremos praticado, sem exagero, um crime. Dos grave.

16 de mai. de 2011

Reestruturando a Batucada

...Trata-se isso de um drops kkkkk. Seja um drops, uma balinha desembrulhada e deixada ao sol para desmanchar-se em uma geléia. Mas, fato é que este opúsculo pouco didático se trata de um trecho do livro que ora finalizo sob o tema da tradição do Quicumbi. Folclore de origem afro sul rio-grandense presente em Cachoeira do Sul de fins do século XVIII até o início do século XX.
 
A transmigração do Quicumbi rumo ao estilo hoje referido genericamente como samba foi responsabilidade exclusiva dos músicos negros profissionais das bandas sinfônicas. Entusiastas dos ritmos de apelo exclusivamente popular: o maxixe, o lundu, o choro o tango, e a onipresente modinha muito estimados pelas camadas mais baixas da população. Onde também se ouviam e bailavam chamarritas e fandangos de marcada influência ibérica,  ritmos apreciados nos cabarés à margem do Jacuí onde tais músicos por necessidade e divertimento exerciam com muito maior liberdade sua profissão animando o ambiente nas noitadas de "função".

De uma maneira ou outra essas ocorrências pontuais - de músicos profissionais, que, fora do âmbito das bandas enveredavam pela informalidade da música popular, concorreram diretamente para que se avolumasse no seio do povo o desejo de retornar à folia das ruas. O retorno, à volta ao samba propriamente dita encerrou o propósito fundamental de reafirmar a identidade perdida mediante a vigência do preconceito e da segregação impostos também pela condição social dos indivíduos além de sua cor. Resistir ao achincalhe, expressar-se, dar vazão à todas as frustrações, extravasar na música, no canto e na dança a enorme demanda de alegria reprimida, foi passo decisivo para negros, brancos pobres e mestiços organizados suportarem a opressão de uma sociedade hostil a suas presenças. E, até hoje, indiferente à profundidade cultural, à riqueza milenar da cultura afro-rio-grandense. Cultura essa cujas manifestações folclóricas foram toleradas no tempo da escravidão como medida para suavizar a pressão a que eram submetidos os escravizados. Manobra de provado sucesso usada como válvula de escape. Alívio de tensões entre escravizados e senhores. Contudo, essa tradição popular espontânea que personificada nos Ternos de Promessa de Quicumbis, Entrudo, Bumba Meu Boi, Reisado, etc., era encorajada pela sociedade cachoeirense quando e como lhe convinha, em momento algum ao longo a história dessa comunidade foi completamente entendida ou aceita por ela. Justamente porque sua motivação calcada na sabedoria do povo (folk lore) sempre esteve adiante da razão presumida – única e simplesmente o divertimento, com que a sociedade cachoeirense (e centro rio-grandense) quis ou pôde enxergar essas manifestações. Sem a capacidade intelectual de reconhecer nelas o cabedal das tradições milenares gravado no inconsciente coletivo, na psique do povo. Atualmente o Quicumbi resiste, ainda que diluído sob a influência de vários ritmos e estilos do folclore musical afro-rio-grandense em localidades como Tavares, Mostardas e Osório - região litorânea do RS, e Rincão dos Negros (ou dos Panta), comunidade descendente de escravizados, no interior do município de Rio Pardo, região central do estado.

Quanto à estrutura rítmica atual dos Quicumbis originais, ela alterou-se através dos anos. Devido a fatores de ordem externa como a dinâmica do folclore, empréstimos feitos a outras tradições, e, sobretudo, a perda de elementos, esvaziamento cultural em consequência de desgaste sofrido ao longo do tempo.  A preservação do estilo do Quicumbi aos moldes de quando apareceu seria impossível. Acréscimos exóticos a instrumentação original composta apenas de instrumentos percussivos são anotados em Cachoeira já em 1907. Rabeca e gaita (acordeom) são presenças observadas no corpo instrumental. Posteriormente, Luciana Prass em seu trabalho de pesquisa etnomusical Tambores do Sul registra em áudio e vídeo os festejos de um Quicumbi já abastardado ocorrido na localidade de Rincão dos Negros, interior do município de Rio Pardo. Essa comunidade trata-se de um Mocambo formado por descendentes de escravizados fugidos. O Quicumbi registrado por Luciana apresentou em seu conjunto instrumental violão e gaita. Por consequência supomos que a execução do Quicumbi, naquela comunidade, ora imiscuído por ritmos e tradições estranhos a si seja muito diferente do que fora nos primórdios dessa tradição em Cachoeira e Rio Pardo. Distinto até dos festejos registrados por J.C. Paixão Côrtes na década de 1950 em Bom Retiro do Sul, Mostardas e na própria localidade de Rincão dos Panta em Rio Pardo nas décadas de  40 e 50.

