Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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28 de fev. de 2009

EU TENHO UM SONHO

Foto do site: www.lutherking.hpgvip.ig.com.br
"Eu tenho um sonho" Martin Luther King Disse em seu discurso para mais de 20.000 pessoas em 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington D.C. Aquele foi um discurso inspirado do sr. Martin Luther King abordando a problemática da segregação enfrentada pelos negros estadunidenses. Não era por acaso que ele escolhera o Lincoln Memorial para essa reunião, o presidente Lincoln foi um abolicionista, no seu mandato deu-se a guerra de secessão, e ele, Lincoln, acabou por ser assassinado.


Pois Martin Luther King naquele dia de verão na América do Norte reuniu em torno de si mais de vinte mil pessoas, na sua maioria de descendência negra, para lhes dizer que ousava acalentar sonhos. Sonhos de igualdade. Sonhos de que se pudesse dividir um pouco da prosperidade estadunidense auferida pelos brancos com as populações negras e mestiças havia muito tempo discriminadas pelo "establishment": "[...] cem anos mais tarde (depois da abolição em 1863), o negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material". Proferiu o sr. King á multidão.


Passados 121 anos da abolição da escravatura no Brasil, os negros,assim como nós mestiços, continuam sem participar dos dividendos da riqueza produzida neste país. A culpa disso é , em primeiro lugar, nossa. Não nos insurgimos, não reinvindicamos com veemência. Não nos articulamos a ponto de manter uma estrutura de luta e atuação que possibilitasse conquistas no campo social muito mais significativas do que garantir cotas para negros nas universidades.


Eu tenho um sonho. A exemplo de Martin Luther King, eu tenho um sonho. Um sonho de justiça social. Um sonho de democracia étnica. Um sonho de respeito à história e à cultura (tomada de assalto e vilipendiada pela sociedade - tornando o negro em caricatura) do povo negro. Eu tenho esse sonho acalentado há muito tempo. Porque embora minha tez amulatada não denote claramente minha etnia - como bom brasileiro sou miscigenado. Como bom brasileiro tenho esperança. Mas não vejo, infelizmente, nenhuma chance de meu sonho, a curto prazo, se concretizar.

21 de fev. de 2009

SEM SINAL, NEM PRÊMIO OVER DE RAINBOW

(Antonio Abujamra, apresentador do programa Provocações da TV Cultura de SP. Imagem: Site da TV Cultura de SP)
Um dos poucos, raros programas de entrevista e bate papo da tv aberta nacional não "alinhado" com a burguesia analfa & fedegosa deste imenso eito açucareiro chamado Brasil, é capitaneado pelo impagável "contraventor & mordaz" Antonio Abujamra.

Porém, ai porém, despossuídos como eu e outros tantos, impedidos de instalar uma antena parabólica ou contratar os serviços pra lá de abusivos da net e similares, não podemos cá no interior do RS sintonizar a TV Cultura de São Paulo. Nossa governança (??) estadual resolveu sucatear e deixar ao abandono a TVE. Única e preciosa emissora pública do Rio Grande do Sul. A TVE retransmitia o programa de Abujamra, bem como outros gerados pela TV Cultura de São Paulo. Programas interessantes como Roda Viva, Observatório de Imprensa, Letra Livre, Metrópolis entre outros. Mas "meu mundo", meu sinal melhor dizendo, caiu. E ninguém tá nem aí, lá nas esfereas do poder - só pra usar dois advérbios de lugar numa mesma oração (riso contraventor).

Conforme os governantes, é melhor aplicar dinheiro na compra de um avião moderno para os serviços de transporte dos poderosos governantes, ao invés de investir na educação e na cultura do povo. Ah, o povo! Esse paquiderme achacado pelo desmando, pela falta de segurança, falta de saúde e pelo excesso de patifaria advinda de todos os lados. Numa pressão insuportável de cima para baixo, sem refresco...

Pois então meus caros amigos, confrades & vizinhos leitores desse desarrazoado "blog" sem contadores nem mostradores, ou qualquer rififi. A questão do sufocamento gradual perpassa pela tolerância excesiva, a omissão, a permissiva passividade nossa de cada dia. Alguém já se perguntou qual a serventia real de governantes, administradores e uma massa de pela-sacos burocratas dependurados nos cabides da estrutura onerosa e gigantesca do estado? Eles, defendendo seu quinhão diriam ser de importância vital para a organização da sociedade. Eu, digo: Uma sociedade incapaz de se organizar por sua conta nem merece existir como tal.

