Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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22 de nov. de 2009

BANGALAFUMENGA II: A BIENAL

A Noite Estrelada - Pintura a óleo de Vincent Van Gogh
Quando anunciam a abertura da Bienal de Arte todo mundo pensa logo: Oba! Vamos lá que é grátis. (...) Dentre os tantos contribuintes para o aguçar da sensibilidade juvenil talvez uns poucos tenham se dado conta do quão interessante seria, antes de simplesmente levar sua turma de alunos para ver a Bienal, incentivar nessas pessoas, minimamente a cultura de uma consciência crítica capacitando-as a apreciar obras de caráter abstrato. Cuja linguagem subjetiva é de tal forma hermética a ponto de tornar impossível, senão ao próprio artista, um razoável entendimento da sua intenção. Sei, não é necessário compreender no sentido racional um objeto de arte. O vínculo com a obra é dá-se pela via do sentimento, da emoção, da empatia. Uma impressão no íntimo de cada um. Contudo, a caixa de Pandora que é a mente de um artista (falo com conhecimento de causa - embora pretencioso) pode jorrar tanta bizarrice, brotar formas, linhas, traçados, texturas, enfim... Obras recheadas de indizível fealdade. Tome-se por exemplo as "instalações": Fenômeno mais ou menos recente, espaço preenchido por composições esdrúxulas. Amontoados de quinquilharias & lixo. Propostas para além do surrealismo de Dali, que, diante dessas modernidades torna-se linguagem aritimética compreensível a cretinos como eu, decorebas da taboada.
Propostas surgidas de egos criptografados, incapazes de pensar por um segundo sequer no outro: observador; apreciador; consumidor daquela forma de arte - arte??? A arte não precisa ter função. Eles dizem. Discordo.
Ferreira Gullar, Mário de Andrade, Picasso, Gaudi, Rodin, Portinari, Tarsila, Frida Kalo, Ciron Franco, Miró, Klint e milhares de outros artistas discordam veementemente desta afirmação leviana, velhaca e irresponsável. Como função primordial a arte tem a tarefa de cimentar idéias e ideais no âmago do homem, estabelecendo de maneira dialética e crítica, discussões sobre a visão que o homem tem do mundo e de si mesmo em diferentes momentos da história. Senão vejamos: o que é a Guernica de Pablo Picasso, o Abaporu de Tarsila do Amaral, as esculturas de Rodin: O Pensador, Os Burgueses de Calais? As tela de Portinari: Mulher com o Menino Morto; Marias, etc.?
Querendo ou não toda manifestação artística não se compõe por geração espontânea, tampouco se pauta pela autofagia. Isto é não pode existir por si mesma surgindo do vácuo para o nada. Ao que parece os artistas de hoje que realizam essas instalações monstruosas (monumentais) querem se eximir da opinião própria. Sua única e exclusiva intenção é provocar reações no presenciador de sua obra, seja qual for essa reação de apreço ou asco. É como se o artista pudesse terceirizar a feitura de sua arte, não se envolvendo ele próprio na confecção e nas decisões que são necessárias para sua conclusão, passo a passo. Dessa forma o artista se propõe um neutro, tão somente a fagulha que deflagra a ocorrência de tudo a volta do que ele concebeu. O discurso já não é necessário, a medida em que o artista não se utilizou de uma idéia central para realizar a obra. Mas se apesar dessa tendênncia ao "nonsense" o artista quiser afirmar que sim, que planejou a peça de arte etapa por etapa mas não previu a sua significância; estaremos diante de um embusteiro e sua obra é vazia de qualquer sentido. Sendo assim não é arte. É prática mágica, arte lobisomística. Só desencanta com bala de prata na cacunda do gaiato.
O fato é que uma peça de arte qualquer só existe a partir de um signo criado que a plasmou, referendou, tornou concreta. E sendo composta por signos pressupõe um significado qualquer na concepção do perpetrador do "crime", da obra. Não venha o esperto querer amontoar ferro velho a esmo e dizer que "cada um tem de tirar sua própria conclusão. Trata-se de uma provocação". Provocação maior é essa, o artista se recusar a por os pingos nos ís.

Um comentário:

Rosane Arostegui disse...

Querido Alexandre,
Adorei encontrar teu comentário lá no nosso Palavra e Cor, valeu...
Como sabes, adoro um batráquio, mas detesto engolir sapos. Apesar dessa "despreferência", engoli váaarios sapitos neste nefasto ano de 2009. Saudades tuas, grande beijo.
P.S - Qualquer hora te envio uma missiva.
Rosane Arostegui