Nota:

1 - Rincão dos Panta é nomenclatura emprestada da família Panta, a quem pertencem as terras desses antigos Mocambos, como é preferível classificar o reduto de descendentes de escravizados fugidos, que não se constituiu num acampamento guerreiro, termo etimologicamente adequado à palavra Quilombo.

26 de abr. de 2011

VAI RALANDO NA BOQUINHA DA GARRAFA

Meu programa televisivo predileto nos tempos de menino era comandado pelo Tio Tony durante as tardes da extinta TV Difusora de Porto Alegre. Nos idos de 70 essa emissora riograndense retransmitia a programação da TV Tupy de São Paulo. Com a falência da Tupy em 1978 a TV Difusora passou a retransmitir a programação da Bandeirantes. E justamente Paulo Roberto Brito Martins, o Tio Tony divertia a gurizada com mágicas e brincadeiras ao vivo no seu Carrossel Bandeirantes. Exibindo como atrações principais os Troopers, e desenhos como Space Ghost. Eu e meu vizinho Clairson, munidos de uma imensa jarra de Q-Suco de groselha (uma espécie de corante em pó saborizado) com bastante gelo, religiosamente assistíamos as mágicas e peripécias da turma do Tio Tony. Mágicas aquelas, que, mais tarde sem sucesso tentávamos reproduzir, à custa de alguns pequenos acidentes domésticos.

Nos anos noventa, adulto, nem tanto maduro, mas adulto. Depois de ter passado dois anos no exército arranjei emprego em uma firma próxima de casa. Conforme meus horários (turnos de trabalho) permitiam eu assistia a programação infantil das emissoras abertas sempre atrás de meus desenhos favoritos. Na década de noventa o "boom" eram Caverna do Dragão e X Men. Todavia, desde os tempos ingênuos do Tio Tony as coisas haviam mudado. Rareavam apresentadores dotados de alguma pedagogia capaz de conferir tratamento didático ao programa como Danyel Azulay, Tio Tony e a turma do Bambalalão da TVE que eram craques em fazer rir sem apelar às baixarias. Numa era pré Ratimbum, que depois transformou-se na ótima série Castelo Ratimbum, produzidos pela TV Cultura de São Paulo, o que se via em matéria de apresentação de programas infantis era o holocausto. Dentre as folias mais ordinárias alguns apresentadores realizavam concursos de rebolado na "boquinha da garrafa". Um sucesso(?) da época com o grupo Cia do Pagode... A coisa toda era de uma bizarria sem par. Punha-se uma garrafa de cerveja de 600ml em pé no chão, e, uma criança ou adulto rebolava sobre o bico da garrafa. Sem encostar o ventre ou as nádegas na garrafa, mas insinuando a penetração.

O ensejo ao apelo erótico não se tratava, nem se trata de uma casualidade. Precisa-se falar com clareza os motivos da indústria e da mídia para promoverem dessa deturpação de valores insistindo em colonizar precocemente "corações e mentes" infantis levando-os a irrestível vontade de consumo. Pouco importando à mídia ou ao mercado que lhe sustenta, a erotização precoce das crianças, ou qualquer das mazelas que disso decorre. Conquanto quaisquer dos modismos lançados: Maquiagem, calçados de pástico, bonecas, e, um sem número de bugingangas supérfluas atingisse o mínimo satisfatório de unidades vendidas.

