Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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22 de dez. de 2008

Herói Nacional - parte I


"Ai! Que preguiça." Exclamava o único e legítimo herói nacional. Nascido preto, mas tornado branco voluntário ao entrar no jorro duma fonte mágica, lá, na beira dos cafundós do Mato Dentro, ou seria Mato Fulano - sei lá. Tudo isso é mesmo saído do imaginário cafuzo popular, bem peneirado na joeira fina da mente poderosa e criativa de um monstro das sabenças litero-músico-folclórico-brasílico-paulistanas. O arlequinal rapsôdo modernista, estudioso incansável das artes e escritor Mário de Andrade. Mário descreveu o nascimento hilário do curumim cafuzo Macunaíma expelido do ventre masculino (pois é isso- nasceu de mãe velha e masculina) da índia Tapanhumas, enquanto ela nem aí ó, tratava duma lida qualquer - moqueava um naco de jacú no fogo, e isso da índia ter se ocupado do moquém é invencionice descarada minha.
Contudo Macunaíma foi ás telas de cinema dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Uma das raras produções nacionais dignas de nota naqueles anos de chumbo - 1969. O diretorJoaquim Pedro, em que pese a dificuldade de se adaptar ao cinema uma obra cuja linguagem é quase experimental, conseguiu a façanha de capturar a aura mítica das personagens de Mário, ajudado claro, por um elenco primoroso com atuação estupenda. Capaz de dar vida à rapsódia burlesca do gênio arlequim da Paulicéia Desvairada.
Escrita por um poeta do quilate de Mário a "rapsódia", como ele costumava chamar seu livro, oscila entre o lírico e o misticismo pagão, com nesgas panfletárias contra a era Vargas - de quem Mário era desafeto simpático (se é que tal coisa seja possível - e em se tratando de Mário provável que sim). Tudo muito bem aproveitado na adaptação do roteiro para os nefandos dias quando Costa e Silva era presidente da República.
O ator riograndense Paulo José encarnou Macunaíma, mocetão, já branqueado pelo jorro da fonte. Grande Otelo que fora a criança cariboca, curumim esperto, malicioso que gostava de bulir nas partes da cunhada Sofará - Joana Fonn. Afeito à preguiça, e aos brinquedos de "se rir" com as cunhãs. Bulia sempre com as mulheres que Jiguê seu irmão, interpretado por Milton Gonçalves, arranjava.