Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
Portuguese English French German Spain Italian Dutch Russian Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

twitter orkut facebook digg favorites mais

20 de nov. de 2008

Descascando a Pacoba



Seguindo a linha da teratologia midiática, a pauta de um programa televisivo da rede Tevê, Super Pop levou ao ar no dia 18/09 o tema "Atrizes Pornô". Algumas beldades veteranas no "métier" (perdoem o trocadilho fonético) de descascar a pacoba, compareceram ao debate.

Há um adágio popular na região do pampa gaúcho: "- Tirar leite de vaca morta!" Cito o ditado como metáfora, afinal a pobreza do assunto pornografia esgota-se na origem do substantivo. Pessoas atuando nessa área lá estão exclusivamente por dinheiro. Não acredito, e vários depoimentos corroboram isso, haver grande índice de compensação física para as atrizes pornôs.

Indústria crescente no mundo, mesmo em tempos de franca expansão do HIV, a pornografia cumpre a função antiqüíssima de alimentar devaneios. Satisfazendo curiosidades e fantasias de uma legião de vouyers das mais variadas idades e condições sociais. Nos primórdios da pornografia (não levo em conta aqui imagens, esculturas, narrativas, que recheiam a história da humanidade desde sempre), ou seja, da idade média para cá, os ítens disputados pelos apreciadores foram iluminuras inicialmente, depois, com o advento da fotografia, postais em preto e branco mostrando mulheres nuas ou casais praticando sexo. Isso sem falar na literatura libertina produzida continuamente por todas as culturas humanas. Cito como exemplos clássicos Safo, Petrônio, Musset e o conhecidíssimo Sade.

Nos anos quarenta, para aliviar as tensões no front da segunda guerra alguém teve a brilhante idéia de produzir revistas coloridas mostrando casais praticando o coito. Ficaram conhecidas como revistas suecas, uma alusão ao liberalismo sexual dos normandos, ou vickings se preferirem. Elas circularam durante décadas no Brasil. Porém, nos anos sessenta um modesto funcionário público de nome Alcides Caminha, encampando a causa dos punheteiros nacionais iniciou a produção dos libretos desenhados a bico de pena que fizeram a alegria do pessoal. Sob a alcunha (codinome) de Carlos Zéfiro ele produziu centenas desses pequenos livrinhos toscos aos quais se apelidou "catecismos", e que hoje em dia são objeto do desejo de colecionadores. Chegando alguns exemplares raros a valer algo em torno de 500 ou 600 reais.

Com o cinema mudo concomitantemente surgiu o cinema pornô. De início filmes caseiros, produções baratas sem banda sonora em P&B. E, com a evolução do cinema, mesmo sob repressão etc, o pornô evoluiu. Ganhou som e cor... No Brasil oficialmente foi proibido de entrar por um bom tempo. Mantinha-se na clandestinidade enquanto o regime militar tolerava a existência de um cinema erótico nacional "made in boca do lixo" (zona de meretrício do Rio de Janeiro). As chamadas "Pornochanchadas".

Desde tempos ingênuos quando em plena ditadura militar o desobediente Carlos Zéfiro (vento do oeste) produzia de forma rudimentar centenas de catecismos abordando variadíssima gama de fantasias sexuais do imaginário popular, as coisas mudaram radicalmente.

Do famoso filme pornô canadense "Deep Throat" filmado em 6 dias em janeiro de 1972, protagonizado pela feiosa Linda Lovelace, a pornografia abandonou o romantismo amador pra se tornar um negócio bem dirigido e muito rentável. Só para constar: Essa primeira produção que marcou a transição do amadorismo para o modus operandi profissional, custou 24 mil dólares e foi financiada pela máfia.

Daí para cá, num crescente as produções tornaram-se cada vez menos eróticas e mais ginecológicas. Argumentos foram desprezados - descartados na verdade. Os afamados pornô com estória não vendem. O espectador de filmes pornôs, de modo precoce, dispensa preãmbulos. Quer ação ampla, imediata, geral e irrestrita.

Parafilias sexuais como bestialismo, sadomasoquismo, gerentofilia, urofilia, fist fucking, enema etc, etc. Viraram rotina nas produções pornográficas.

Uma das formas de obscurantismo mais agressivas e lucrativas a pornografia ganhou mercados no mundo inteiro. Entretanto, preocupante é saber que além da indústria pornô oficial, pagante de impostos, com firma constituída, existe um underground muito perigoso. Onde todas as sevícias e crimes são cometidos, registrados e oferecidos a consumidores que não passam de pervertidos. Doentes viciados em toda forma de degradação.

A pornografia continua como sempre, sendo um arremedo da satisfação psicológica que não pode oferecer a ninguém. Bem como a falsa representação de uma realidade com a qual nunca conseguiu ao menos flertar.