Casa d'Aldeia é a casa original, a mais antiga habitação de minha cidade natal Cachoeira do Sul. Habitação, que, igual a cidade, apesar de tantos golpes de vento e borrascas sazonais teima em manter ao menos duas paredes de pé. Casa d'Aldeia é a minha casa. Seja bem vindo a ela!
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9 de nov. de 2008

RASIF, O MAR QUE ARREBENTA

UMA VEZ, ENCARVOADO POR TEUS CONTOS NEGREIROS, EU TE DISSE: - Segue teu canto Marcelino. Impregnado de teus Contos Negreiros eu não senti que vertia meu sangue. Era como se cortassem artéria por artéria. Era como se gritassem um brado guerreiro, um brado cavalariano, desesperado, de quem sabe estar pra morrer. E morrer, não pode ser nada além de aquietar-se... Mas, as idéias ficam, morrem os homens. As idéias dão cria. Deliciosas, perniciosas, fermentam bacilos em profusão. Idéias infectam.
Agora tenho às mãos RASIF, teu canto mais recente. Igual sucedeu aos Contos Negreiros já adiantei-me a musicar tuas palavras. Musicar não. Quedar-me solito, quieto a ouvir as melodias manando delas.
Hão de me abrir o peito essas canções. Chegar às gentes, praças, tabacarias, supermercados. Tal cigarra as cantarei até morrer exausto por crer na sinceridade delas. Por crer no amor. Único motivo plausível; o amor ao próximo. Amor e compaixão pela humanidade humana. Rasteira. Desordeira. Pedinte. Mendicante de tudo. Afeita ao préstimo, ao roubo, ao logro, ao embuste, ao golpe, ao faz favor. Humanidade imutável no correr dos séculos de incivilização. Humanidade imune às mensagens do Cristo, de Buda, de Confúcio e Oxalá. Humanidade vizinha de minha taba. Revirando-se no lixo da cultura yanque. Vivendo de resto se lhes atirado a cara diuturnamente por uma imprensa pelega, vendida e vendilhona. Humanidade escorchada, oprimida, nas vilas, filas, fazendas, fábricas, favelas, trapiches. Humanidade escrava de sua própria história obscura. História plena em injustiça. Crueldade. Velhacaria. Corrupção.
Há de rebentar-se esse peito como fôra a quebra de um vagalhão explodindo sobre os molhes da barra portuária. Varrendo terra adentro toda a imundície. Varrendo, sem dó, toda sujidade "clean", produzida pela parte desumana da humanidade. A parte responsável pelo estado de desaforos no qual se encontra o mundo. Marcelino, meu irmão, cantemos juntos essas canções de amor e esperança.

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