E continuamos à mercê da programação risível, desmoralizante, imbecilóide, veiculada pelo sistema de teve aberta do Brasil sil sil sil (com muito échio!)...

Espero em breve juntar um troco e comprar uma parabólica para poder ao menos contar com uma alternativa além do dvd, cujo aluguel anda muito caro e com a crise econômica deflagrada pelos incompetentes capitalistas de wall street a coisa tá igual a rapadura: às vezes ao paladar parece doce, mas é dura...

20 de fev. de 2009

TROTES VIOLENTOS SÓ COM TROLES PREPARADOS

(Estátua da Justiça esculpida por Raul Costa Sobrinho, na fachada do Parlamento Português)
Lugar de trote violento é no prado. Quando bate o sino da última volta o condutor fustiga o cavalo e a charrete dispara. Nesse momento o trote se intensifica. Os músculos poderosos do animal mantem um ritmo acelerado de trote, que no entanto não pode - devido a estrutura da charrete (trole), passar a galope sem o perigo de tombar o carro.

A pista de trote tem um formato ovalado com duas curvas fechadas ao fim de cada uma das duas retas longas. Nessas pistas os conjuntos desenvolvem grande velocidade.

Mas o trote mencionado aqui nada tem em comum com o esporte praticado pelo "auriga" (condutor de bigas) Ben Hur - épico cinematográfico homônimo do herói interpretado por Charlton Heston. Nosso trote diz respeito aos universitários. E, para resumir toda polêmica suscitada em programas de rádio e televisão numa sentença única: Quando perguntaram ao mestre confucionista Lao Tsé, fundador da filosofia taoísta, se a a maldade deveria ser retribuída com bondade ele respondeu o seguinte: "- Se pagarmos a maldade com bondade, com o que pagaremos a bondade? A bondade deve ser retribuída com bondade e compaixão, a maldade deve ser paga com a justiça."

Transposta para o esquematismo ignóbil de nosso pensamento ocidental o luminoso esclarecimento do mestre Lao Tsé poderia encontrar a seguinte fórmula reduzida:

Deliberar, julgar e punir o dolo de ações perpretadas por um indivíduo ou um grupo em relação a outra pessoa ou outro grupo é mister exclusivo da justiça.

19 de fev. de 2009

REFLEXO CONDICIONADO

Outro dia em um programa de entrevistas perguntaram a um político não ligado aos magotes de sujidade & trambiques vigentes em Brasília, o motivo de haver tanta impunidade contra os crimes do colarinho branco. Sobre isso eu havia falado do corporativismo dos poderes escudando-se entre si, amparando seus pares numa camaradagem nunca vista em nenhum país onde impere a verdadeira democracia.
Hábeis em sair pela tangente, as sanguessugas dilapidam o herário público. Se metem em negociatas, desviam verbas, superfaturam, roubam. Roubam descaradamente seguros de que a justiça, cega, e o código penal brasileiro ultrapassado nada poderão contra si - afinal o código penal está séculos aquem da esperteza de seus advogados. Mas, ainda resta responder qual o motivo do comportamento passivo da população frente a quadro tão aterrador. O motivo talvez seja cultural. Uma espécie de cacoete, de reflexo condicionado, atestando que por esses lados o mando é da "lei de Gerson" ( Gerson, meio campo da seleção de 1970 campeã do mundo no México - que aparecia num comercial de cigarros dizendo: você tem de levar vantagem em tudo, certo?).
Certo. Tão certo que por tal motivo toleramos a convivência de políticos ladrões, juízes lalaus, deputados traficantes, parlamentares contrabandistas, quadrilheiros e mequetrefes em geral. Em todos os níveis do poder, de cima para baixo. Do topo da pirâmide do poder até a base onde, de acordo com o verso do Biquini Cavadão vivem os "zés ninguém". Exatamente isso. Os zé povinho - incansáveis cordeiros, a oferecerem dóceis seus pescoços à lâmina afiada do matadouro.
[...] A exemplo dos vícios de linguagem, a prática dolosa e condenável da vigarice, o malogrado hábito de bancar o esperto, faz escola entre os brasileiros e denigre nossa imagem nos países de moral mais elevada. Confirmada a suspeita de que a advogada brasileira supostamente agredida por skinheads na Suíça forjou a história do ataque, nós brasileiros que chegamos a nos indignar contra as autoridades da Suíça, antiga Confederação Helvética (Swiss Eidgenossenschaft), ficamos com a cara no chão. Mais uma vez damos margem para que sejamos recebidos com desconfiança no exterior. Submetidos a tratamento ríspido, quando não violento, como foi o caso do compositor brasileiro Guinga vítima de agressão injustificável por um policial no aeroporto de Madri em janeiro deste ano.
Reputo ao "jeitinho brasileiro" metido a espertalhão essa desconfiança por parte dos estrangeiros, que passam vergonha ao virem no Brasil para fazerem turismo e serem assaltados. Como os recentes assaltos a hotéis visando roubo a turistas em um albergue em Copacabana e num hotel da Lapa. O irônico da coisa é a declaração de um turista europeu entrevistado sobre o assalto: - Como é o Brasil a gente já espera esse tipo de coisa.
A pergunta que não quer calar: - Até quando levaremos adiante essa cansativa brincadeira?

