Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
Portuguese English French German Spain Italian Dutch Russian Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

twitter orkut facebook digg favorites mais

6 de nov. de 2008

Cismas

Não sou bonito. Baixo. Atarracado. Sobrancelhas espessas. Nariz achatado. Tez oliva, querendo amulatar. Não sou bonito, tampouco genial. Não completei os estudos. Aprendi na marra. No esforço da imitação. Não sou bonito mas sou esforçado. Carrego genes antigos. O fator rh positivo, grupo sangüíneo O, atesta isso. E aproveitemos enquanto o trema não cai por terra nessa desditadura da dita cuja última flor do Lácio. Seria isso um abacate? Sei lá. Que se dane.
Os portugueses intercambiaram pomares. Trouxeram mangueiras & bananeiras depois de Cabral fazer bombardear Calicute. Raptaram (na assepção etimológica da palavra) mudas de nêspera em Macau, mau negócio. Comparada ao caju, plantado naquelas bandas pelos portugas a nêspera ou ameixinha amarela, é uma josta. Por enxerto adaptaram-na aqui. Pra lá levaram maniçoba. Da África trouxeram a Noz de Cola, Jaca, Marula. Em troca lhes apresentaram mandioca e amendoim. Até hoje os angolanos acreditam ser o amendoim nativo de lá.
Não sou bonito. Não tenho dinheiro. Muita vez, envergonhado, rasinho, passo dificuldades. Conto com mercê alheia. A meu favor há essa herança de antepassados misturados num caldo genético indescritível. Dos semitas errantes da crescente fértil, de celtas místicos habitantes da antiga Ibéria, dos bantos retintos origem das sendas humanas, dos amerabas de tronco lingüístico jê espalhados nas planícies (planitie glaucu) pampeanas.
A meu favor essa vontade de ser bom moço (talvez concordando com a teoria de Rousseau - o bom selvagem). Não sou bonito. Não tenho viço. Não tenho dinheiro. Minha importância se resume ao fato de respirar, ocasionalmente profundo. Mas, hoje, justo hoje. Insone. Batido pelas tantas bordunadas certeiras dadas pela vida no cocoruto dos caboclos bestas como eu - respiro devagar. Lentamente. Economizando fôlego e paciência pro longo, penoso, hercúleo trabalho de mais uma vez buscar diligência. Peregrinar, estender a mão com a palma pra cima e baixar os olhos. Baixar os olhos como se os olhos de quem me fitasse não fossem olhos de um reles mortal.

Nenhum comentário: