Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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29 de jan. de 2009

UM DIA...

... Um dia a gente cansa. Cansa de esperar e começa a compreender o refrão romântico do Vandré: "Quem sabe faz a hora/não espera acontecer//" O problema é que as novas gerações ou desconhecem ou não suportam as músicas do Geraldo Vandré. Então o pessoal continua esperando resultado da parte do Obama. Obama o salvador do mundo ocidental capitalista, liberal fodido que provou-se tão ruim quanto o ex socialismo totalitarista centralizador fodido. O Obama só puxará brasa pra sardinha deles, dos estadunidenses.
Estamos todos fodidos. Mas, vai que um dia a gente cansa de ser fodido, mandado, esculachado. Pelo doutor advogado, pelo doutor delegado, pelo doutor juiz, pelo doutor clínico que dá com a porta na cara da gente e diz que não vai atender. Ou simplesmente não aparece no consultório do sus. Vai que um dia a gente se enche de tanta porta na cara e tapa na cara e desaforo na cara. Vai que a gente cansa, porque ficar de cabeça baixa o tempo todo deixa o sujeito corcunda, espinhela caída, fio de voz, já nem se ouve o falar da criatura - corcundinha de Notre Dame. Pra quê mesmo se precisa de delegado, polícia, político, juíz, se a tal da duralex nem tem mais propagenda na tevê? Pra quê mesmo se precisa de governo? Então as pessoas não podem se governar? Pra quê mesmo se precisa de padre, pastor, macumbeiro, buzinando no escutador de bolero do sujeito o que ele tem e não tem de fazer?
Somos todos uns fodidos mesmo. Uns fodidos paus mandados. Uns merdas sonhando ganhar na mega sena, na loto, na quina. A única grande revolução pra merdas como nós é ficar ricos. Mas, quem sabe? Um dia a gente não se canse de esperar e resolva dar ouvidos a uns caras aí (advérbio de lugar imprescindível na locução oficial brasileira). Uns caras maneiros com umas idéias boas. Uns caras como Paulo Freire - e Martin Luther King Jr. Aliás, nossos coleguinhas lá do Norte vem dando muito crédito a Martin Luther King Jr.

21 de jan. de 2009

"O JACUÍ É O MEU MAR!"


AS SOBRAS DO AMOR


Quando um relacionamento amoroso duradouro se desfaz não vitima somente o casal. Alter-egos ligados aos cônjuges por simpatia e dever de ofício perecem. Com o fim da relação jamais tomarão fôlego novamente. E quanto mais criativo seja o casal em questão maior terá sido o número de "baixas" entre os personagens criados e interpretados por eles na intimidade.
[...] Uma pena termos de nos desvencilhar dos "cadáveres" do amor sepultando tantas figuras amáveis. Seria traição imperdoável, estender ao novo relacionamento a figura de um velho personagem. Tanto pior se a caracterização de voz, gestual e comportamento for a mesma. Mais grave ainda se além de tudo isso houver descrição pormenorizada do contexto de atuação desse personagem no relacionamento anterior seguido de um perfil psicológico. Nesse caso estaria configurada a suprema infâmia, a mais alta traição! Blasfêmia! (kkk)
Quando o amor fenece entre um casal condena-se ao ostracismo todas as criaturas feéricas, singelas, surgidas do inconsciente lúdico para habitar com o par amoroso por um tempo breve. Tão breve quanto o silvo de uma flecha endereçada a este meu coração piegas!

18 de jan. de 2009

ESTÓRIAS PARA ACALENTAR BOVINOS

O Big Brother 9 representa exatamente isso: Estórias pra boi dormir! Nada há de interessante ou curioso em assistir um bando de pessoas mexeriqueiras, desimportantes, egoístas lutando desesperadamente por uma bolsa de um milhão de reais.
Belas mulheres utilizando o sex appeal. Homens moços e de boa aparência tentando fazer o mesmo, e, por uma questão estratégica ensinada lá nos tempos (saudosos) do onça & do fera por um gajo chamado Júlio Caio César, usando a tática do "dividir e conquistar". Entabulando falsas tratativas sentimentais com as moçoilas. Com a finalidadede estabelecer um par a fim de ganhar a simpatia dos milhões de cretinos expectadores desse lixo televisivo.
O Big Brother é o atestado da competência do marketing da globo, e da sua total capacidade de influência sobre o gosto de uma nação, educacionalmente bestializada. Embotada. Reduzida a uma massa fusiforme enovelada na teia de mentiras veiculadas por um sistema de televisão aberta pra lá de ruim.
A cada votação dos famosos paredões a globo paga cinco ou seis vezes todos os custos deprodução - incluindo os prêmios ofertados, do tal programa. Milhões de otários votam, e pagam pelo direito a esse voto, para decidirem quem fica e quem sai. Nisso também reside o sucesso da estratégia: fazer o reles expectador sentir-se um manda-chuva, um bam bam bam, cujo poder de avaliação determina quem é meritório de nova oportunidade no jogo. Ou reality show, como costumam chamar os abobados.

Atrás do Trio Elétrico...




"...joga a mão pro alto todo mundo aêêê!" Danem-se a concordância e a regência verbal. Danem-se as poesias maravilhosas de Vinícius de Morais, de Aldir Blanc, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Dorival Caymmi, Tom Jobim.


Insisto: "...Joga a mão pro alto aêêê!".


Ninguém espera uma pérola - não se trata de uma vara de porcos, são pessoas ludibriadas, enganadas, roubadas pelo sistema que as alijou e afastou das suas verdadeiras tradições. Belas tradições sobreviventes agora no inconsciente apenas. São pessoas correndo atrás de gigantescos carros de som cuja música sonando não expressa nada - é o vazio, o ôco, o breu absoluto da falta de idéias, não há comoção, mas as rimas em "ão", tão fáceis, repetem-se ad infinitum. Choca-me ninguém se cansar da burrice. Choca, constatar a solidarização popular ao demasiado ruim - vejam bem, esses modelos contemporâneos de trios elétricos não tem nem de longe a qualidade do original Armandinho, Dodô e Osmar. Tampouco o de um Olodum, Ilê Ayê ou Afoxé Filhos de Ghandi. As exceções ficam por conta de duas cantoras realmente diferenciadas: Daniela Mercury e Margareth Menezes.


De resto sobra o esquemão doido explorando um vasto cabedal de cultura afro-brasileira completamente abastardado. Depauperado, diluído na pobreza de uma linguagem melódica e poética vulgar, inexpressiva. Embrulhado num pastiche rítmico musical algo padronizado, carente das síncopas e torneios melódicos surpreendentes característicos dos ritmos afro-brasileiros. É um tal de toca qualquer coisa aí! E qualquer coisa sobrepõe a outra coisa qualquer, que não significa nada.


Dissiminam-se gritos: "...Joga a mão pro alto aêêê!" Forma-se uma escola do deboche. A alegria vira ansiedade dentro dos cordões cujos integrantes pagaram caro pelos abadás, e no meu julgamento merecem vivenciar toda a estupidez possível de um carnaval aleijão, na base de "...Joga a mão pro alto aêêê!". Essa porcaria toda manando do filão inesgotável da música esculhambada do Brasil, cheia de mau gosto, feiúra e ignorância. E os malucos protagonistas desses clichês mal acabados se vangloriam de "turnês" pela Europa e Estados Unidos. O que não esclarecem é terem ido até lá apresentar seu noncense maluco pra um bando de brasileiros mal educados - indesejados naqueles países, que se esbaldam ao som do "...Joga a mão pro alto aêêê!"


Me bato contra esa bosta chamada axé music e outras faceirices brejeiras porque ela soa falso, raso, rasteira desprezível e desnecessária. Desvirtuou completamente o sentido original do trio elétrico inventado pelos três reis magos do frevo Armandinho, Dodô e Osmar.


Sinto uma tristeza profunda ao volver os olhos sobre essa bandalheira e não ser capaz de vislumbrar futuro melhor. Nenhuma esperança está autorizada.

16 de jan. de 2009

Tiro ao Álvaro

Continuam as cenas de covardia na faixa de Gaza. Fuzis calibre .223 automáticos, lançadores de granadas .40mm, metralhadoras de apoio de fogo M60 calibre .30, tanques de fabricação britânica, estadunidense, israelense, contra moleques armados de funda. Quem desempenha o papel de Davi agora? Quem é Golias o gigante Filisteu?
A história é cíclica mas se repete. O oprimido de ontem é hoje o opressor. A razão não pertence a nehum dos lados do conflito. Porque há muito não se sabe ao certo que situação o deflagrou. Uma manobra política ocidental assentando colonos na Palestina desde 1928 irritou os moradores árabes da região. O retorno súbito de judeus para sua terra histórica desocupada criou algum contrangimento e gerou confusão em baixa escala. Mas, a política agressiva da Grã- Bretanha tentando desesperadamente criar um estado tampão entre Síria e Egito, na intenção de segurar a tendência comunista ou pró comunista das duas nações deu certo para os britânicos, e muito errado para os judeus que se deixaram seduzir por alguma ajuda e se viram, da noite para o dia antipatizados por todas as nações árabes. Israel teve de comprar sucata de guerra para se defender dos ataques egípcios, sírios e jordanianos. Porém, o povo palestino nunca foi agente desses ataques em solo israelense. Havia convivência pacífica. E mesmo que não houvesse, nada justifica a covardia. Duvido que o velho Mosh Dayan fosse covarde a ponto de manter bombardeios indiscriminados contra as cidades palestinas quando se sabe que uma investida eficiente contra o Hamas e o Fatah só teria efeito por terra. Como uma grande varredura, uma batida policial casa a casa, tal e qual executa a polícia brasileira nas favelas atrás de criminosos.
Há baixas civis e militares numa operação desse tipo. Entretanto, são em número muitíssimo menor do que o verificado nesses bombardeios indecentes. Tenho vergonha disso. Vergonha de minha parcela de sangue sefaradita. Não é assim que imaginei agirem os homens de Israel. Que desonrando o nome da Pátria a ele não fazem jus. E O NOME DESSA NAÇÃO DIZ: ELE (O SENHOR) PELEJARÁ. Não é o que vejo acontecer. Vejo homens acovardados, escondidos atrás de tanques e mísseis de precisão. Ou morrendo de forma bisonha, enfileirados (soldados israelenses) sobre um muro de adobe em algum lugar na palestina enquanto um atirador do Hamas os abate como patos de tiro ao alvo. Esse não é o Israel de que eu poderia me orgulhar.

13 de jan. de 2009

Dura lex, sed lex!

Em perene estado de sítio a sociedade brasileira discute (discute??) a queda da maioridade penal. Pela lei vigente o maganão é maior aos 18 anos, o novo "preço sugerido" quer reduzir pra 16 a maioridade. Quanta bobagem!
Tudo isso sob alegações idiotas do tipo: Precisamos examinar as conjunturas, os menores delinquentes são fruto de lares desagregados, sofreram maus tratos, estão em condição de risco social.
Como se isso justificasse a ininputabilidade desses criminosos, que, a exemplo do Champinha tem carta branca pra barbarizar qualquer um sem temor de uma pena além da prevista no fiasco conhecido como estatuto da infância e adolescência. Como se problemas em família, dificuldades e toda uma série de tribulações na vida fossem a explicação pronta pra quem tem má índole e não respeita a vida do outro.
Já dizia um famoso adágio popular: A ocasião faz o ladrão. E o que não falta aos menores infratores brasileiros é senso de oportunidade.
Independente de jovem ou adulto formado, na minha opinião o sujeito deve pagar pelos crimes que comete. Não interessa a idade de um criminoso. Pouco importa se foi coagido, intimidado, forçado a delinquir. Nesse caso poderia socorrer-se da lei delatando os corruptores. Quem comete crime tem de ser punido rigorosamente. E meu parágrafo de acréscimo à constituição diria isso:
- Não importam para a lei: o sexo, a condição de risco social ou bastança. Tampouco origem étnica ou credo religioso. Quem cometer crime será submetido aos rigores da lei; sem excessão.
Ou, como rezava um antigo comercial da Santa Marina: DURA LEX, SED LEX.


Adendo arrevezado: A propósito da guerra deflagrada por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza. A ação assumiu proporções absolutamente exageradas. Bombardear cidades palestinas visando destruir focos do Hamas é uma atitude covarde, de um governo frouxo que não tem coragem de enviar homens a pé, bairro a bairro, casa a casa por medo do número de baixas em suas tropas. Não apóio covardia em nenhuma circunstância. E Israel já passou dos limites faz tempo.

10 de jan. de 2009

O Dragão do Mar e o Continente de São Pedro






Faz frio cá na província de São Pedro. Lugar onde o caudilhismo recalcitrante, de mãos dadas com os ideais positivistas, e, investido de um falso liberalismo, fina camada de verniz sobre um fundo ultra-conservador, exerce, desde antanho todas as formas conhecidas de comportamento hipócrita. Essa mistura nada salutar de tendências sócio-políticas concorreu para o atraso da marcha social, contrariando desde sempre uma das máximas de Augusto Comte, criador da doutrina Positivista: O Progresso.
Sob regência dessas e de outras tantas contradições a sociedade riograndense fechou-se para qualquer tentativa de integrar as populações por ela segregadas ao longo de sua história – leia-se por isto: Pretos, mestiços e brancos pobres.
Mesmo quando cedo estabeleceu-se uma relação oficiosa entre as camadas mais privilegiadas economicamente e as populações periféricas, tendo como ponto de contato a tradição religiosa afro-brasileira, tal ligação não demandou um processo nem ao menos parcial de inclusão.
Se os brancos aquinhoados podiam acorrer aos terreiros de Nação, buscando no misticismo pagão, muitíssimo mais condescendente nos julgamentos morais que a tradição judaico-cristã, a brandura e a tolerância não praticada pela igreja católica, o mesmo não acontecia com os afro-descendentes em relação à igreja. Aparentemente aceitos dentro da instituição católica, os afro-descendentes jamais foram realmente incorporados a ela, tantos são os pontos de dissonância entre as culturas européia e africana.
O sincretismo, usado pelo negro como forma de obter permissão para cultuar seus deuses, em nenhum momento promoveu a conversão real do africano ao catolicismo. O fervor religioso cristão demonstrado hoje em dia por um sem número de afro-descendentes trata-se de fenômeno moderno. Mesmo que se possa pensar o contrário a partir dos relatos e da devoção dos pretos a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e outros santos católicos. Nada demove a idéia de que naquele instante da história essa fosse uma estratégia de sobrevivência cultural, necessária para a manutenção das tradições africanas em solo americano.
De modo geral, a sociedade riograndense guardou muita desconfiança a respeito dessa conversão dos negros e mestiços ao cristianismo. A mesma desconfiança não se deu em relação ao elemento indígena rapidamente aculturado. Submisso à catequese jesuíta e usado como massa de manobra pelos padres no episódio da guerra guaranítica, quando foram dizimados naquele que foi um conflito de interesses entre as coroas de Espanha e Portugal. Os que sobraram desse massacre abandonaram as tradições ancestrais em favor aos costumes e religião do branco opressor.
Todavia o afro-descendente não aderiu de forma maciça ao credo dos brancos. Nunca, mesmo após filiar-se à igreja católica romana, não abandonou as práticas animistas de seus ancestrais. Tampouco os brancos, ao longo do tempo, abriram mão de consultar os oráculos africanos.
Dentre os vários movimentos teológicos e políticos oriundos dentro do catolicismo somente a Teoria da Libertação representada pelo ex -sacerdote Leonardo Boff admite a idéia real de ecumenismo popular. Mesmo contando com a "vista grossa" da igreja quanto à dupla fidelidade religiosa, prática onipresente no Brasil, esse comportamento ainda constitui motivo de constrangimento. Ninguém o expõe abertamente. Sequer é discutido na cátedra teológica, nem tugido em segredo nos confessionários. Embora seja, como já disse, costume rotineiro entre todas as camadas das sociedades riograndense e brasileira. Prova de que não foi possível ao poder clerical evitar a miscigenação étnico-religiosa, ou qualquer espécie de indesejada contaminação cultural da cultura branca ocidental pela cultura africana. Miscigenação essa antes ensejada pelos clérigos no tempo da colonização, quando o português carente de mulher amancebava-se com as cunhãs da terra de partes tão "saradinhas" como descrevia Pero Vaz. Promovendo através desse concubinato semi-oficializado alianças importantes com os indígenas enquanto no balanço das redes ia gerando uma prole de mamelucos.
Todas as alianças entre brancos e índios foram cimentadas graças à importância que os indígenas atribuem ao parentesco. Para esta terra meridional, como de resto para todo Brasil, a mancebia oi o primeiro tratado de cooperação não escrito nem assinado. Um tipo de "puxirão" tupiniquim. Provado desvantajoso para o ameraba.
Um século mais tarde a etnia negra foi a bola da vez.
É fato que tanto brancos donos de escravos quanto seus cupinchas derribavam as negras para obter, muita vez à força, seus quelés. Todavia, não me parece improvável o advento, aqui e acolá, dum moleque tisnado parido por uma sinhazinha. Já cantava o inesquecível Grande Otelo no samba Boneca de Piche de Ary Barroso: "...Já vi muito branco/com pinta na testa//"
Contudo, em tempos passados o menor traço de negritude negava ao homem direitos e prerrogativas, comuns mesmo aos mestiços de brancos e índios. Na escala da pirâmide social riograndense, verifica-se que até as décadas de quarenta e cinquenta do século vinte o negro ocupou as camadas mais baixas da sociedade. Sempre considerado um pária, cercado pelo preconceito e por enxovias de toda ordem.
Contribuiu para essa segregação o medo acalentado pelo branco, quando ao comparar-se ao negro avaliou que esse era mais capaz fisicamente. Além disso, a absoluta impossibilidade de compreensão por parte dos brancos da cosmogonia e teosebia africanas na qual não há temor ao sagrado, senão respeito. Como bem observou o sociólogo Darcy Ribeiro os deuses do panteão africano, diferente dos santos católicos, são sensuais e fazem sexo. E tal fato não pode ser tolerado pela moral católica. Quanto aos sacrifícios rituais de animais tão comuns às práticas animistas afro-brasileiras, não podemos esquecer que tais procedimentos ritualísticos são encontrados nas religiões derivadas do judaísmo (a religião cristã e o islamismo) com características messiânicas. Entre judeus, cristãos primitivos e até hoje no islã o ato de imolar animais em sacrifícios seja por expiação da culpa ou para obter favor divino é prática corrente e aceita.
[...] Desde o desterro da África para a América as tentativas no sentido de minorar as mazelas decorrentes do preconceito racial, como recentemente a lei Afonso Arinos, na prática tem pouco efeito. A atual lei que prevê reserva de cotas para negros nas universidades públicas gerou certa polêmica dentro e fora dos quadros acadêmicos. Os contrários à lei refutam dizendo que o mérito deve ser o único instrumento de avaliação dos candidatos. Essa lei deixa patente a tentativa da sociedade de tentar remediar a baixa oferta de ensino historicamente destinada ás populações em situação de vulnerabilidade social. Oferta essa deficiente no quesito qualidade.
A reserva de cotas para afro-descendentes (e aí pode-se incluir 70% da população brasileira) trata-se de um de tantos paliativos, que, se amenizam o problema do acesso dos negros e descendentes ao ensino superior, não combatem a causa da baixa taxa de ingresso deles nas universidades.