18 de fev. de 2009

CARTA PARA UM AMIGO

Esta carta foi endereçada a meu amigo Fernando Ramos em um dia quando eu precisava muito a companhia de um bom amigo. Infelizmente todos os meus bons amigos, incluindo Fernando, naquele dia estavam distantes.
Escrever-lhe uma carta foi a maneira encontrada de falar consigo e me sentir acompanhado da sua lembrança.
(...)Chove. Finalmente.
Antes havia pouca cidade, se tinha de caminhar algum tempo até a sanga caudalosa. Um córrego vivo de água límpida. Onde nas tardes de verão eu ia. Munido de samburá, rede feita de saco de batatas e o inseparável bodoque. Não um bodoque verdadeiro (artefato indígena) forquilha flexível para atirar pelotas de tabatinga. Um bodoque – estilingue, com sola de couro e borrachas de caminhão. A forquilha toda certinha, polida pelo manuseio, era feita de pereira. Forquilhas de goiabeira não prestam, goiabeira é uma madeira lenhosa, esfiapada, muito fraca.Laranjeira também é ruim. As boas forquilhas, simétricas e resistentes são confeccionadas de pereira (pêra d’água), de aroeira e camboim – este último difícil de trabalhar por sua dureza. Mas, de resistência inigualável.
Sol a pino, eu ia para a sanga com meus petrechos. Uma ou duas latas vazias de leite em pó pra por os lambaris, os pitus, as cobrinhas d’água pegos na rede. Seres valiosos nos tempos da minha infância. Itens apreciados para o escambo entre a molecada. Alguns "molecos" se davam à caça das "avis canora". Sabiás, coleiros, cravinas, cardeais e canários da terra. Eu não. Era muito fácil apresar esses bichos. Levava-se uma gaiola com um exemplar da espécie desejada como chamariz, e ao lado armava-se o alçapão ou a arapuca, pronto, bastava esperar. O bichinho preso cantava, outros da espécie se achegavam. Machos defendendo território; no caso do ocupante da gaiola ser macho. Quando era fêmea apareciam machos jovens solteiros no ímpeto de acasalar. Quando viam a isca no fundo do alçapão, um pouco de quirera bem fina ou miolo de pão, não resistiam petiscar e zás. Cadê emoção? Comigo não. Meu ramo era os pitus graúdos de garras afiadas, camarões de águia doce. Os lambaris listrados duas cores, as cobrinhas d’água de barriga amarela e um ou outro cascudo desentocado ao alcance da minha tarrafa certeira.
Tardezita, sol Brasil vermelho sangue, eu voltava com meu espólio. Gurizada reunida na esquina da Bento em frente ao velho plátano. A feira ia começar.
- Olha a cravina solteira, boa pra chocar. Quero vinte cinco figurinhas, cinco carimbadas. Ou um maço de continental sem filtro. Quem vai?
- Dou dez, cinco repetidas e meia carteira de LS. É pegar ou largar!
- Pego.
- Quanto quer pela cobra d’água e cinco lambaris?
- Um cruzeiro.
- Dou cinqüenta figurinhas, dois pares de borracha nova e dez tampas de pepsi novinhas.-
- Vinte tampas, a cobra é fêmea.
- Tu não sabes se é fêmea, isso é bobagem.
- Sei sim.
- Como tu sabes?
- A primeira coisa que fez quando eu tirei da rede foi se enroscar no meu pulso. Se fosse macho tinha tentado me picar.
(...)Chove! O córrego não comporta a limpidez da água de antanho. Os bichos morreram envenenados. Eu perdi minha inocência a tal ponto de não saber mais distinguir as cobras macho das fêmeas sem lhes pedir a carteira de identidade. Mas, enfim chove meu amigo e eu guardo cá infinitas saudades de ti.
(Texto publicado originalmente no jornal VAIA - Setembro de 2006)

