Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
Portuguese English French German Spain Italian Dutch Russian Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

twitter orkut facebook digg favorites mais

18 de jan. de 2009

Atrás do Trio Elétrico...




"...joga a mão pro alto todo mundo aêêê!" Danem-se a concordância e a regência verbal. Danem-se as poesias maravilhosas de Vinícius de Morais, de Aldir Blanc, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Dorival Caymmi, Tom Jobim.


Insisto: "...Joga a mão pro alto aêêê!".


Ninguém espera uma pérola - não se trata de uma vara de porcos, são pessoas ludibriadas, enganadas, roubadas pelo sistema que as alijou e afastou das suas verdadeiras tradições. Belas tradições sobreviventes agora no inconsciente apenas. São pessoas correndo atrás de gigantescos carros de som cuja música sonando não expressa nada - é o vazio, o ôco, o breu absoluto da falta de idéias, não há comoção, mas as rimas em "ão", tão fáceis, repetem-se ad infinitum. Choca-me ninguém se cansar da burrice. Choca, constatar a solidarização popular ao demasiado ruim - vejam bem, esses modelos contemporâneos de trios elétricos não tem nem de longe a qualidade do original Armandinho, Dodô e Osmar. Tampouco o de um Olodum, Ilê Ayê ou Afoxé Filhos de Ghandi. As exceções ficam por conta de duas cantoras realmente diferenciadas: Daniela Mercury e Margareth Menezes.


De resto sobra o esquemão doido explorando um vasto cabedal de cultura afro-brasileira completamente abastardado. Depauperado, diluído na pobreza de uma linguagem melódica e poética vulgar, inexpressiva. Embrulhado num pastiche rítmico musical algo padronizado, carente das síncopas e torneios melódicos surpreendentes característicos dos ritmos afro-brasileiros. É um tal de toca qualquer coisa aí! E qualquer coisa sobrepõe a outra coisa qualquer, que não significa nada.


Dissiminam-se gritos: "...Joga a mão pro alto aêêê!" Forma-se uma escola do deboche. A alegria vira ansiedade dentro dos cordões cujos integrantes pagaram caro pelos abadás, e no meu julgamento merecem vivenciar toda a estupidez possível de um carnaval aleijão, na base de "...Joga a mão pro alto aêêê!". Essa porcaria toda manando do filão inesgotável da música esculhambada do Brasil, cheia de mau gosto, feiúra e ignorância. E os malucos protagonistas desses clichês mal acabados se vangloriam de "turnês" pela Europa e Estados Unidos. O que não esclarecem é terem ido até lá apresentar seu noncense maluco pra um bando de brasileiros mal educados - indesejados naqueles países, que se esbaldam ao som do "...Joga a mão pro alto aêêê!"


Me bato contra esa bosta chamada axé music e outras faceirices brejeiras porque ela soa falso, raso, rasteira desprezível e desnecessária. Desvirtuou completamente o sentido original do trio elétrico inventado pelos três reis magos do frevo Armandinho, Dodô e Osmar.


Sinto uma tristeza profunda ao volver os olhos sobre essa bandalheira e não ser capaz de vislumbrar futuro melhor. Nenhuma esperança está autorizada.

Nenhum comentário: