Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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15 de set. de 2008

Empulhando os otários de plantão

Quando se le um "causo" igual ao do Guabirova, ocorrido no início do século XX, lá na provinciana Cachoeira do Sul, salta aos olhos a candura dos participantes dessas empulhas. A malícia se restringia ao arquitetar do plano. Não havendo da parte da vítima do trote nenhum ressentimento para com os malandros embusteiros. Porque naquele tempo, ser vítima de brincadeira ou trapaça poderia facilmente desembocar em morte. Hoje, todos nós somos vítimas silenciosas do verdadeiro estelionato oficial. Num país dito inclinado ao socialismo (só se for socialismo de gaveta) não há sequer o controle, ou mera fiscalização sobre alterações inexplicáveis do dia para a noite no preço dos remédios. Querem ser socialistas deixando por conta do mercado, a lei da oferta e da procura, a regulagem dos preços. É uma farra! Agora, desde a muito tempo, nos vemos cerceados pelo molde capitalista de vida: consuma ou morra! Ganhe dinheiro! Mais dinheiro! Consuma, consuma, consuma... Não importa o quê, consuma. Geralmente bugigangas tais quais os produtos chineses inundando o mundo de cópias baratas das marcas mais famosas. Há ainda apelos mais elaborados destinados aos extratos economicamente superiores da sociedade. A esses incitam o consumo de bens caríssimos: carros de luxo, iates, imóveis, vinhos, viagens a lugares exóticos, hotéis suntuosos, jóias, etc. E nós somos as vítimas acovardadas dessas afrontas diárias. Nós nos encolhemos humilhados porque o que ganhamos diariamente não nos permite consumir senão as bugigangas e as coisas de segunda e terceira rejeitadas pelas classes com maior poder de compra. Recebemos assim uma educação pública de terceira ordem. Uma alimentação de terceira. Moradia de terceira. Vida de terceira. Valor de terceira, a não ser quando é tempo de eleição. Aí meus amigos nosso passe cresce repentinamente de valor. O voto do mendicante vale o mesmo do milionário. Portanto, certamente tentarão nos tornar vítimas de outro tipo de estelionato: as mentiras eleitoreiras; promessas de vantagens e benefícios comuns e individuais que raro - ou nunca, se cumprem.
[...] Nesse mundo cruento, injusto, absurdo, onde homens da política, clérigos, e classe intelectual conspiram a favor de um modelo capitalista rôto, cruel, desumano estamos nós: "olhinhos vidradinhos que nem jacaré!" (como canta Jards Macalé) - entontecidos pelas coisas brilhantes, pelas contas de vidro reluzentes que os homens de além mar continuam agitando diante de nosso olhar aborígene isento de malícia. Não percebemos as sutilezas do gesto amistoso, não detectamos as armadilhas, como diz Chico Buarque: "- A trapaça, por trás da trapaça/ é pura elegância!//" Mas para o trapaceiro, para o embusteiro que sempre logra engambelar o otário. Nós somos os otários. Os consumidores de lixo, otários. Os idiotas bombardeados com as obscenidades e escatologias aberrantes via tevê aberta. Nós somos os otários consumindo artigos, informações, serviços e arte, meus amigos nós consumimos arte de terceirta categoria. Otários, é o que somos, e merecemos o rótulo.

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