16 de fev. de 2009

BREVE COMENTÁRIO

Não é ceticismo de minha parte, tampouco somente desconfiança.Há certa parte,parcela mínima, admito, de desconfiança, mas até prova em contrário todo e qualquer "suspeito" é inocente. Por tal motivo a senhora justiça é cega.
Contudo, examinando a situação envolvendo o ataque a uma brasileira na Suíça uma coisa não me parece clara, aliás muitas coisas. O detalhe mais intrigante do fato foi levantado por um perito criminal brasileiro: As marcas efetuadas com intrumento cortante no corpo da moça tem um padrão regular, simétrico. Além disso os cortes são superficiais.
Ora, se uma pessoa está prestes a ser marcada a faca (ou navalha, seja como for) não é natural ela permanecer totalmente quieta enquanto seus agressores a ferem; naturalmente se debateria. Isso tornaria os cortes irregulares. Também em relação a profundidade dos cortes, o perito levanta a questão de que possíveis agressores não levariam em conta a gravidade dos ferimentos que fossem infligir. E, para causar efeito, só reversível através de uma cirurgia plástica reparadora, fariam cortes profundos.
Não quero desacreditar o depoimento da vítima. Respeito seu sofrimento. Sabe-se lá por que maus bocados passou. Mas essas pequenas discussões de ordem "técnica" me deixaram intrigado.

15 de fev. de 2009

SUTIS DIFERENÇAS: HISTRIÃO DO CAOS

Ouço os clamores pungentes, derramados dos púlpitos desde milênios. São vozes falando em nomes de deuses obscuros ou não para uns e outros. Criaturas mágicas responsáveis pela criação do universo e a manutenção da vida. Ouço clamor e ranger de dentes - homens e mulheres tomados de uma ira, de um "fogo", quase histriônico, quase sagrado, quase dionisíaco, quase emprestado de religiões ulteriores precedentes da professada ali diante da assistência bovina. Bovina e pacífica pelo motivo eterno: "sou até aonde posso ver, meu alcance se limita pela minha crença e minha crença se confunde a meu ego numa dança lasciva, perniciosa, perigosa - inútil".
Ouço pregadores cristãos e não cristãos vociferando prédicas contra esse e aquele aspecto mundano da vida cotidiana. Munidos dum vocabulário bem concatenado, dosando com cautela o tom das admoestações, seduzindo maliciosamente a audiência. Alguns mesmo se acreditam instrumento da verdade. Não sabem ser a verdade poligonal? Relativa às circunstãncias, contendo nuanças, implicações, réplicas, tréplicas, chicanas legais - e, com direito a revisão das versões apresentadas? Não bastasse isto a verdade é pessoal, às vezes intransferível - quase sempre intransferível (quase).
Mas eles são pertinazes. Obstinados. Bradam, gesticulam, exortam, demonstram comoção. Animam a platéia convencendo-os: Eles precisam de um deus, mesmo que essa figura de "transferência freudiana" venha a ser o próprio padre, pastor, rabi, sufi, sei lá... E, no seu afã de subir ao estrelato messiânico ou artístico, eles se deixam levar, tergiversam, quase (novamente quase) esquecendo-se de seus ministérios primordiais: Interpretar os sofismas, sombras e embrulhadas contidas nos livros sagrados? Não. Corrigir o rebanho para o caminho certo - o julgado certo por eles? Também. Mas, seus misteres, tal e qual um trapilho segando a messe de um amo dois mil anos atrás não são outros senão colher, grão a grão, as ofertas, os dinheiros, as primícias de seus esforços de convencimento. E a explicação para suas pequenezas, para suas baixezas de alma (sejam eles conscientes disso ou parvos crédulos na própria aventurança) que os levam a se porem mais alto e adiantados dos demais não encontra nenhuma resposta nos salmos, nos vedas, na torá, no gilgamesh ou nos livros escritos no inferno mais profundo e psicótico da mente de um esquizofrênico...
Enquanto isso, alheias a crenças & obsessões as nebulosas parem estrelas num caleidoscópio de cores amalgamadas.

10 de fev. de 2009

TELAS E EGOS MAIS OU MENOS GIGANTES


Tinha eu meus cinco ou seis anos de idade ( assim não plagio a letra do samba de Elton Medeiros "14 Anos", parceria com Paulinho da Viola)... Mas, é verdade. Contava cinco ou seis anos. Muito imaginativo. Apreciador de todos os gibis e filmes pertinentes ao espaço sideral e assuntos correlatos desenvolvi uma teoria meio cá meio lá. Talvez a gosto dos ufologistas contemporâneos que misturam esoterismo e ufologia sem crise. Pois minha teoria, quiçá egocêntrica, rezava o seguinte: Tudo quanto existe, meus pais, as goiabeiras, o rio, o mar, o mundo o sol e os planetas... As estrelas... Tudo, absolutamente tudo, é produto do sonho de um gigante. Nada existe de verdade. É só um sonho, sonhado por esse ser, esse demiurgo (claro que eu não conhecia o substantivo) enquanto ele dorme profundamente.
Pois minha tese onírico infantil está na iminência de ser definitivamente comprovada. Não sei que pesquisas, ou quais cientistas através de observações e cálculos complicadíssimos estão prestes a confirmar que o universo é simplesmente um holograma. Caso se confirme essa suspeita: Corram todos a sala de cinema mais próxima. Em último caso aluguem um dvd - de preferência aquele com Charlton Heston no papel de Moisés em Os Dez Mandamentos.
Se comprovada a tese de que o universo é um holograma serdes vós contritos, obediente platéia - cessai os rumores e atentai aos sinais em technicolor, pois o criador é um cineasta e Spielberg seu profeta.

9 de fev. de 2009

OIIIII


"A IGNORÂNCIA SÓ DEGRADA O HOMEM QUANDO SE ENCONTRA EM COMPANHIA DA RIQUEZA".


"A QUANTIDADE DE RUMORES INÚTEIS QUE UM HOMEM É CAPAZ DE SUPORTAR É INVERSAMENTE PROPORCIONAL À SUA INTELIGÊNCIA".

(Arthur Schopenhauer)


Sujeitinho algo "tubuna" esse Schopenhauer. Pra usar de um adjetivo campeiro, sul-riograndense.

Substantivo, referente a uma abelha silvestre brasileira do gênero melipona.

Por não possuir ferrão, a defesa do enxame contra possíveis ladrões de mel é enroscar-se entre crinas, pelos ou cabelos dos assaltantes zumbindo entorno dos brutos...

Schopenhauer pode ser lá meio tubuna, sem aguilhão peçonhento, mas cumpre bem o papel de chamar a atenção para certas questões da vida cotidiana. Intra e extra corporis dos homos sapiens nem tanto sapiens desta terra beócia chamada Brasil-sil-sil-sil com bastante échio!

As duas frases lapidares citadas acima exemplificam a condição do programete (big brother) by George Orwell. Uma espécie de 1984 abastardado para teletubbies & congêres cretinos. Sem medo de errar nem de ser politicamente incorreto, expresso minha opinião.

E, como dizia um certo Voltaire pseudônimo de François-Marie Arouet, célebre iluminista francês: "Posso discordar do que dizes, mas defenderei até a morte teu direito a dizê-lo".
Assim sendo, empatamos Voltaire e eu. Por minha vez sonhando trucidar os big shit brothers and sisters daquela barrela estapafúrdia zoila e mentecapta capoeira. Ele, condescendente e sábio como só espíritos superiores e democratas sabem ser defendendo-lhes de toda minha ira e acometimentos tirânicos.

8 de fev. de 2009

AMOR, ORDEM E PROGRESSO


A navegação no Jacuí na década de quinze era a vapor. Haviam corrigido, ou iniciado a correção de nível das águas através da escavação de um canal no leito do rio. Permitindo atracagem de barcos de razoável calado nas margens do Passo do Fandango. Local em que décadas mais tarde (final dos anos 60) seria construída a ponte do Fandango.
Cachoeira do Sul no período compreendido entre a virada do século XIX para o século XX era uma florescente cidade. Progressista sob o trinômio máximo do positivismo "amor, ordem e progresso", (amor, nem tanto, pra ser exato). O Positivismo foi um movimento fundado pelo Conde de Saint Simon o airado Claude-Henry de Rouvroy. De quem o não menos doidivanas Augusto Commte foi discípulo - inclusive na demência.
Todavia, alheia a essa embrulhada, a população cachoeirense seguia atrelada aos princípios republicanos "positivistas" de Baltazar de Bem e Júlio de Castilhos...
Minha cidade hoje não possui mais o glamour aplopléctico característico das sociedades em que apenas uma casta conta como vivente. Embora hajam mandatários de toda sorte, e o populacho, como sempre, seja alvo de achincalhe pelas diversas camadas de autoridades. A coisa toda se encontra atualmente num patamar de conformidade pouco visto nas plagas riograndinas.
Uma burguesia minoritária, mas muito ativa e pertinaz, sofrena de maneira eficiente a grande maioria de pobres e remediados. Então posso concluir que passado um século desde a ascenção de Cachoeira a um lugar destacado na comunidade rio-grandense as relações entre as classes não melhoraram. Coisa essa impossível de se obter visto que, havendo classes desiguais hajam relações desiguais. Onde se pressupõe exista uma condição de autoridade de uma classe sobre outra. Isso a história ainda não mudou. Contudo, não dá mais pra tapar sol com peneira e as coisas mudarão, aqui e em toda parte, por bem ou por mal.