A sociedade brasileira continua explorando de forma bastante lucrativa e intensa a mais valia da mão de obra afro-descendente. Beneficiando-se e se servindo do que podem ofertar em matéria de cultura e arte. Assim manobrou a sociedade para cimentar a lucrativa indústria do carnaval. Carnaval esse nascido nos antigos cordões de Cucumbis e Ranchos Carnavalescos que desfilavam nas ruas do Rio de Janeiro até início do século XX.
Porém, a mesma sociedade que de forma despudorada se apropria do cabedal imenso da cultura africana (que em solo americano se transforma em cultura afro-americana) faz isso diluindo-o, abastardando sua fonte matriz, tornando-o mais empobrecido no intuito de adequar a linguagem para facilitar o comércio. Fazendo negar a esta etnia a correta narração da sua história. Distorcida sob a lógica canhestra de que a verdade só pode ser contada conforme a ótica do vencedor.
Mas, de alguma forma, por obra da sua tradição religiosa e de um sentido desenvolvido de comunidade os afro-descendentes conseguiram preservar suas tradições. Sob a primazia das culturas Yorubá e Nagô aconteceu o milagre da sobrevivência da identidade multicultural africana em solo brasileiro, tornada, sob a égide do português aos poucos em cultura legítima afro-brasileira e depois brasileira somente. Tal e qual qualquer outra cultura vigente em solo brasileiro fosse indígena ou européia. A língua (e dialetos) dos afro-descendentes, costumes, narrativa, mítica, indumentária, culinária e música sobreviveram e influenciaram profundamente o modo de vida da sociedade riograndense e brasileira.
[...] Na falta de um Malcom "X": Saponáceo. Na inexistência de um Martin Luther King Jr. (os shows da fé - jamais preocupados em politizar seus fiéis, só arrecadar dinheiro).
Os afro-descendentes brasileiros buscaram em Zumbi dos Palmares uma referência – ainda que não tão recomendável como modelo de caráter para personificar o ideal de heroísmo e resistência à opressão; (segundo algumas fontes Zumbi teria envenenado seu antecessor, chefe do Quilombo dos Palmares, Ganga Zumba).
Nós riograndenses temos pouca memória de um homem negro de tal vulto. Mas o tivemos na figura de João Cândido. Esse um nosso "Almirante Negro".
Nascido na cidade de Encruzilhada do Sul, feito marinheiro no Rio de Janeiro, o altivo João Cândido tornou-se figura emblemática ao liderar em 1910 o episódio conhecido como A Revolta da Chibata. Levante deflagrado entre as tripulações a bordo de navios de guerra da esquadra brasileira, seu objetivo principal era fazer cessar a prática do açoite contra os marinheiros da armada.
Entretanto, mesmo tendo nascido aqui, distante apenas algumas dezenas de milhas da minha terra natal, por muito tempo João Cândido foi desconhecido para mim. Para que eu tomasse ciência desse bravo se fez necessária a intervenção providencial e criativa de um poeta carioca. Foi através dos versos geniais de Aldir Blanc e da música contagiante de João Bosco, que eu, então meninote despertei primeiro para a beleza da obra, a música o Mestre Sala dos Mares, e depois para querer saber de que tratava. Quem era o tal Almirante Negro – Dragão do Mar – Feiticeiro, presente naquele samba magistral.
Hoje tanto tempo depois, após tornar-me um compositor fundamentado e preocupado com os temas vários deste Brasil, sinto-me no dever de dar voz àqueles que como João Cândido são parte de uma história pouco difundida e mal contada.
Talvez minhas personagens: Dirceu, Tio Isaías, Tia França, Caruncho, Bárbara e tantos mais, não sejam ilustres como Zumbi e João Cândido. Foram gente anônima. Mas para mim, tê-los conhecido, ainda que alguns apenas de livros ou da boca de outros, não tem preço. E, se porventura quando assuntar por aí descobrir que minha música despertou semelhante interesse em algum jovem artista, então terei realizado meu propósito de vida.


5 de jan. de 2009

Herói Nacional parte II


"Le grand inconvénient de la vie réelle et qui la rend insupportable à l'homme supérieur..." Ernest Renan*




Este é o início da epígrafe do livro pré-modernista escrito pelo amanuense Afonso Henriques de Lima Barreto. Livro esse intitulado: Triste Fim de Policarpo Quaresma.

Onde outrora vicejava o pau Brasil, hoje outra natureza abunda. Justo elas ou eles os glúteos, popularmente bundas, num generoso plural. As avantajadas proeminências traseiras de aclamadas musas isnpiradoras brasileiras autodenominadas mulheres frutas. Bem ao gosto do herói do qual trato desta vez, comprovadamente apreciador do gênero feminino.

Meu elencado herói trata-sede nacionalista exacerbado.Ferrenho defensor dos costumes, das tradições e riquezas nacionais. Concebido na primeira década do século XX. Filho de um mulato talentoso embora inconformado com sua origem e tisnado da pele, seu nome de batismo foi Policarpo Quaresma.

Ao contrário de Macunaíma ou Zé Trindade nosso herói não fazia o tipo pernóstico espertalhão. Ao contrário. Otimista a toda prova o major Policarpo Quaresma demonstra um patriotismo de almanaque. Quase um janota de carreira ele se bate pela precedência de tudo quanto represente ao menos vagamente um emblema da nacionalidade.

Purista exaltado, defende a adoção do tupi-guarani como língua oficial do Brasil. Aconselha e pratica uma dieta baseada nos tantos frutos nativos da boa terra nacional. Não versa costumes estrangeiros. Chegando por causa da disseminação deles entre a sociedade brasileira noinício do século XX às raias da xenofobia.

Quaresma personifica o idealismo ingênuo, infatigável. Seus ideais são realizáveis apenas no campo daimaginação não tendo valor prático. Porém, mesmo sem colher nenhum fruto de suas idéias Quaresma não as abandona, nem deixa de nutrir esperança. Trata-se de um herói nacional muitoboa praça.
...A foto - cromo do filme Policarpo Quaresma,Herói do Brasil dirigido por Paulo Thiago, mostra o ator Paulo José encarnando o major Policarpo Quaresma numa discussão acalorada com o então presidente Floriano Peixoto, interpretado pelo ator Othon Bastos.





(*"O grande inconveniente da vida real e que a torna insuportável para o homem superior..." Ernest Renan)

2 de jan. de 2009

Efusividade descomprometida

Se o general Charles De Gaulle pronunciou ou não a famosa frase: "O Brasil não é um país sério!" Ninguém sabe ao certo. Ele morreu jurando que não o disse. O incidente ocorreu durante uma crise entre o Brasil e a França nos anos sessenta por causa da invasão de águas territoriais brasileiras por barcos pesqueiros franceses.
Mas isso não importa. Acho mesmo que a frase contendo malícia e alguma verdade foi obra de um gaiato nacional. E colou.
Enfim, retomo a frase famosa para tipificar a "praxis irritante" dos telejornais quanto à abordagem do prosaico em detrimento ao fundamental.
Não é pouco o espaço de mídia desperdiçado com idiotices & bobagens tais como festas, e preparativos das festas, e decoração das festas de natal, páscoa, fim do ano, etc. Tudo levado ao exagero, fazendo crer que haja uma espécie de complô televisivo. Uma conspiração arquitetada em prol da burrice popular.
Também ponho sob pecha de suspeito o sorriso padronizado das apresentadoras de telejornais. A atitude ridente, vicejante, perpassa qualquer notícia. Ainda que por um momento o sorriso seja ocluso devido ao assunto mais ou menos trágico de uma matéria, ele reaparece tão logo seja noticiado o conteúdo grave e funesto. Trata-se da pantomima teatral a serviço(?) do ridículo.
A grande maioria das matérias jornalísticas, insisto, apresenta abordagem beirando o cretinismo. Linguagem apropriada para os teletubies. Personagens infantis desenvolvidos para promover instrução a portadores de deficiência mental.
Os tópicos da "alegria" jornalística continuam sendo as efemérides: Natal, Ano Novo, Pácoa, Festas Juninas e Carnaval. Nessas ocasiões os telejornais brazucas disparam petardos na forma de notícias fúteis, aborrecidas. Um sem número de besteiras são o acompanhamento perfeito para tais banalidades: Conselhos de nutricionistas borra-botas repetindo "ad infinitum" o mesmo ramerrão. Donos de buffets, restaurantes e comilões em geral falando e dando sugestões depratos e decorações - isso acontecer num país de analfabetos funcionais e milhões de pobres esfaimados é um desaforo!