Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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16 de nov. de 2008

Ignorãncia democrática

A 54ª Feira do Livro de Porto Alegre teve um saldo positivo quanto à comercialização. Mesmo com os preços altos das edições, e, a pouca oferta de qualidade editorial, o evento,mais uma vez provou-se lucrativo. Não tanto quanto a edição passada segundo declarações dos organizadores. Mas, em tempos de recessão muito mais não se espera.
A mercancia da cultura é a tônica do modelo neo-liberal ao qual estamos entregues faz tempo. Talvez causasse vergonha irmos à uma feira do livro e sairmos de lá carregados de edições baratas. Ou exemplares suprimidos ás caixas de saldo Porque seguindo uma tradição remontada à idade média o viço das belas edições conta mais. Se tem capa bonita não importa muito o conteúdo.
Não vou me deter comentando todas (apenas algumas) as mazelas do mercado editorial brasileiro. É sabido e decantado serem todos os livreiros que trabalham com usados, sem exceção, aves carniceiras. Há sebos de respeito, como o de meu amigo Moysés Palma ali debaixo dos arcos do viaduto da Borges de Medeiros. Moysés seguindo a tradição cultural semita não pratica a usura. Não escorcha sua clientela. Contudo ele é exceção. O comum é esses livreiros "farejarem" o ar atrás de bibliotecas cujo dono, geralmente um bibliófilo falecido, lega à viúva uma magra pensão. E seus filhos pouco se interessam pela sorte do que para eles é apenas papel velho embolorado. Tendo rastreado a biblioteca em questão o livreiro velhaco aproxima-se da viúva e lhe oferece um preço irrisório para retirar dessa biblioteca coleções e exemplares interessantes para si.
Essa rapinagem é muitíssimo praticada no mundo inteiro... Conheci um velho livreiro, já falecido, felizmente, muito afeito a essa prática. Inescrupuloso, esse homem, cuja lembrança até hoje me causa ira, a custa de uns poucos vinténs arrebatava ás viúvas tudo quanto lhe interessasse do espólio do falecido...
Sem políticas de formação de leitores. Sem políticas de edições populares para oferecer à população livros de qualidade. O que seria fácil, tendo em vista estarem as grandes obras de autores consagrados ingressas já no domínio público a partir de completarem 70 anos desdea data da sua publicação ou gravação. Tal condição permite o acesso livre aos editores para reedição e regravação dessas obras. Nada muito complicado. Porém, das 530 editoras radicadas principalmente nas regiões sul e sudeste do país, desconheço quais desenvolvem projetos visando contemplar a população de baixa renda editando livros a preços acessíveis.
Ranqueado em 63° lugar quanto aos hábitos de leitura (detesto aplicar a palavra consumo quanto à educação e cultura) o Brasil têm acumulado fracassos ao longo dos últimos trinta anos na sua empresa de democratizar e melhorar as condições gerais de ensino, bem como promover a alfabetização real da população. Principalmente suas camadas menos favorecidas. Socialmente vulneráveis como se diz. Sucedem-se as governanças em todos os âmbitos e esferas de poder e ninguém dá mostras de ter aprendido nada com o velho e saudoso mestre Paulo Freire que disse com toda propriedade: "- A ignorância é a maior multinacional do mundo!"