Nesses programas ditos infantis os jogos propostos estavam baseados em competição. Até aí tudo bem. Entretanto todas as provas disputadas por dois times rivalizavam meninos e meninas. Não haviam times mistos. Algo pedagogicamente nada saudável. Gerando uma espécie de regra maniqueísta, afirmando a total impossibilidade de concórdia e cooperação entre os gêneros.Tal política de exclusão parece ser uma coisa incidental, todavia sinaliza de modo enfático ao insconsciente infantil que a atitude recomendada quanto às escolhas é: Escolha sempre aquilo ou aqueles que são iguais ou mais parecidos a ti. De certa forma fazemos isso naturalmente. Por essa mesma razão esse aprendizado vem de maneira instintiva não sendo necessária a queima de etapas. Contudo, quando se divide um grupo por sexo e não por faixa etária ou outra identificação, se está mandando um recado claro: Meninas são assim, meninos assado. Isso só gera conflito e preconceito.

O programa do Tio Tony, assim como minha mocidade ficaram lá no antanho. Mas a permissividade que sempre foi tônica na sociedade brasileira continua sem resposta para a bandalha generalizada por alguns irresponsáveis. Longe de mim querer bancar o moralista, apenas sou de opinião que cada coisa tem sua hora e seu lugar.

DOM QUIXOTE & SANCHO PANÇA










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"Das alucinações, foi ter Quixote/dom para as maiores escabruras/ai de mim, fiel igual Sancho/ai de mim, descrente que nem o burrico/a enxergar com clareza/todos os arranha céus que assolam este mundo..." Escrevi estes versos há muito tempo. Pois, hoje duvido continue eu a enxergar claramente as coisas desse mundo. Minha vista se fez baça, meu juízo vão. Minha consciência, experimentando a lei inefável da entropia tornou-se obtusa. Sombreada pelo tempo. O tempo a revolver a entranha dos viventes. Pois se antes eu era certo de todas as figuras, se distinguia claramente o imaginário e o real, hoje capitulo à mente quixotesca. O devaneio do alquebrado cavaleiro andante tocou minha fronte com gentileza, fiz-me louco. Tal e qual Dom Quixote. E, as ilusões  antes refutadas pelo escrutínio panço da mente simplória de Sancho tomaram de assalto meus olhos e meu coração. Eia! Enfim, lúcido. Eia, enfim desperto! Um mago, um demiurgo, um homem pássaro habitante de Theotihuacan ! Um verme luminescente, uma flor! Posso ser qualquer coisa. Qualquer ser miúdo e rastejante! Louco! Liberto. Ubíquo, experimentando simultaneamente  o desempenho de dois papéis na farsa mundana: o devaneio de Quixote, airoso e nobre defensor da causa humana, e, o resto de turra afeição ao ponderável ao qual insiste se aferrar o pobre Sancho Pança.

AS FALANGES DE ALEXANDRE


















"Barão sem chaves,/e assinalado/ por umas naves"/que sempre vão;//" - Jorge de Lima - Canto Décimo - Missão e Promissão. Invenção de Orfeu.

Não foi a astúcia a qualidade responsável por minha existência. Não foi o medo ou a verdade. Mas foi o amor. Não me soergui da campa fria como náufrago redivivo de longa e solitária jornada atado a um caixão, como pinta a cena de   Herman Melville em Moby Dyck. Tampouco cavouquei a terra para fora da tumba. Não  foi a insistência, ou algum tipo de ridícula teimosia, responsável por minha estada aqui mas, o amor. No-lo confundis com paixão? No-lo mistureis à demência variada da consciência humana? Sim. Sim. Sim...
Todavia insisto em afirmar: não foi à guisa de curiosidade minha vinda entre vós. Tampouco a vaidade mo trouxe. Somente o amor. 
Ora assisto impassível o manobrar das suas legiões no campo contra mim. Ora vejo enlutado suas fortificações se levantarem em praça forte acerca de mim, a fim de não permitir aproximar-me muito além das sarissas apontadas contra  meu peito encouraçado. 
...Ouve: Não somos nós inimigos. Não saístes vós a campo como Otávio para bater Marco Antônio. Não tramei contra vós, não roubei o fogo vivo de vossa existência para ofertá-lo às gentes mundanas por pão, riquezas efêmeras, cousas de reluz e brilho... Pois sem o sol nenhum brilho haverá. Não sou Prometeu, nem vós sois Júpiter, Freya, Athena ou Afrodite. Ouve. Estou cansado de repetir ciclicamente a dança e o conjuro de auspícios sem cumpri-los. Guardai isto: Não há desvio possível nem chance de mudança. Destino  escreveu em seu livro, cedo ou tarde, longe ou perto, tudo estará consumado.