4 de fev. de 2009

A eleição das palavras


Ilustração: Jorge Cabeleira - Arquivo jornal VAIA



Malinoso! Era com este adjetivo inventado que minha tia avó Branca chamava minha atenção. Nossas diferenças começaram quando do alto dos meus sete anos lhe preguei um susto. Acontece que a velhinha, muito pia, observava assiduamente o costume católico de rezar o terço ao final das tardes. Numa dessas, escondido dentro de um enorme cesto de vime posto ao lado da cômoda do quarto, esperei minha tia ajoelhar-se ao pé do oratório, acender uma vela à Imaculada Conceição e iniciar o balbucio do credo. Num repente irrompi pela tampa do balaio gritando um búúú! Ao que minha velha tia reagiu caindo sentada. Note-se o fato de que eu estava usando seus óculos de grau. Óculos foram muito tempo objeto de meu desejo, um estranho fetiche infantil. Fugi às carreiras já sabedor da sova quando a velha desse queixa, minha mãe não perdoava. Seguiu-se atrás de mim o brado dela em desagravo: Malinoso!
(...) Seu Osmar fora trabalhador braçal contratado da antiga linha férrea federal a RFFSA. Edson, seu filho mais moço e eu fomos colegas desde a sexta série primária. Jogávamos futebol e tentávamos a sorte com as gurias da escola. Os resultados eram pífios. Nas tardes de domingo sob a extensa parreira em casa de seu Osmar eu escutava com delícia seus causos. Ele costumava designar os personagens velhacos das suas estórias como “alcaides”. Título árabe equivalente ao cargo de prefeito atual, em que pese tais tipos, os “alcaides”, na prosa de seu Osmar merecerem a antipatia da comunidade.
Mais tarde, moço feito, trabalhei na estação rodoviária de Cachoeira do Sul, lá conheci Francisco, o Chico da revistaria que tornou-se amigo e parceiro de canastra. Por ocasião de algum debate sobre política meu camarada Chico sapecava o verbo usurpar, quando não o adjetivo usurpador. No falar de Chico o Brasil mais parecia uma monarquia constitucional. Embora Chico fosse um dos muitos gaúchos saudosos da era Vargas.
Olívio Dutra durante a campanha para o governo do estado do Rio Grande do Sul e depois, eleito, adorava esbanjar o verbo espraiar. Espraiou-se enfim galgando o cargo de ministro do governo Lula d’onde se viu “espraiado” de volta à província de São Pedro – antigo nome do estado.
O ex-presidente Jânio Quadros purista da língua. Amigo confesso da vernaculidade, etanóico respeitável e gramático pertinaz não admitia escorregões na sintaxe do idioma luso. Seu intróito costumeiro era um advérbio de modo: Evidentemente.
(...) Pessoas de todas as classes sociais elegem termos com finalidade de em determinado ponto da conversa entremearem essas palavras, muita vez independendo sua pertinência ao tema da conversa. De uma forma ou outra freqüentemente nos utilizamos desses jargões (às vezes corporativos) como forma de distinção. Também para fugir ao lugar comum coloquial colorindo o discurso. Nessa eleição das palavras, eu, brasileiro, mestiço, sentimental – quiçá piegas. Elegi duas bem simples. Correntes na boca do povo. Fáceis de encontrar nas artes, freqüentes no dia a dia. Por vezes maltratadas super exploradas, aviltadas. São elas: Amor e esperança. Amor meu eleito dileto, qualquer que seja vale a pena. Assim afirmam os poetas e concordo. Mesmo quando desgastado, cansado, e melancolicamente platônico. A palavra esperança escolhi porque sem esperança não há amor. Tornando impossível qualquer mínima chance para que exista um ínfimo momento de felicidade.