23 de abr. de 2011

ASSOMBRAÇÕES








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O labirinto

[...] a estória assemelha-se ao labirinto sob o palácio minoico. Cabe ao narrador percorre-lo. Mas, palavras nem sempre são garantia de retorno seguro ou sucesso na empreitada. As palavras são diáfanas. Desmancham-se no ar sem deixar pista. Não são como o fio de Ariadne.
Resta, entretanto, escolher a personagem que melhor possa representar o narrador. Será Teseu ou Minotauro? Quiçá nenhum dos dois, quem sabe? Seja o narrador também uma de tantas vítimas do labirinto onde meteu-se à busca de fama e galardão.
[...] todos os meus fantasmas tomam de empréstimo minha voz...
A entropia é um princípio, uma lei descoberta por alguém sem nada pra fazer nesse determinado dia. Se ela é real, não importa. Talvez seja mais uma invenção inútil & filosófica do intelecto para expressar uma falsa ideia de entendimento sobre coisas fugidias ao entendimento humano. Fenômenos causadores de perplexidade. Se os elétrons bailam em derredor do núcleo atômico a distancia razoável. Que matéria ou substância pode ser considerada sólida?
Todas as coisas, criaturas, pensamentos, se compõem de vácuo. Por isso são instáveis, voláteis, efêmeras, etéreas. Todas as coisas viventes ou não: as estrelas, os mundos, as nebulosas, os quasares, as flores, as gotas de chuva e as sensações. Talvez, só mesmo a metafísica possa querer explicar o amor. Seu movimento cíclico; onda, ora rebentando furiosa nos rochedos das encostas, ora morrendo mansa n’areia. Lambendo os pés de quem caminha na beira dessa praia.
Todos os meus fantasmas tomam de empréstimo minha compaixão...

17 de abr. de 2011







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O livro aberto do silêncio nada é senão páginas em branco diante dos olhos de um cego. Não é mais nada a não ser a ventana aberta por onde entra o sol sem licença, sem perguntar nada. Tal como vem, vai-se embora. O livro do silêncio deixa á mostra essa gengiva albina da folha feita branca pela ação do cloro... Não sei quando voltarei a borrar meu livro com debuchos e garatujas feias. Não sei quando voltarei a colori-lo ou se terei motivos para tanto. Meu livro aberto do silêncio, posto assim sob a mesa da cozinha onde outrora havia barulhos de gente pela casa. Hoje minha casa e meu livro estão silenciosos. Não estranho porém, um tal silêncio. Pois de fora há o balbuciar do vento ciciando as folhas das bergamoteiras, do araçá recolhido e seu outono e do gabijú sempre frondoso a esperar eternamente uma nova primavera. 

16 de abr. de 2011

Dias sombrios

...os dias são morrudos e graves agora cá, e toda gente se agasalha. Agasalha-se. Que adianta. Vem sopesar o desespero para as famílias que marchavam felizes numa certeza ilusória de que não há fim. Porém, o fim é tudo quanto há neste mundo vago e impermanente. Onde cada um sonha em separado um destino nem sempre bonito ou venturoso mas, seu. Próprio e consagrado ao ego esse deus menor que habita o homem no saber do homem, no querer da vida humana... os dias são morrudos e plúmbeos, há ventos frios e tentamos nos confortar, porém os mortos teimam em brotar da vida tenra, e os pais se desesperam. Sobreviver ao filho eles não desejam. Acontece. Sempre acontece. E por eles me compadeço. Por meus vizinhos. Por sua filha morta. Pela irmã mais velha perdida pela caçula, pelo sofrimento do vúvo e dos filhos... são dias morrudos que acontecem nem bem finda o verão... 

VAPOR BARATO

O cansaço arde no peito: eu não sabia. ...um vento frio sopra de nordeste e a pessoas se agasalham do silêncio num riso nervoso, tenso... eu não sabia. Este mundo não é perfeitamente esférico, tampouco existe perfeição nos limites da natureza, disso eu suspeitava desde o princípio mesmo antes do Chapolin Colorado inventar o bordão. Mas, sim. Eu estou tão cansado, com minha calças vermelhas e meu casaco de general - disse Wally Salomão e cantou Jard's Macalé... Wally esqueceu de deixar pronta a fórmula, o elixir pra esse cansaço... Hein poeta? Hein? Como se desce desse carrossel? Hein poeta, hein?
O cansaço martela a frio nalma da gente, o peito arde, o coração se precipita, sangra, ameaça greves, quer parar. Impetramos uma liminar... Mas hein poeta, me diz, como se faz pra chantagear um coração cansado?
...ah meu poeta "Eu estou tão cansado...". 

27 de mar. de 2011

PUBLICAÇÕES ANTIGAS

Publicações da revista cachoeirense Aquarela: CACHOEIRA DO SUL / JULHO DE 1958 A OUTUBRO DE 1964.


TIA FRANÇA


Oriunda da África, de onde bem moça ainda viera ao Brasil, tia França envelheceu nesta cidade sonhando sempre com as possibilidades de rever a terra que lhe serviu de berço, aspiração essa que só terminou com o silêncio de uma tumba fria e anônima.

 
Tia França se associava às festas dos "negros minas" (yorubas - da Costa da Mina - grifo meu) com grande prazer animando a todos com uma manifestação toda especial.
Em seu casebre, que era situado nos fundos de onde se acha hoje o edifício do Ginásio Roque Gonçalves, costumava entoar canções dolentes do Congo (Lundus?? - então França não era das Costa da Mina, era de origem Bantu? - grifo meu) despertando e atraindo os transeuntes que ali se detinham a ouvir a alma da terra africana por intermédio da preta Tia França.
Tia França era muito querida pelas crianças pela sua bondade, pelas suas histórias pitorescas (eis o confirmo de que não era de origem Yoruba, dominava o português a ponto de ser compreendida pelas crianças; provavelmente era oriunda da Guiné ou de Angola/Congo - antigas possessões portuguesas. Desde 1491, pelo menos, em solo africano) e principalmente pela sua fabricação de bonecas de pano que eram vendidas a $ 400 (quatrocentos réis) cada uma... (tradição das bonecas Kikondi, costume Bantu. Originalmente confeccionadas em fibras vegetais e entregue às mocinhas casadoiras logo após aprimeira menstruação - menarca. Isso fecha questão. Tia França era de origem Bantu e não Mina - Yoruba)


Revista Aquarela: dezembro de 1958.



CASA DOS ESCRAVOS


Onde hoje está situado o Café Frísia (Rua Sete de Setembro esquina com General Portinho) existia lá pelo ano de 1885 um prédio denominado "Casa dos Escravos", que rodeada de varões de ferro, servia de alojamento aos escravos a fim de serem vendidos.



Em 16/12/1857 a freguesia de Santa Maria da Boca do Monte é desmembrada da então VilaNova De São João da Cachoeira e elevada à categoria de Vila.


 

TIA COMBA


Era uma mulata alta, forte e vendia quitandas e também lavava roupas, cujas trouxas trazia sobre a cabeça envolta num turbante de cores pitorescas. Não gostava quando lhe perguntavam a idade, aliás não só ela... Mas se alguém a chamava de mulher "moça ainda" Tia Comba deixava transparecer inefável alegria.
De descendência africana ela conhecia a arte do batuque, mas não se prevalecia disso para fazer um meio de obter dinheiro. Quando alguém adoecia ou estava em situação de dificuldade prontamente a Tia Comba evocava os espíritos a fim de conseguir o bem para a pessoa. E quando achava que seus propósitos tinham culminado em exconjurar o mal, aceitava sim um presente: uma galinha, um prato de comida, ou outra qualquer coisa, menos dinheiro. (a dupla fidelidade religiosa da hipócrita sociedade cachoeirense é muito antiga. Por outro lado a esperteza de Tia Comba se evidencia: não aceitava dinheiro, mas bens como galinhas etc, que podia facilmente transformar em dinheiro. Em não aceitando dinheiro diretamente nunca lhe faltaria trabalho nem lhe recusariam ajuda em caso de necessidade. Tratando-se de uma sociedade onde o negro era tido na conta de ser inferior enquanto escravo e um estorvo após a abolição a estratégia de Tia Comba foi perfeita para angariar a simpatia das pessoas. Quanto às suas práticas religiosas, tudo faz crer que ela não se tratasse de uma Ialorixá [sacerdotisa Yoruba], tais pessoas tem regras e ritos que demandam uma observância disciplinada muito rígida quanto ao culto e presidência das cerimônias. Tudo leva a crer que Comba se valia de algum conhecimento adquirido por observação, e, quando muito fazia algumas rezas em seu dialeto [Gêge, provavelmente] enquanto benzia os pacientes eventuais - grifo meu).
Tia Comba era pacata, prestativa e respeitadora, motivo porque todos a queriam bem, principalmente as famílias onde trabalhava em qualquer mister. Nos festejos que a seita dos  "Quicombi" realizavam em louvor do Rosário de Nossa Senhora, que eram o primeiro do ano, Natal e dia de Reis Magos, não atendia serviços de espécie nenhuma. Se metia no bando, dançando, saracoteando e cantando.
Quando se "chumbeava" um pouquinho demais, desafrouxava-lhe um riso bom, puro que contagiava a gente... (o costume de meter-se atrás do cortejo dos Quicumbis foi prática comum em cachoeira antes e depois da abolição nos anos que duraram as encenações do baile dramático. Não somente pessoas etnicamente ligadas aos negros saíam atrás dos cortejos folgando e se divertindo. A assistência acotovelada nas calçadas acorria em massa. E, tal costume se estendeu depois quando o povo tomou conta das ruas no começo da década de cinquenta para brincar o carnaval). 


ARRABALDE DO JACARÉ

O Arrabalde do Jacaré situava-se no extremo leste da Rua Félix da Cunha. Lugar célebre nos anais da polícia por ter vários pontos de reunião. (a referência aqui é principalmente os locais onde os negros Se reuniam para ensaiar os Quicumbis, ou realizar  festas de natureza laica. Rodas de umbigada, Bambaquerê, Bumba Meu Boi, etc.)



Revista Aquarela: 15 d novembro de 1957.



QUESTÃO DE COR

Balbúrdia tremenda manifestou-se há muitos anos atrás no Café Restaurante Comercial (Hoje um hotel  denominado "hotel Cachoeira" que dispõe de quartos para alugar mensalmente fazendo as vezes de um "flat") de propriedade do Sr. Alberto Trommer então à Rua Sete de Setembro onde não foi atendido um soldado ou cabo por ser de cor preta. (O assim chamado "incidente" e deu por volta de 1926, ano em que foi instalada a Guarnição Federal em Cachoeira  , e, a reação dos militares contra o tratamento segregacionista, preconceituoso e injustificado que dispensaram ao militar demonstra quão democrática, e desde muito tempo fora assim, era a instituição do Exército Brasileiro, que sempre ombreou em suas fileiras indivíduos das mais variadas etnias. A lembrar o exemplo de Henrique Dias e sua tropa negra lutando pela reintegração da capitania de Pernambuco à colônia portuguesa. Capitania ocupada pelos holandeses em 1641)
Tal fato originou grande indignação por parte de vários sargentos que irrompendo por aquele recinto obrigaram o proprietário a servir em pessoa os elementos militares de cor preta. Foi preciso a intervenção de altas autoridades da Guarnição Federal para impedir que a agitação tivesse um rumo de consequências gravíssimas, pois já haviam se registrado lutas corporais entre alguns civis e militares.
Revista Aquarela: outubro de 1964.

FOOTING

A população cachoeirense fazia seu "footing" lá por 1912 nas duas mais importantes quadras existentes na Avenida das Paineiras, como popularmente a chamavam, cuja a designação verdadeira é Praça José Bonifácio, sendo uma destinada aos representantes da cor preta, não podendo esses entrar na outra quadra tomada pelos brancos.
Mas, devido a uma série de graves tumultos que tiveram sequência durante vários dias, originados por invasões da zona pelos elementos de cor, ficou abolido tal costume antidemocrático. (A quadra destinada aos pretos era a de baixo. Calçada à margem da Rua Moron. Um ermo escuro, sombrio mesmo nas horas claras do dia).
Revista Aquarela: dezembro de 1963.